sábado, 28 de março de 2009

Guatemala abre arquivos da guerra civil

Folha de São Paulo

28/03/2009

Da Redação

Um dia após anúncio, mulher de procurador de Direitos Humanos é sequestrada; Anistia cobra proteção

A ONU e a ONG Anistia Internacional cobraram ontem a investigação imediata do sequestro e tortura da mulher do procurador de Direitos Humanos da Guatemala, Sergio Morales, ocorridos na quarta-feira. Na terça-feira, o país centro-americano havia anunciado a decisão de, sob a coordenação de Morales, abrir à consulta parte dos arquivos sobre a repressão durante a longa guerra civil (1960-1996).
Segundo o procurador, Gladys Monterroso foi rendida por homens com rostos cobertos, sedada e queimada com cigarro em partes do corpo. A mulher esteve com os criminosos por 12 horas e está hospitalizada desde anteontem.
Segundo a Anistia Internacional, o caso não é isolado. A ONG diz que vários funcionários da Procuradoria de Direitos Humanos (PDH) têm sido vítimas de "ataques e ameaças".
Após decreto do presidente Álvaro Colom (centrista) sobre o tema, a PDH permitiu o acesso a 12 milhões de documentos digitalizados entre os 80 milhões que fazem parte do arquivo da antiga Polícia Nacional. Durante o conflito civil, 200 mil pessoas foram mortas ou desapareceram.
A abertura dos arquivos foi uma demanda da Comissão de Esclarecimento Histórico, que investigou as violações desde o golpe de 1954, contra o governo nacionalista de Jacobo Arbenz, até o fim da guerra civil. A comissão concluiu, em 1999, que o Estado praticou genocídio contra os índios (83% das vítimas) e que o Exército e colaboradores foram responsáveis por 93% das violações.
O embaixador da Suíça no país, Jean Pierre Villard, ligou o sequestro à abertura dos arquivos: "É difícil não ver um laço".

Violência
Já o vice-presidente guatemalteco, Rafael Espada, não descartou hipóteses. "Pode ter vindo de qualquer lugar [a agressão]. Há interessados nessa situação de violência."
A capital, Cidade da Guatemala, viveu dias de tensão nesta semana por conta de cinco atentados contra ônibus urbanos que deixaram quatro mortos. O presidente Colom afirmou que o crime quer "desestabilizar" o governo.
Relatório do Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, divulgado nesta semana, contabilizou 6.244 mortes violentas no país em 2008 (48 mortes por 100 mil habitantes, uma das taxas mais altas do continente). Denunciou ainda a existência de grupos paraestatais dentro das forças de segurança.

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