segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cuba quer laços com EUA, mas sem deixar o socialismo

O Estado de S. Paulo

03/08/2009

AFP, AP e Reuters
O presidente cubano, Raúl Castro, afirmou que não vai mudar o sistema comunista da ilha para reatar relações com os EUA, mas deixou claro que está disposto a discutir todos os problemas com o governo americano.
Durante um discurso na Assembleia Nacional Cubana, no sábado à noite, Raúl afirmou que os EUA sob o comando de Barack Obama são menos agressivos em relação à Cuba, mas criticou secretária de Estado Hillary Clinton por ter dito que Washington esperava que Havana realizasse mudanças para que os laços fossem restabelecidos.
"Tenho de dizer, com todo o respeito à senhora Clinton: não me elegeram presidente para restaurar o capitalismo em Cuba e nem para desistir da revolução. Fui eleito para defender, manter e dar continuidade ao socialismo, não para destruí-lo", disse, arrancando aplausos dos políticos que estavam no local. "Estamos prontos para conversar sobre qualquer assunto, mas não vamos negociar nosso sistema político e social."
Defensor da retomada do diálogo com Cuba, Obama já aliviou o embargo contra a ilha, que já dura 47 anos, ao permitir que cubano-americanos viajem e enviem dinheiro para a ilha. Washington também voltou a discutir com Havana questões sobre imigração - suspensas durante o governo do presidente George W. Bush.
No entanto, Obama e Hillary já afirmaram que novas melhorias na relação entre os dois países só seriam feitas após Havana avançar em questões como direitos humanos e política para presos.
"É verdade que estamos presenciando uma redução no nível de agressão e na retórica anti-Cuba no governo americano", disse Raúl para, em seguida, lembrar que o embargo de 47 anos contra seu país continua em vigor.

CORTES DE GASTOS
Além de tratar da relação com os EUA, Raúl também usou seu discurso para dar péssimas notícias econômicas. Por causa da crise - a pior desde 1990 - seu governo cortou gastos em educação e saúde. Para isso, o sistema de escolas rurais será revisto e outras medidas serão tomadas para economizar no sistema de saúde.
Raúl também lembrou que as exportações de produtos essenciais para Cuba, como o níquel, caíram significantemente este ano e afirmou que o turismo enfrenta um paradoxo, com um aumento no número de visitantes, mas também com uma receita menor.
Entre os planos para 2010 anunciados por Raúl estão balancear os pagamentos de funcionários sem criar déficits e priorizar a produção de bens e serviços no país para atrair moeda forte.
Raúl também fez uma menção pouco comum sobre o futuro de Cuba sem seu irmão Fidel - algo que funcionários do governo raramente fazem -, ao ironizar "os que pensam que o sistema político cubano vai entrar em colapso após a morte de Fidel". "Se é assim que eles pensam, estão fadados ao fracasso", disse. Fidel tem 82 anos e está afastado do governo desde que foi operado do intestino, há três anos.
O ministro da Economia e Planejamento Marino Murillo Jorge, afirmou, em entrevista ao jornal Granma, que haverá mais descentralização na área econômica. A maior reforma de Raúl desde que assumiu o poder foi descentralizar as decisões sobre a agricultura. Ele também alterou o sistema de pagamento de salário, para incentivar os cubanos a trabalhar mais.

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