quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Guerra no frio

O Globo

07/01/2009

Rússia e Ucrânia brigam pelo preço do gás que a primeira fornece à segunda, e a Europa congela. Simples assim? Não. A disputa sobre preços, volumes e contratos mal esconde a "diplomacia das torneiras" posta em prática pelo Kremlin sempre que algo lhe desagrada na relação com o Ocidente. E a Europa? Bem, a Europa compra da Rússia, em média, 25% do gás que consome, e 80% dele passam pelo território da Ucrânia.

Por isso, disputas entre Moscou e Kiev, como em 2006 e agora, são péssimo negócio para os europeus, cada vez mais temerosos de terem caído nas mãos de um fornecedor não confiável, a Rússia, e ardiloso - o Kremlin de Putin. Este não engole o governo pró-ocidental ucraniano de Viktor Yushchenko, que assumiu após a Revolução Laranja, de 2004, com apoio do Ocidente. Também não tolera o namoro entre a Otan e Kiev.

Sempre que surge a chance, o Kremlin apela para sua "diplomacia das torneiras", cuja mensagem implícita é: não se metam na minha área de influência. E o resultado mais imediato é a interrupção aos europeus do fornecimento de gás via Ucrânia, vital diante das baixas temperaturas do inverno no Hemisfério Norte. A Alemanha, maior compradora do gás russo, já está ameaçada de desabastecimento. O fornecimento à Itália caiu em 80%, à Áustria em 90%. Turquia, Grécia, Polônia, Hungria, Romênia, Croácia, Bulgária, Eslováquia e Moldávia também têm problemas. Em pior situação está a Bórnia-Herzegovina, que sofreu corte total no suprimento e estaria ameaçada de uma catástrofe humanitária.

Além das questões políticas, problemas de mercado estariam por trás do endurecimento da Rússia, cujo orçamento nacional depende em 60% das exportações de petróleo e gás. Os preços em queda após a crise econômica mundial ameaçam as metas de restauração do poder russo, principalmente em sua antiga área de influência. Isto teria obrigado Moscou a exigir aumento no preço do gás vendido à Ucrânia, que está abaixo do pago pelos europeus. A elevação do risco pode levar os clientes a optar por diversificar seus suprimentos. E tornar viável o gasoduto Nabucco, que substituiria parte do gás russo por turco. O Kremlin joga, os europeus congelam.

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