quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Analista chinês propõe apoiar divisão da Índia

Valor Econômico

13/08/2009

James Lamont e Kathrin Hille, Financial Times, de Nova Déli e Pequim

Acadêmicos indianos estão em pé de guerra devido ao que consideram uma provocativa incitação ao colapso do país formulada por um analista chinês.

"A China pode desmembrar a denominada ´União Indiana´ com uma pequena iniciativa", afirma o ensaio postado na semana passada no China International Strategy Net, um website patriótico chinês focado em assuntos estratégicos.

O autor, sob o pseudônimo Zhanlue (que significa estratégia, em chinês), argumenta que o senso de unidade nacional indiano é frágil e que a melhor opção para Pequim eliminar um rival em ascensão e uma ameaça à sua segurança seria apoiar forças separatistas, como as existentes na região de Assam, para produzir um colapso do Estado federal indiano.

"Não pode haver dois sóis no céu", escreveu Zhanlue. "A China e a Índia não podem realmente relacionar-se harmoniosamente uma com a outra." O artigo sugeriu que a Índia deveria ser dividida em 20 a 30 Estados soberanos.

Foi tão grande a onda de indignação em face do artigo que o governo indiano divulgou uma declaração tranquilizando o país, no sentido de que as relações com a China estão calmas.

"O artigo em questão parece ser uma expressão de opinião individual e não reflete a posição oficialmente declarada pela China sobre as relações Índia-China, a nós exposta em diversas ocasiões, inclusive ao nível mais elevado, mais recentemente por Dai Bingguo, conselheiro do Estado, durante sua visita à Índia na semana passada", afirmou numa declaração oficial o Ministério de Relações Exteriores indiano, em Nova Déli, referindo-se a empenho mútuo de respeito à integridade e soberania territoriais.

A publicação do artigo coincidiu com negociações entre Pequim e Nova Déli a respeito de áreas de fronteira disputadas no Himalaia. Neste ano, a China suspendeu o envio de fundos para um projeto do Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA) em Arunachal Pradesh, um Estado indiano que a China afirma ser o "Tibete meridional". A Índia também proibiu algumas importações da China, como medida para tentar proteger sua economia do desaquecimento econômico mundial.

Autoridades em Pequim e Nova Déli abraçam visões rivais do futuro, em que cada lado se vê no rumo de um modelo de desenvolvimento político e social mais duradouro. A premissa, em Nova Déli, é que o Estado chinês unificado, governado por um só partido, tende a se desagregar.

DS Rajan, diretor do Centro Chennai para Estudos sobre a China, chamou a atenção de seus compatriotas para o ensaio do analista chinês. "De modo geral, considera-se que a China está falando com duas vozes", disse ele. "Seus interlocutores diplomáticos sempre revelaram entendimento, durante o relacionamentos com seus contrapartes indianos, mas uma mídia específica está despejando veneno sobre a Índia em seus artigos."

A China International Strategy Net é dirigida por Kang Lingyi, que participou de ataques de hackers contra websites do governo americano em 1999, depois do bombardeio americano contra a embaixada chinesa em Belgrado. Sites como o de Lingyi fazem parte da estratégia do Partido Comunista chinês de permitir que o nacionalismo cresça, para fortalecer sua legitimidade política.

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