domingo, 24 de maio de 2009

A nova doutrina militar americana

Folha de São Paulo de 24 de maio de 2009

Escolha consagra doutrina militar da contrainsurgência
Guerra irregular, com foco em operações especiais secretas, ganha força sob McChrystal

Novo comandante de tropas no Afeganistão acredita, como seu superior Petraeus, em "guerra sem fim" contra terroristas, diz especialista



O fato de um general que fez carreira em operações especiais secretas ter sido escolhido para comandar as forças dos EUA e seus aliados no Afeganistão consagra a chamada Doutrina Petraeus, que põe a contrainsurgência no cerne do pensamento militar dos EUA.
"Os altos oficiais especializados em conflitos não convencionais estão agora no leme", afirma o coronel reformado do Exército americano Andrew Bacevich, professor de relações internacionais da Universidade de Boston, sobre a nomeação de Stanley McChrystal.
Seria uma repetição do que aconteceu nos anos 60, durante a Guerra do Vietnã, depois que o presidente John Kennedy (1961-1963) pediu aos militares "uma estratégia completamente nova". A derrota acabou afastando os EUA de envolvimento direto em guerras de guerrilha. Nos anos 90, prevaleceu a Doutrina Powell (de Colin Powell, ex-chefe do Estado Maior americano), que preconizava ações breves e pouco frequentes, com "força total" dos armamentos convencionais, usados nos combates entre Exércitos.
A guerra irregular -aperfeiçoada pelo general David Petraeus, hoje chefe do Comando Central, quando servia no Iraque- já era o foco de documento político assinado pelo secretário da Defesa, Robert Gates, em agosto de 2008. Agora, foi incorporada ao Orçamento de 2010 proposto por ele.
O projeto ainda dedica o grosso dos gastos à preparação para conflitos entre Estados, mas Gates pediu mais verbas para aviões não tripulados, como os usados em bombardeios na fronteira afegã-paquistanesa e para lanchas rápidas de combate. Também quer aumentar as Forças Especiais.
Bacevich vê a perspectiva de "um, dois, muitos Iraques". "Petraeus e McChrystal aceitam a premissa de que uma guerra sem fim [contra grupos terroristas e outros inimigos dos EUA] é inevitável", diz.
O ex-marine Robert Haddick, colaborador do site de militares Small War Journal, se diz menos preocupado. Ele acha que o eleitorado americano cansou e "não vai apoiar mais aventuras militares desnecessárias". Para Haddick, as capacidades de contrainsurgência serão usadas no incremento das missões chamadas no jargão militar de "defesa estrangeira interna", em que os americanos treinam e assessoram soldados de países aliados.
David Rothkopf, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, diz que o futuro da doutrina dependerá dos resultados no Afeganistão. "Se funcionar lá, pode ser usada em outros lugares." (CA)

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