quarta-feira, 18 de março de 2009

Venezuela: "Vivemos em estado de sítio"/entrevista

Jornal do Brasil

18/03/2009

Marsílea Gombata
Entrevista | Leandro Area
Opositor denuncia militarização na vida política e social do país, onde "ditadura se impõe por meio das leis"

A tomada do porto de maior movimentação econômica da Venezuela – o Carabello, no Estado de Carabobo – pelo Exército, parte do projeto do presidente Hugo Chávez de ocupação militar de portos e aeroportos, é vista por alguns opositores como militarização de um processo ditatorial que se impõe por meio das leis. Em entrevista ao JB, Leandro Area, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Central da Venezuela, denuncia o estado de sítio permanente no socialismo do século 21, em que o militarismo se faz na vida política e também social.

Como avalia a ocupação dos portos pelo Exército?
O presidente Chávez, a partir de seu triunfo eleitoral em fevereiro, tem usado qualquer justificativa para agir de forma premeditada. Não é casualidade. Chávez acelerou a volta militar de seu projeto de socialismo do século 21 para o país. Vivemos em permanente estado de sítio, sob a obsessão de controlar tudo, típico de governos socialistas antíteses da democracia. Para se ter ideia, Chávez controla o petróleo, o Estado, o governo, os poderes públicos, os dólares, a emissão de passaportes, os negócios, as empresas privadas, as terras. E agora quer controlar não só portos e aeroportos, mas também rodovias e vias expressas. Está relacionado à sua sede de acabar com a capacidade administrativa que teriam governadores que são de oposição.

Como vê a justificativa dada para a medida?
Até o momento, não há nenhuma razão ou pretexto econômico que possa explicar a decisão do presidente. Simplesmente é de caráter político e anticonstitucional. Para os chavistas, é vantajoso ter em Chávez a figura controladora de tudo. Como disse o governador de Anzoátegui, Tarek William, que falou em nome de todos os governadores do PSUV, os portos serem administrados por outros é algo neoliberal, por isso para eles é racional que Chávez esteja no comando. Tudo o que o presidente faz é entre desculpas ‘democráticas’. Os governadores tratarão de ir ao Tribunal Supremo de Justiça para que se aplique uma medida cautelar contra o Executivo. A ditadura se impõe por meio de leis. Manda-se que a Assembleia mude as leis para se tomar o poder.

Por que os portos Cabello, Maracaibo e Porlamar foram os primeiros?
Porque dos mais importantes do país eram os que estavam nas mãos opositoras. Com aqueles controlados por chavistas, ele não se mete.

O anúncio de prender membros da oposição que se recusarem a aceitar a ordem é legítimo, tendo em vista que a ocupação está prevista na lei?
Essa repressão reflete sua incapacidade de diálogo e características de sua personalidade militar. Ele ordena tomar o porto, não tenta discutir ou consultar se convém ou não. Certamente, 50% do país são contra uma decisão totalitária. Há um processo de militarização crescente não apenas na vida política, mas também social, com policiamento em metrô, ônibus. Ao estilo cubano, revolucionário e castro-dependente.

Quais efeitos a medida terá sobre os rumos futuros do país?
A única voz democrática são alguns jornais e meios de comunicação. Porque, hoje, se Chávez decidiu, não há nenhuma discussão, seja na Assembleia Nacional ou Tribunal Supremo. Nenhum poder público vai questionar a ordem do presidente, estão todos controlados. Chávez hipnotiza, aterroriza e compra.

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