sexta-feira, 8 de maio de 2009

O dínamo da integração regional

Gazeta Mercantil

08/05/2009
Marcelo Coutinho


8 de Maio de 2009 - Desde que foi criado, o Mercosul estabeleceu laços sem precedentes entre os países sul-americanos. A despeito dos altos e baixos decorrentes da variação de desempenho econômico dos seus países membros, o Mercado Comum do Sul consolidou-se como o principal dínamo da integração regional, gerando uma corrente virtuosa ao converter problemas em soluções conjuntas, através da indução dos seus líderes ao longo do tempo e dos diferentes governos. Mais do que sua capacidade de adaptação, ao completar 18 anos o Mercosul demonstra que é sempre possível construir uma nova realidade, mesmo partindo praticamente do nada, quando fazer isso significa atender aos anseios mais genuínos de autonomia, paz, democracia e desenvolvimento.

O Mercosul faz girar em torno de si um eixo do bem, como um ímã alternando pólos cuja oposição acaba por se transformar na energia necessária para nos mantermos cada vez mais unidos e dinâmicos em um mundo de enormes desafios. Como em um campo de atração, o bloco sul-americano sustenta seu magnetismo enquanto mantém-se em movimento. Sua natureza não é a da estática, mas a da física da vontade, onde dois e dois podem se transformar em cinco, ou mais, a depender da disposição do crescimento.

A crise econômica global prejudicou bastante o comércio entre os países do Mercosul. Em razão de algumas políticas legítimas de re-industrialização no continente, o protecionismo já vinha crescendo desde 2004. Mas agora as relações comerciais dentro do bloco sofreram um revés abrupto. As dificuldades na área econômica nos incentivam ainda mais a prosseguir com a agenda de institucionalização do Mercosul. Embora oportunidades tenham sido perdidas, precisamos continuar trabalhando para que pelo menos duas coisas aconteçam ainda este ano, e nas quais o Congresso e os partidos políticos brasileiros têm um papel primordial: estabelecer as regras eleitorais do Parlamento do Mercosul e ratificar a entrada da Venezuela.

Muito tem sido dito sobre o fator Hugo Chávez (presidente venezuelano). Seja como for, seus deslizes autoritários são mais um motivo para não vetarmos a inserção venezuelana no bloco, pois, assim, poderíamos estar condenando definitivamente o país vizinho à instabilidade. Em que pese todo o interesse econômico real do Brasil com a adesão, o mais importante é garantirmos que o dínamo que começamos a montar com a Argentina desde os primeiros protocolos dos anos oitenta continue a absorver os conflitos, a estabilizar a região e a constituir nela um espaço amplo de cidadania.

Dentro desse mesmo espírito, o recém-criado Parlasul precisa o quanto antes se conectar diretamente com a sociedade, de modo a desempenhar bem a sua função precípua de fortalecer a democracia e os direitos humanos no continente. Um bom regulamento para as nossas primeiras eleições parlamentares do Mercosul em 2010 pode ajudar a oferecer a representação política compatível com a comunidade regional a que aspiramos. Se o número de representantes brasileiros parece menor do que o adequado (37 cadeiras), ao menos podemos ainda caprichar nos escolhidos, identificando a lista de nomes reconhecidamente vinculados à questão integracionista.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 17)(Marcelo Coutinho - Coordenador do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) do IUPERJ.)

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