O Estado de São Paulo
09/01/2009
Andrei Netto, Paris
Merkel e Sarkozy discutem propostas para reformular o sistema financeiro mundial, que serão levadas ao G-20
A chanceler alemã, Angela Merkel, propôs ontem, em Paris, com a anuência do governo francês, a criação do Conselho Econômico das Nações Unidas, um órgão com o mesmo status do Conselho de Segurança. A proposta seria completada por um documento "universal", a Declaração por uma Economia Racional de Longo Prazo, que nortearia a regulação dos mercados financeiros, das taxas de juros e das políticas monetárias de todo o mundo. O projeto é uma prévia da proposta que a União Europeia levará à reunião do G-20, marcada para 2 de abril, em Londres.
As proposições foram apresentadas durante seminário sobre a Nova Ordem Econômica Mundial promovido pelo Palácio do Eliseu, com a presença do presidente Nicolas Sarkozy. Até aqui criticados por não agirem em perfeita sintonia, Merkel e Sarkozy demonstraram perfeito entrosamento em torno do projeto de refundação do sistema financeiro.
Merkel tomou a frente, sugerindo a elaboração do Conselho Econômico, que seria abrigado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e Sarkozy completou, exigindo que países emergentes o integrem.
O objetivo do órgão não se limitaria a reorganizar a fiscalização do sistema bancário, dos fundos de investimentos, das agências de classificação de risco e dos paraísos fiscais, mas regulamentaria o que Merkel chamou de "fatores de instabilidade", entre os quais taxas de juros e políticas monetárias.
Para ilustrar suas ideias, a chanceler citou o exemplo do "desequilíbrio" criado pelo excedente monetário da China e pelo déficit dos Estados Unidos, que poderia ser combatido com um modelo global de taxas de juros e de gestão monetária. Esses detalhes seriam estabelecidos pela Declaração por uma Economia Racional de Longo Prazo, inspirada na Declaração dos Direitos Humanos.
Para Merkel, o objetivo central de todas as propostas é alterar o funcionamento do sistema financeiro internacional para evitar que turbulências semelhantes se repitam.
Formuladas em consenso entre os governos da Alemanha e da França - dois motores da zona euro -, as sugestões foram interpretadas como o embrião da proposta que a União Europeia levará à reunião de cúpula do G-20. Um sinal dessa intenção foi o alerta ao presidente Barack Obama e à nova administração americana. "Os Estados Unidos não podem impor sua vontade", disse Sarkozy, apoiado em seguida por Merkel: "No século 21, não haverá uma só nação que nos dirá o que é preciso pensar. Não aceitaremos o status quo, o imobilismo, o retorno do pensamento único".
ALEMANHA
O início de 2009 começa a tornar mais clara a crise na Europa. Uma das constatações dos analistas é de que a Alemanha será um dos países mais atingidos. Ontem, o Escritório de Estatísticas (Destatis) revelou que o excedente comercial - um dos pilares da economia do país - desabou de 16,4 bilhões para 9,7 bilhões de outubro a novembro de 2008.
"A Alemanha será o país que mais sofrerá a longo prazo", disse ao Estado o economista Sylvain Broyer, do banco Natixis. Na segunda-feira, o governo alemão deve anunciar um segundo plano de estímulo à economia, estimado em 80 bilhões. O primeiro, anunciado em novembro, previa 35 bilhões, com 12 bilhões em investimentos.
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