O Globo
05/05/2009
Deborah Berlinck e Marília Martins
O México protestou na ONU contra o que considera xenofobia e discriminação contra seus cidadãos, que são mantidos em isolamento forçado em países como a China, mesmo sem sintomas de gripe suína.
México denuncia discriminação
Governo diz que reação de alguns países, como a China, contra seus cidadãos é xenofobia
Deborah Berlinck e Marília Martins
Correspondentes • GENEBRA e NOVA YORK
No dia em que o número de casos confirmados da gripe suína ultrapassou 1.300 em todo o mundo, as reações internacionais à epidemia começaram a ameaçar as relações entre alguns países com o México, que ontem protestou na ONU contra o que considera ser xenofobia. O país enviou ontem um avião para retirar seus cidadãos que são mantidos em quarentena em diversas cidades chinesas — e a medida gerou uma reação chinesa, que mandou, por sua vez, um avião recolher chineses no México.
— Acho que é injusto, porque estamos sendo honestos e transparentes com o mundo, e alguns países e regiões estão tomando medidas repressivas e discriminatórias devido a ignorância e desinformação — disse o presidente mexicano, Felipe Calderón, ontem, ao anunciar que estava enviando um avião recolher os cidadãos de seu país em quarentena na China.
O caso chegou à ONU. Segundo o subsecretário de Assuntos Multilaterais e Direitos Humanos do México, Juan Gómez Robledo, o México está preocupado com o que considera violação dos direitos humanos de mexicanos, que estariam sendo submetidos a isolamento forçado.
— Não podemos viver num mundo de percepções que estão dando lugar a manifestações xenófobas, que afetam, inclusive, as relações entre os Estados — disse ontem Robledo, na sede da ONU. — Alguns Estados estão restringindo ou estudando restringir o fluxo de bens e pessoas vindas do México, apesar de não existir nenhuma justificação científica para isso.
A China mantém 71 mexicanos em quarentena, em diversas cidades do país, sendo que a imensa maioria deles não apresentou sintomas da doença.
Alguns estão em hotéis isolados, e um casal e seus três filhos chegaram a ser retirados de um hotel e levados para uma área isolada de um hospital.
A China retrucou, e anunciou que estava enviando um avião para o México para retirar cerca de 200 chineses.
Em nota, Pequim pede que o México reaja “de uma forma objetiva e calma à questão”. Ontem, a China anunciou também que um grupo de 25 estudantes e um professor da Universidade de Montreal foram colocados em quarentena no fim de semana.
O México também protestou contra os países que estão cancelando voos.
Argentina, Equador e Peru não estão permitindo que voos originados no México cheguem a seus territórios, e Cuba proibiu idas para lá.
Capital começa a voltar ao normal
Na noite de ontem, a Organização Mundial de Saúde registrava 1.315 casos em 21 países. A lista de mortes comprovadas também aumentou: agora são 26 — 25 deles no México.
O México decidiu ontem baixar o nível de alerta na capital, apostando que o pior já passou. Restaurantes e cafés poderão reabrir hoje, enquanto igrejas e museus abrirão quinta-feira, assim como o comércio. Várias escolas de nível médio e as universidades reabrirão quinta-feira. Já as escolas do nível fundamental voltarão a receber alunos semana que vem.
Em Nova York, a escola católica que apresentou os primeiros casos da nova gripe na cidade reabriu ontem, depois de uma semana fechada. Estudantes e professores foram recebidos na porta da St Francis Preparatory School pelo prefeito Michael Bloomberg e uma pequena multidão de jornalistas do mundo inteiro.
Também reabriram ontem três escolas no Brooklyn que tiveram estudantes contaminados, e apenas a Public School 177, no Queens, ainda está fechada, com previsão de reabertura para amanhã. A Public School 177 teve cinco casos confirmados.
Nos EUA, há 226 casos confirmados em 30 estados, incluindo a morte de um menino de 2 anos, no Texas.
*Com agências internacionais
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