segunda-feira, 9 de março de 2009

A lei da mordaça da ONU sobre o islamismo

Época

09/03/2009

A religião muçulmana geralmente faz muitas reivindicações para si mesma. Todas as religiões fazem isso, já que afirmam conhecer e ter a capacidade de interpretar os desejos de um ser supremo. Mas o islã se declara a última e definitiva revelação da palavra de Deus, a consumação de todos os meros vislumbres da verdade concedidos a todas as fés anteriores, disponível por meio do irretocável, imaculado texto da “recitação”, ou o Corão.

Se algumas vezes parece haver alguma coisa absolutista ou totalitária em tal afirmação, pode ser resultado não de uma leitura fundamentalista do livro sagrado, mas da própria religião. E são os chamados muçulmanos da linha predominante, reunidos na Organização da Conferência Islâmica, que estão exigindo, por meio do agenciamento das Nações Unidas, que o islã não só tenha permissão para fazer reivindicações absolutistas, mas que também fique oficialmente protegido contra qualquer crítica.

Apesar de escrita na linguagem dos direitos humanos e da oposição à discriminação, a resolução da ONU sobre o “Combate à difamação das religiões”, na verdade, visa dar “imunidade” a opiniões e ideias contra “ofensas”.

O caráter tendencioso da resolução é claro. O parágrafo 5 “expressa a preocupação profunda de que o islã é erroneamente associado a violações dos direitos humanos e ao terrorismo”. O parágrafo 6 “observa com preocupação profunda a intensificação da campanha de difamação das religiões e a identificação étnica e religiosa de minorias muçulmanas como consequência dos trágicos eventos do 11 de setembro de 2001”.

Está vendo qual é o truque? Nas mesmas semanas em que essa resolução está prestes a passar pela renovação anual nas Nações Unidas, o principal governo que a patrocina (o Paquistão) faz um acordo com o Taleban local para fechar escolas para meninas na região do Vale do Swat (a 160 quilômetros da capital, Islamabad) e sujeitar os habitantes à sharia, a lei islâmica.

Essa capitulação vem em resposta a uma campanha de violência e intimidação, incluindo decapitações públicas. Ainda assim a religião dos que levam a cabo essa campanha não pode ser mencionada, para evitar a “associação” da fé a violações dos direitos humanos ou ao terrorismo. No parágrafo 6, é feita uma tentativa óbvia de confundir etnia com filiação confessional. Essa insinuação (que descarta a criminalidade baseada na fé do 11 de setembro como sendo apenas “trágica”) é essencial para o esquema todo. Se religião e raça podem caminhar juntas, então a condenação que o racismo atrai pode ser furtivamente estendida também à religião. Isso é tosco, mas funciona. O termo islamofobia, vazio de significado, agora amplamente usado como uma arma de chantagem moral, é testemunha de seu sucesso.

Apenas para deixar claro, fobia é um medo ou aversão irracional e incontrolável. No entanto, alguns de nós podem explicar com relativa calma e lucidez porque achamos que “fé” é a virtude mais superestimada. (Não vá chamar-nos de “fóbico” a não ser que você queira que comecemos a choramingar que fomos “ofendidos”.)

Em vez de tentar colocar a própria casa em ordem ou confrontar outras questões graves como o assassinato em massa de muçulmanos xiitas por muçulmanos sunitas (e vice-versa), ou a profanação de locais sagrados muçulmanos por gângsteres muçulmanos, ou a discriminação contra muçulmanos ahmadis por outros muçulmanos, a resolução da ONU visa expandir toda a área de proibição de sua terra natal no mundo muçulmano para o coração da democracia pós-iluminista, em que ainda são os indivíduos quem tem os direitos, não as religiões. Veja para onde a linguagem do parágrafo 10 da resolução nos leva. Depois de defender brevemente e da boca para fora os direitos de liberdade de expressão, segue dizendo que “o exercício desses direitos acarreta deveres e responsabilidades especiais e podem, por isso, estar sujeito a limitações, como as garantidas por lei necessárias para o respeito aos direitos ou a reputações de outros, proteção da segurança nacional ou da ordem pública, saúde pública ou padrões morais e respeito pelas religiões e crenças”. O pensamento enterrado nessa prosa horrível e empolada é tão feio quanto a linguagem em que está expressa: cuidado com o que você diz, porque nossa intenção declarada é tornar crime opiniões que sejam diferentes da única fé verdadeira. Que ninguém diga que não foi avisado.

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