O Globo
18/03/2009
Merval Pereira
Presidente da Fundação Instituto Gramsci, em Roma, o historiador Giuseppe Vacca começa hoje pelo Rio uma série de conferências trazendo uma mensagem de renovação para a esquerda brasileira: "A democracia política é a dimensão moderna da luta para qualquer partido, burguês, operário, pequeno-burguês, socialista, liberal, católico etc", me disse ele, por e-mail, do México. Considerado um intelectual pós-comunista, Vacca defende suas ideias no livro "Por um novo reformismo", da Editora Contraponto, que será lançado nas palestras no Rio e em São Paulo, e terá contatos com líderes políticos do PSDB e do PT.
Perguntado se essa visão democrática permitiria interpretar que Lula no Brasil e Michelle Bachelet no Chile seriam exemplos de uma esquerda moderna, democrática, em contraponto aos "revolucionários" Chávez, na Venezuela, e Morales, na Bolívia, que usam instrumentos da democracia, como os plebiscitos, para reforçar o autoritarismo, Vacca disse que não tinha "conhecimentos suficientes nem autoridade para emitir juízos", mas fez uma declaração genérica sobre a esquerda na América Latina.
Para Giuseppe Vacca, "o que se mostra evidente para um observador europeu interessado é que há mais de dez anos está em curso, no seu todo, uma revolução democrática com características culturais e populares inéditas, um processo político impensável há 20 anos, que contribui para desenvolver um mundo multipolar e interdependente e para tentar novas soluções para a crise da globalização assimétrica e o término justamente inglório destes 30 anos de ciclo mundial neoconservador".
Para Vacca, socialismo e capitalismo não são antagônicos: o primeiro seria um modo de regulação, o segundo um modo de produção. Fica evidente nessa sua análise que o modelo chinês de "capitalismo do Estado" não seria uma solução, pois faltaria o elemento democrático. Mas o novo modelo ainda está para ser criado.
No livro, Vacca faz uma defesa incondicional do estado democrático de direito. A democracia, portanto, é um objetivo político a ser alcançado, e não apenas uma fase para a chegada ao socialismo.
Para ele, a classe operária não é "classe geral" ou "universal", e, portanto, não cabe mais a ideia da "ditadura do proletariado". Todas as classes são particulares, e universais só as regras do Estado democrático.
Vacca se coloca contra qualquer forma de ditadura, e diz que não é mais possível pensar-se em usar a máquina estatal para transformar a sociedade de modo autoritário.
Embora minoritária entre os marxistas, a tese da "revolução democrática" de Vacca se insere na tradição renovadora da política italiana.
Na definição da contracapa do livro, nele Vacca realiza "um notável esforço de crítica e superação do original legado do comunismo italiano, atualizando-o no sentido de um 'novo reformismo' inteiramente reconciliado com o pluralismo assegurado no Estado democrático de direito".
O livro de Giuseppe Vacca é considerado uma espécie de manifesto dos marxistas democráticos, palavras que dificilmente andam juntas.
Presidente da Fundação Instituto Gramsci, em Roma, o historiador Giuseppe Vacca começa hoje pelo Rio uma série de conferências trazendo uma mensagem de renovação para a esquerda brasileira: "A democracia política é a dimensão moderna da luta para qualquer partido, burguês, operário, pequeno-burguês, socialista, liberal, católico etc", me disse ele, por e-mail, do México. Considerado um intelectual pós-comunista, Vacca defende suas ideias no livro "Por um novo reformismo", da Editora Contraponto, que será lançado nas palestras no Rio e em São Paulo, e terá contatos com líderes políticos do PSDB e do PT.
Perguntado se essa visão democrática permitiria interpretar que Lula no Brasil e Michelle Bachelet no Chile seriam exemplos de uma esquerda moderna, democrática, em contraponto aos "revolucionários" Chávez, na Venezuela, e Morales, na Bolívia, que usam instrumentos da democracia, como os plebiscitos, para reforçar o autoritarismo, Vacca disse que não tinha "conhecimentos suficientes nem autoridade para emitir juízos", mas fez uma declaração genérica sobre a esquerda na América Latina.
Para Giuseppe Vacca, "o que se mostra evidente para um observador europeu interessado é que há mais de dez anos está em curso, no seu todo, uma revolução democrática com características culturais e populares inéditas, um processo político impensável há 20 anos, que contribui para desenvolver um mundo multipolar e interdependente e para tentar novas soluções para a crise da globalização assimétrica e o término justamente inglório destes 30 anos de ciclo mundial neoconservador".
Para Vacca, socialismo e capitalismo não são antagônicos: o primeiro seria um modo de regulação, o segundo um modo de produção. Fica evidente nessa sua análise que o modelo chinês de "capitalismo do Estado" não seria uma solução, pois faltaria o elemento democrático. Mas o novo modelo ainda está para ser criado.
No livro, Vacca faz uma defesa incondicional do estado democrático de direito. A democracia, portanto, é um objetivo político a ser alcançado, e não apenas uma fase para a chegada ao socialismo.
Para ele, a classe operária não é "classe geral" ou "universal", e, portanto, não cabe mais a ideia da "ditadura do proletariado". Todas as classes são particulares, e universais só as regras do Estado democrático.
Vacca se coloca contra qualquer forma de ditadura, e diz que não é mais possível pensar-se em usar a máquina estatal para transformar a sociedade de modo autoritário.
Embora minoritária entre os marxistas, a tese da "revolução democrática" de Vacca se insere na tradição renovadora da política italiana.
Na definição da contracapa do livro, nele Vacca realiza "um notável esforço de crítica e superação do original legado do comunismo italiano, atualizando-o no sentido de um 'novo reformismo' inteiramente reconciliado com o pluralismo assegurado no Estado democrático de direito".
O livro de Giuseppe Vacca é considerado uma espécie de manifesto dos marxistas democráticos, palavras que dificilmente andam juntas.
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