sábado, 31 de janeiro de 2009

Poder inteligente

O Globo

30/01/2009

O presidente Barack Obama começa a colher os frutos de sua opção pelo smart power (poder inteligente) nas relações internacionais, em contraposição ao hard power (poder da força) do governo Bush. O Talibã chamou de "passo positivo" a decisão de fechar em um ano a prisão de Guantánamo. O Irã impôs condições bizarras, mas pelo menos respondeu à disposição de Washington de negociar. A Rússia indicou a intenção de suspender o reposicionamento de mísseis em resposta à desaceleração do plano dos Estados Unidos de instalar um sistema antimísseis na Europa Oriental.
Um dos mais felizes exemplos do smart power foi a decisão de Obama de conceder à TV Al-Arabiya, de Dubai, sua primeira entrevista exclusiva na Casa Branca. A mensagem central - "os americanos não são inimigos dos muçulmanos" - foi muito bem recebida. George Mitchell, novo enviado ao Oriente Médio, teve a seguinte instrução do presidente antes de iniciar uma maratona diplomática de oito dias por Egito, Israel, Jordânia, Arábia Saudita, França e Grã-Bretanha: "Comece ouvindo, porque frequentemente os EUA começam dando ordens."
Obama tem agido de forma consistente com sua promessa de se afastar radicalmente de opções do governo anterior que arranharam as credenciais dos EUA como um país respeitador dos direitos humanos, amante da paz e cumpridor da lei. Um fato notável foi a guinada na política para o meio ambiente, procurando compensar a recusa dos últimos oito anos de entrar na luta para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, decisiva para o futuro da Humanidade.
O presidente americano demonstra não estar disposto a tolerar situações como a do Zimbábue, onde o ditador Mugabe usa todos os meios - inclusive matar o povo de fome - para se manter no poder, que ocupa desde 1980.
Entretanto, não há, nem poderia haver, sinal de trégua na luta contra o terrorismo. A retirada de tropas do Iraque se destina, em grande parte, a reforçar o contingente no Afeganistão, onde a Otan está perdendo a guerra contra o Talibã. Aliás, no primeiro dia do novo governo, mísseis americanos atingiram um reduto da al-Qaeda na fronteira Afeganistão/Paquistão. A mensagem é clara: a diplomacia vem em primeiro lugar, mas a opção militar não está descartada. Contudo, o recurso às armas parece estar condicionado a uma sólida base ética e humanitária na Casa Branca, que pretende atuar nesses casos, segundo o presidente, sempre em coordenação com a comunidade internacional. É um bom começo.

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