O Globo
12/08/2009
Líder opositora em Mianmar é condenada a mais 18 meses e não poderá disputar eleições
RANGUM. Uma corte de Mianmar condenou ontem a líder da oposição e vencedora do Nobel da Paz (1991) Aung San Suu Kyi a 18 meses de prisão domiciliar, numa decisão que a impedirá de disputar as eleições parlamentares marcadas para o ano que vem. A nova condenação da política de 64 anos — que passou 14 dos últimos 20 anos presa no país governado por uma junta militar e se tornou símbolo internacional da resistência pacífica — gerou uma onda de revolta no mundo. O Conselho de Segurança da ONU marcou para hoje uma reunião urgente para discutir a sentença.
Suu Kyi foi condenada por ter permitido a permanência de um americano em sua casa por cerca de 48 horas no início de maio, poucos dias antes de terminar o prazo de sua sentença de prisão domiciliar. Num caso ainda considerado misterioso, o americano, John Yettaw, entrou na casa de Suu Kyi depois de atravessar a nado o lago à frente da residência dizendo que tinha tido um sonho premonitório de que ela seria assassinada por terroristas.
A política concordou com a permanência dele, que seria asmático e epilético, para repousar da travessia.
Yettaw, de 53 anos, foi condenado a sete anos de prisão e a trabalhos forçados por violar os temos da prisão domiciliar da líder e leis de imigração.
Obama, Ban Ki-moon, Brown e Sarkozy protestam Num momento de suspense, a líder da oposição chegou a ser condenada a três anos de trabalhos forçados. Mas, pouco depois, no que pareceu ser um gesto de conciliação, a sentença foi reduzida e Suu Kyi foi liberada da prisão em que passou os últimos três meses, período do julgamento, para cumprir a pena em casa.
Grupos de direitos humanos e uma série de países condenaram a decisão e pediram a libertação dela e de outros 2.100 presos políticos em Mianmar.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que a credibilidade das eleições do ano que vem seria posta em dúvida caso Suu Kyi não fosse libertada. Para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a condenação viola “os princípios universais dos direitos humanos”.
— Ela não deveria ter sido julgada, não deveria ter sido condenada — disse a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, defendendo que o governo militar inicie imediatamente o diálogo com a oposição.
— Do contrário as eleições marcadas não terão absolutamente nenhuma legitimidade.
Eleições abrirão regime militar a civis O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, tachou a decisão de “monstruosa” e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, de “brutal” e “injusta”.
As eleições marcadas para o ano que vem serão as primeiras a botar um rosto civil na junta militar que governa Mianmar, antiga Birmânia, desde um golpe em 1962 — embora ainda garantindo poder predominante aos militares no governo.
Para os generais, a eleição substituiria o pleito de 1990 que eles anularam quando o partido de Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia, ganhou mais de 80% dos assentos. Muitos dos candidatos vitoriosos foram presos desde então.
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