Folha de São Paulo
13/05/2009
Hélio Schwartsman, da redação
Em tempos de Al Qaeda e Hamas, islamismo virou sinônimo de terrorismo. É até defensável a tese de que certos aspectos da escatologia muçulmana favorecem ideologias extremistas, que veem o assassinato de civis como missão divina. Mas basta examinar a guerra civil no Sri Lanka para perceber que o problema é mais geral. Se há um culpado pela violência interétnica, o melhor candidato ainda é a natureza humana.
De fato, a moderna "tecnologia" dos ataques suicidas -incluindo o cinto de explosivos e as temíveis mulheres-bombas- surgiu neste conflito que opõe um grupo de hinduístas seculares, os Tigres de Libertação do Tâmil Eelam (TLTE), a budistas, religião que, sabe-se lá por quê, consta do ideário ocidental como pacifista. Entre 80 e 100 mil já morreram desde o início da guerra, em 1983.
A disputa tem origens na administração colonial. Seguindo a máxima do "Divide et impera", os britânicos recrutavam a elite do funcionalismo no Sri Lanka -antigo Ceilão e ainda mais antiga Taprobana, para quem ainda lembra dos versos de Camões- entre a minoria tâmil (hoje 18% da população). Ensinavam-lhes inglês e davam-lhes os melhores empregos disponíveis.
Não foi portanto uma surpresa que, após a independência, em 1948, os budistas cingaleses (74%) buscassem compensações. Em 1956, o Parlamento tornou o cingalês a única língua oficial do país, afastando os tâmeis de cargos oficiais e universidades. A medida, embora revertida alguns anos depois, resultou em mudanças profundas na repartição do poder. Até 1955, os tâmeis constituíam a totalidade da administração. Na década de 70, o balanço estava completamente invertido.
O descontentamento tâmil materializou-se no surgimento de mais de 30 grupos de oposição, que iam desde bandos de jovens a exercer a chamada resistência pacífica até milícias armadas com graus variáveis de ferocidade. Os cingaleses, é claro, reagiram, promovendo massacres e toda sorte de violações a direitos humanos.
Em 1976, Velupillai Prabhakaran, um jovem "tigre" tâmil com leves tendências socialistas, fundou o TLTE, que ganhava proeminência à medida que se radicalizava. Financiado pela diáspora tâmil no Ocidente e pelos tâmeis da Índia, o grupo chegou a contar com uma "Marinha" e uma "Força Aérea".
Após o 11 de Setembro e uma série de fracassos nas negociações de paz, o dinheiro dos Tigres começou a minguar. O governo cingalês viu aí uma boa oportunidade de lançar o que imagina ser a ofensiva final.
Em tempos de Al Qaeda e Hamas, islamismo virou sinônimo de terrorismo. É até defensável a tese de que certos aspectos da escatologia muçulmana favorecem ideologias extremistas, que veem o assassinato de civis como missão divina. Mas basta examinar a guerra civil no Sri Lanka para perceber que o problema é mais geral. Se há um culpado pela violência interétnica, o melhor candidato ainda é a natureza humana.
De fato, a moderna "tecnologia" dos ataques suicidas -incluindo o cinto de explosivos e as temíveis mulheres-bombas- surgiu neste conflito que opõe um grupo de hinduístas seculares, os Tigres de Libertação do Tâmil Eelam (TLTE), a budistas, religião que, sabe-se lá por quê, consta do ideário ocidental como pacifista. Entre 80 e 100 mil já morreram desde o início da guerra, em 1983.
A disputa tem origens na administração colonial. Seguindo a máxima do "Divide et impera", os britânicos recrutavam a elite do funcionalismo no Sri Lanka -antigo Ceilão e ainda mais antiga Taprobana, para quem ainda lembra dos versos de Camões- entre a minoria tâmil (hoje 18% da população). Ensinavam-lhes inglês e davam-lhes os melhores empregos disponíveis.
Não foi portanto uma surpresa que, após a independência, em 1948, os budistas cingaleses (74%) buscassem compensações. Em 1956, o Parlamento tornou o cingalês a única língua oficial do país, afastando os tâmeis de cargos oficiais e universidades. A medida, embora revertida alguns anos depois, resultou em mudanças profundas na repartição do poder. Até 1955, os tâmeis constituíam a totalidade da administração. Na década de 70, o balanço estava completamente invertido.
O descontentamento tâmil materializou-se no surgimento de mais de 30 grupos de oposição, que iam desde bandos de jovens a exercer a chamada resistência pacífica até milícias armadas com graus variáveis de ferocidade. Os cingaleses, é claro, reagiram, promovendo massacres e toda sorte de violações a direitos humanos.
Em 1976, Velupillai Prabhakaran, um jovem "tigre" tâmil com leves tendências socialistas, fundou o TLTE, que ganhava proeminência à medida que se radicalizava. Financiado pela diáspora tâmil no Ocidente e pelos tâmeis da Índia, o grupo chegou a contar com uma "Marinha" e uma "Força Aérea".
Após o 11 de Setembro e uma série de fracassos nas negociações de paz, o dinheiro dos Tigres começou a minguar. O governo cingalês viu aí uma boa oportunidade de lançar o que imagina ser a ofensiva final.
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