Folha de São Paulo de 22 de março de 2009
Brasil busca alinhamento militar na América do Sul
Meta é aproveitar vácuo de influência dos EUA para redefinir segurança regional
Ideia exposta em conselho sul-americano visa reduzir conflitos entre vizinhos, integrar políticas de defesa e alavancar indústria bélica
O governo Lula trabalha para fixar os parâmetros de uma nova agenda de segurança regional e busca disseminar na Unasul (União de Nações Sul-Americanas) as diretrizes militares da Estratégia Nacional de Defesa -lançada em dezembro pelos ministros Nelson Jobim (Defesa) e Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos).
Há dois objetivos principais no esforço conjunto do Itamaraty e do Ministério da Defesa. O primeiro é consolidar uma doutrina comum que estimule a cooperação, integre as políticas de defesa e reduza possibilidades de conflitos bilaterais.
O segundo é criar padrões gerais de organização e engajamento das Forças Armadas sul-americanas que ajudem a alavancar a indústria bélica -sobretudo a brasileira-, a partir do consumo de materiais e serviços em grande escala.
O CDS (Conselho de Defesa Sul-Americano), órgão da Unasul inaugurado há duas semanas em reunião ministerial em Santiago (Chile), se tornou a plataforma para a exportação dos planos militares do Brasil.
No encontro, foi aprovado um plano de ações que prevê o inventário das capacidades militares, um sistema de informação sobre gastos do setor e a consolidação de uma doutrina militar comum.
Jobim entregou a todos os presentes cópias da END, ressaltando a diretriz de estímulo à integração para "fomentar a cooperação militar regional e as bases industriais de defesa". Em Brasília, também fez palestra a embaixadores.
A tática de convencimento contempla a possibilidade de que os países sul-americanos, unidos, se beneficiem de exportações para outros continentes.
Com o término da Guerra Fria e o subsequente desmantelamento do guarda-chuva ideológico, países em desenvolvimento perderam seus referenciais na área de defesa. Na América do Sul, Argentina e Chile começam a desenvolver novas doutrinas de engajamento, tendo como modelo o Brasil.
Assim, no Ministério da Defesa julga-se inevitável que o conjunto de princípios que regem as Forças Armadas brasileiras se torne o novo referencial para a região.
Da mesma forma, o Brasil deve guiar o processo de estruturação de uma nova agenda de segurança regional, aproveitando o vácuo de influência deixado pelos Estados Unidos. Mas sem repetir a controversa fórmula da imposição.
Para evitar suscetibilidades, a ordem de Jobim a seus assessores é enfatizar o viés colaborativo, harmonizando as expectativas de todos os países integrantes da Unasul.
Na reunião na capital chilena, o ministro brasileiro adotou um perfil discreto. Ouviu mais do que falou e reiterou que a aliança militar sul-americana não repetirá modelos clássicos, como o da Otan (aliança militar ocidental).
Em privado, Jobim agradeceu o apoio do Itamaraty, concedendo ao embaixador em Santiago, Mario Vilalva, a medalha de Grande-Oficial da Ordem do Mérito da Defesa. Chile e Colômbia, que no ano passado estavam resistentes ao CDS, se tornaram entusiastas.
Mercado
A perspectiva em relação ao mercado de defesa sul-americano se baseia no fato de que a região tem gasto cada vez mais em material bélico. Analistas garantem que a dinâmica de crescimento da última década deve se manter a médio prazo, apesar da atual crise financeira e da queda das commodities.
No ano passado, os 12 países sul-americanos aplicaram em defesa mais de US$ 50 bilhões (R$ 105 bilhões), dos quais cerca de 30% foram para investimentos novos e manutenção de bens e serviços -os 70% restantes foram consumidos por salários e pensões.
Segundo especialistas, US$ 15 bilhões (R$ 30 bilhões) é um orçamento satisfatório, uma vez orientada a compra em fornecedores locais.
Nesse contexto, o contingente de militares- que hoje ultrapassa 1 milhão- constitui mercado consumidor para um amplo leque de produtos, sejam uniformes, capacetes, coletes, botas, barracas de campanha e rações, além de pistolas, metralhadoras e armas em geral.
Na lógica da produção, ganha quem tem tradição de indústria de defesa, como Brasil e Argentina, que tendem a se beneficiar com linhas de produtos como sistemas de combate, defesa antiaérea e veículos.
domingo, 22 de março de 2009
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