quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Venezuelanos rejeitam cerco à imprensa

O Estado de S. Paulo

06/08/2009

João Paulo Charleaux

Para 56%,Chávez adota censura para ocultar seus erros

Uma pesquisa feita no primeiro semestree divulgada ontem pelo jornal venezuelano El Universal mostra que 56% dos venezuelanos acreditam que a perseguição à imprensa busca “ocultar os erros” de do presidente Hugo
Chávez no poder.
O resultado revela que o fechamento da emissora RCTV e as ameaças contra outras 206 emissoras de rádio,além das pesadas multas impostas ao canal
oposicionista Globovisión provocaram não apenas críticas internacionais,
mas também uma forte rejeição interno.
Apenas 28% dos venezuelanos apoiam o fechamento da Globovisión e 60% pedem que
os jornalistas tenham mais liberdade.
Mas a pesquisa também revela que a Venezuela é um país partido ao meio –52%dos venezuelanos desaprovam o governo de Chávez.
Para 51%, ele está se transformando num ditador.
As críticas internas e externas ao governo por restringir a liberdade de expressão fizeram o governo recuar na terça-feira de um projeto que previa até 4
anos de prisão para os chamados “delitos midiáticos”.
O deputado chavista Manuel Villalba declarou na terça-feira que a proposta de prender jornalistas que difundam “informações que afetem a saúde mental” da população foram apenas “ideias ou contribuições apresentadas pela promotora” Luisa Ortega Díaz.
A declaração de Villalba contrasta com o que disse na semana passada a promotora ao apresentar seu projeto ao Congresso: “Tudo tem limite e há que se pôr um limite à liberdade de expressão. A segurança nacional deve prevalecer sobre a liberdade de expressão.”
Oprojeto previa pena de prisão para quem divulgasse informação
“falsa”, “manipulada” ou“tergiversada”que causasse “prejuízo aos interesses do Estado”.
Ontem, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OEA) expressou sua “profunda preocupação” com as ameaças
à liberdade de expressão na Venezuela.
Em cart aenviada ao chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, o relator da comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, lembrou que a emissora de TV opositora Globovisión – atacada com bombas de gás na segundafeira por militantes chavistas – já havia sido declarada “objetivo militar” pelos mesmos grupos no passado.
Pinheiro disse ao Estado que “o governo venezuelano deve perceber que a livre circulação de informação não é sagrada apenas quando seu conteúdo lhe é favorável, mastambémquandotrazcríticas, inquietações e até quando chega a ser ofensiva” ao governo.
Carlos Correa especialista em direitos humanos e liberdade de expressão da Universidade Andrés Bello, em Caracas, disse que “nem todos os chavistas têm o mesmo grau de radicalidade. Para muitos, essa proposta vai longe demais.”Ele considera que“embora o presidente tenha recuado momentaneamente,um novo ataque à imprensa ocorrerá mais cedo ou mais tarde”.

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