A Tarde
07/08/2009
Ranulfo Bocayuva*
Não se pode negar o direito do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, de reforçar suas relações estratégicas com Washington em nome da soberania nacional e da guerra contra narcotraficantes e guerrilheiros armados, que estariam ainda contando com apoio logístico de Caracas, ou seja, do presidente-general Hugo Chávez. Além disso, a aproximação militar do líder bolivariano com Irã e Rússia preocupa, evidentemente, os EUA, que temem a escalada armamentista na região, fortalecendo assim a aliança antiamericana.
A União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em maio de 2008 e destinada a aprofundar a integração política e econômica de 12 países da região, também teria como objetivo resolver disputas entre seus integrantes, como a que se desenrola entre Colômbia e Venezuela. Mas Uribe rejeitou esta intenção e preferiu se encontrar diretamente com líderes da região. Aliás, a Unasul deve priorizar o combate contra o tráfico e a guerrilha.
É compreensível a nova preocupação latino-americana, principalmente da Venezuela, Bolívia, Equador e Brasil, em relação à ampliação de bases militares americanas em território colombiano para combater os narcotraficantes e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em consequência ao plano firmado entre os dois países, em 2002. Na verdade, este temor se justifica claramente com base na longa e traumática história de intervenções militares americanas na América Latina, incluindo a desastrada invasão da Baía dos Porcos (Cuba, 1961) e apoio aos golpes contra João Goulart (Brasil, 1964), Salvador Allende (Chile, 1973) e a tentativa fracassada contra Hugo Chávez (Venezuela, 2002).
Entende-se que o presidente Barack Obama está propondo nova forma de cooperação econômica e política num mundo que não se divide mais simplesmente entre esquerda e direita, mas que busca a construção de ordem internacional capaz de combater pobreza, tráfico de drogas e terrorismo.
Dois fatos (amplamente divulgados pela imprensa internacional) sustentam a tese de que Chávez e também Rafael Correa (do Equador) apoiaram as Farc com dinheiro e armas: segundo reportagens do “New York Times” e da revista colombiana “Cambio”, lança-foguetes AT-4, produzidos na Suécia, teriam sido encontrados com guerrilheiros colombianos, como também foram identificados registros de comunicação e contatos entre militares venezuelanos e equatorianos com líderes das Farc, incluindo Raúl Reyes, morto em março de 2008, num bombardeio colombiano em território equatoriano.
Mesmo que estes fatos não estejam comprovados, os indícios são fortes e não podem ser ignorados pela Colômbia, que luta, por um lado, contra os poderosos cartéis de cocaína e, por outro, contra as Farc, constituídas em 1964 como grupo marxista-leninista de inspiração bolivariana e que ocupam, hoje, entre 15% e 20% do sudeste e base dos Andes no território colombiano. E luta ainda contra estes dois grupos juntos.
O que se verifica no quadro geopolítico regional é a busca incessante de liderança por parte de Chávez, enfraquecido pela queda brutal das cotações de petróleo, principal fonte de renda de sua economia. O que mais assusta, talvez, seja o governo brasileiro, ora se omitindo de criticar a Venezuela por cercear a liberdade de informação e imprensa após o fechamento de 34 emissoras de rádio, ora aceitando medidas negociadas com o Paraguai, como o aumento de pagamento das tarifas decorrentes da produção de energia elétrica de Itaipu, como se estivesse se curvando às exigências externas sem defender a soberania nacional.
O jogo de Chávez, por mais dignas que sejam suas intenções em defesa dos interesses dos venezuelanos mais desfavorecidos, não pode se tornar um exemplo a ser seguido por países, como o Brasil, que desponta neste século como uma das mais promissoras economias. Já bastam Equador e Bolívia que trilham o mesmo caminho autoritário, apesar da suposta defesa das populações indígenas longamente reprimidas.
Mas para isso, Brasília deve manter sua posição de liderança regional, afastando-se de aliados incômodos e oriundos, diga-se de passagem, de classe militar golpista, como Chávez, e de políticos com fortes suspeitas de falta de decoro parlamentar e tráfico de influência. O apoio dos EUA à Colômbia equilibra o jogo de poder regional.
*Ranulfo Bocayuva é jornalista e diretor-executivo do Grupo A TARDE
Não se pode negar o direito do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, de reforçar suas relações estratégicas com Washington em nome da soberania nacional e da guerra contra narcotraficantes e guerrilheiros armados, que estariam ainda contando com apoio logístico de Caracas, ou seja, do presidente-general Hugo Chávez. Além disso, a aproximação militar do líder bolivariano com Irã e Rússia preocupa, evidentemente, os EUA, que temem a escalada armamentista na região, fortalecendo assim a aliança antiamericana.
A União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em maio de 2008 e destinada a aprofundar a integração política e econômica de 12 países da região, também teria como objetivo resolver disputas entre seus integrantes, como a que se desenrola entre Colômbia e Venezuela. Mas Uribe rejeitou esta intenção e preferiu se encontrar diretamente com líderes da região. Aliás, a Unasul deve priorizar o combate contra o tráfico e a guerrilha.
É compreensível a nova preocupação latino-americana, principalmente da Venezuela, Bolívia, Equador e Brasil, em relação à ampliação de bases militares americanas em território colombiano para combater os narcotraficantes e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em consequência ao plano firmado entre os dois países, em 2002. Na verdade, este temor se justifica claramente com base na longa e traumática história de intervenções militares americanas na América Latina, incluindo a desastrada invasão da Baía dos Porcos (Cuba, 1961) e apoio aos golpes contra João Goulart (Brasil, 1964), Salvador Allende (Chile, 1973) e a tentativa fracassada contra Hugo Chávez (Venezuela, 2002).
Entende-se que o presidente Barack Obama está propondo nova forma de cooperação econômica e política num mundo que não se divide mais simplesmente entre esquerda e direita, mas que busca a construção de ordem internacional capaz de combater pobreza, tráfico de drogas e terrorismo.
Dois fatos (amplamente divulgados pela imprensa internacional) sustentam a tese de que Chávez e também Rafael Correa (do Equador) apoiaram as Farc com dinheiro e armas: segundo reportagens do “New York Times” e da revista colombiana “Cambio”, lança-foguetes AT-4, produzidos na Suécia, teriam sido encontrados com guerrilheiros colombianos, como também foram identificados registros de comunicação e contatos entre militares venezuelanos e equatorianos com líderes das Farc, incluindo Raúl Reyes, morto em março de 2008, num bombardeio colombiano em território equatoriano.
Mesmo que estes fatos não estejam comprovados, os indícios são fortes e não podem ser ignorados pela Colômbia, que luta, por um lado, contra os poderosos cartéis de cocaína e, por outro, contra as Farc, constituídas em 1964 como grupo marxista-leninista de inspiração bolivariana e que ocupam, hoje, entre 15% e 20% do sudeste e base dos Andes no território colombiano. E luta ainda contra estes dois grupos juntos.
O que se verifica no quadro geopolítico regional é a busca incessante de liderança por parte de Chávez, enfraquecido pela queda brutal das cotações de petróleo, principal fonte de renda de sua economia. O que mais assusta, talvez, seja o governo brasileiro, ora se omitindo de criticar a Venezuela por cercear a liberdade de informação e imprensa após o fechamento de 34 emissoras de rádio, ora aceitando medidas negociadas com o Paraguai, como o aumento de pagamento das tarifas decorrentes da produção de energia elétrica de Itaipu, como se estivesse se curvando às exigências externas sem defender a soberania nacional.
O jogo de Chávez, por mais dignas que sejam suas intenções em defesa dos interesses dos venezuelanos mais desfavorecidos, não pode se tornar um exemplo a ser seguido por países, como o Brasil, que desponta neste século como uma das mais promissoras economias. Já bastam Equador e Bolívia que trilham o mesmo caminho autoritário, apesar da suposta defesa das populações indígenas longamente reprimidas.
Mas para isso, Brasília deve manter sua posição de liderança regional, afastando-se de aliados incômodos e oriundos, diga-se de passagem, de classe militar golpista, como Chávez, e de políticos com fortes suspeitas de falta de decoro parlamentar e tráfico de influência. O apoio dos EUA à Colômbia equilibra o jogo de poder regional.
*Ranulfo Bocayuva é jornalista e diretor-executivo do Grupo A TARDE
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