segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Crise e integração

O Globo

03/08/2009

Wilhelm Hofmeister

Os guindastes da construção são o símbolo de Cingapura e até aos domingos levantam-se as peças para novos escritórios e condomínios.

Dia a dia a multidão passa pelos shoppings de grifes internacionais: onde está então a crise que passa pelo mundo? A Ásia enfrenta e não lamenta a crise. A autoconfiança e O otimismo marcam as atitudes, pois parecem saber que sairão fortalecidos da crise, com maior participação na economia global e influência política. Mas no Sudeste Asiático a crise é sentida pela redução das exportações, dos investimentos e das transferências dos trabalhadores emigrantes, com impacto em países como Filipinas e Vietnam: o desemprego e a informalidade aumentaram e o Banco do Desenvolvimento Asiático estima que aproximadamente 60 milhões de pessoas estão abaixo da linha de pobreza.

Aqui, muita gente pensa que está sofrendo as consequências de uma crise que vem de longe e discutem como reduzir a dependência do Ocidente e assumir mais responsabilidade a nível internacional, com o instrumento da integração.

O projeto mais avançado de integração é o que junta a Asean com os dez países membros, que somam 600 milhões de pessoas — pouco mais do que toda a América Latina. Com a crise de 97 começaram os planos para criar a Comunidade Econômica, Política e de Segurança e até 2015, a nova Comunidade Asean deve estar lançada.

Mas o processo é gradual e em 2008 foi aprovado a Carta Asean: pela primeira vez, democracia e respeito aos direitos humanos foram indicados como normas para todos os Estados membros. Mas há ainda crítica sobre o princípio de intervenção nos assuntos internos, bem como sobre o procedimento de consenso e unanimidade nos processos de decisão. O regime militar em Myanmar, membro da Asean, passa a ser criticado pelos vizinhos quando reprime a oposição violentamente. O perfil da Comunidade Econômica ainda é nebuloso: “À Asean nunca lhe faltaram grandes declarações e iniciativas, mas sua implementação sempre é muito medíocre”, é o que comenta Yeo Lay Hwee, do Instituto Regional Iseas, Cingapura, sobre esse processo.

Em Cingapura, centro dinâmico do Sudeste Asiático, percebe-se a relevância da região, mas o peso real será alcançado através da cooperação entre os vizinhos e o aperfeiçoamento da integração regional será um instrumento adequado para fortalecer os interesses comuns. Na Ásia e em especial, no Sudeste Asiático, traduzir boas intenções em decisões políticas concretas é um processo difícil e que está a meio do caminho.

Wilhelm Hofmeister é diretor do Centro de Estudos da Fundação Konrad Adenauer em Cingapura

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