O Globo
27/08/2009
Janaína Figueiredo, Correspondente
Às vésperas da reunião de cúpula da Unasul, embaixador do governo Uribe apresenta queixa contra a Venezuela à OEA
BUENOS AIRES. Às vésperas de uma nova cúpula de presidentes da União de Nações SulAmericanas (Unasul), os governos da Colômbia e Venezuela protagonizaram um novo conflito no âmbito da Organização de Estados Americanos (OEA), um dia depois de o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ter afirmado que seu país está se preparando para romper relações com o governo de Álvaro Uribe. O líder venezuelano assegurou que o acordo entre a Colômbia e os Estados Unidos, que permitirá aos americanos utilizar sete bases militares colombianas, representa uma declaração de guerra para seu país.
Recentes declarações hostis de Chávez foram interpretadas como uma ingerência em assuntos internos da Colômbia, o que levou o governo Uribe a apresentar uma queixa ontem, no Conselho Permanente da OEA. O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Jaime Bermúdez, acusou a Venezuela de pretender “expandir seu projeto” a outros países da região.
— Esperamos que o presidente Chávez use suas capacidades e talentos para construir coletivamente no continente, sem semear mais ódio e respeitando as diferenças, não intervindo em assuntos internos da Colômbia — afirmou o embaixador colombiano na OEA, Luis Hoyos.
Amanhã, os 12 presidentes da Unasul se reunirão no luxuoso Hotel Llao Llao, da cidade argentina de Bariloche, para tentar contornar a crise desencadeada pelo entendimento entre a Colômbia e os EUA.
Além da Venezuela, a iniciativa foi considerada perigosa pelos governos do Brasil, Equador, Bolívia e Argentina. Os presidentes do Uruguai e Chile foram mais cautelosos e manifestaram seu respeito à soberania colombiana.
Longe de cogitar a possibilidade de um recuo de seu governo, o presidente Uribe deixou claro que o acordo com os EUA está mais firme do que nunca e antecipou sua intenção de pedir aos demais governos da região que expliquem em Bariloche seus respectivos entendimentos militares com outros países. O presidente colombiano insistirá, especialmente, em atacar a parceria da Venezuela com Rússia e Irã.
— O acordo com os EUA é o que falta ao Plano Colômbia para derrotar o narcotráfico e o terrorismo — enfatizou Uribe.
Enviado americano visita o Uruguai Embora tenha descartado a possibilidade de participar do encontro presidencial sulamericano, o governo do presidente Barack Obama decidiu enviar o subsecretário adjunto de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental a Montevidéu e Buenos Aires, dois dias antes da cúpula da Unasul.
Ontem, Christopher J. McMullen chegou à capital uruguaia para reunir-se com autoridades do governo Tabaré Vázquez, segundo informaram meios de comunicação locais.
O funcionário do governo Obama passaria hoje pela capital argentina, onde seria recebido pelo chefe de gabinete, Aníbal Fernández. A posição da Casa Branca foi confirmada semana passada pela secretária de Estado, Hillary Clinton: — Trata-se de um acordo bilateral, com um claro reconhecimento da soberania e integridade territorial (da Colômbia).
No entanto, o governo chavista insiste em considerar o entendimento uma ameaça à segurança regional.
— Preparem-se, porque a burguesia colombiana nos odeia e não existe possibilidade de retorno — afirmou Chávez, que acusou a Colômbia de ter se transformado em “narco-Estado” e “base militar ianque”.
Domingo passado, em seu programa de TV “Alô Presidente”, Chávez dissera estar disposto a fazer tudo o que fosse necessário para que suas palavras chegassem ao povo colombiano.
— A oligarquia de lá (da Colômbia) tem medo de nossa mensagem. Mas nossa palavra deve chegar aos colombianos, porque querem nos associar com a guerrilha e nós não temos acordos com a guerrilha, muito menos com o narcotráfico — disse Chávez.
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