segunda-feira, 9 de março de 2009

Sudão: al-Bashir ameaça expulsar diplomatas

O Globo

09/03/2009

Com prisão decretada por tribunal internacional, presidente faz novo desafio ao visitar Darfur

EL-FASHER, Sudão. O presidente do Sudão, Omar al-Bashir, ameaçou ontem expulsar do país diplomatas, estrangeiros em missão de manutenção de paz e outros grupos de ajuda humanitária em sua primeira visita a Darfur depois de ter sido acusado por crimes de guerra e ter tido sua prisão decretada.
O Sudão já expulsou 13 das maiores ONGs que operavam em Darfur em resposta à decisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), anunciada na semana passada, de indiciá-lo.
Al-Bashir foi saudado por milhares de simpatizantes em El-Fasher, no norte de Darfur. Brandindo uma bengala, ele afirmou à multidão que novas expulsões poderiam ocorrer dentre os que se mostrassem dispostos a cooperar com o TPI.
- Aqueles que se respeitam serão respeitados. Não interfiram em coisas que não dizem respeito a vocês - discursou al-Bashir. - Não façam nada que prejudique a segurança e a estabilidade do país. Quem fizer isso não terá permissão para permanecer, seja uma organização voluntária, um enviado, uma missão diplomática ou uma força de segurança.
Diplomatas árabes, entre eles do Egito, da Jordânia e do Líbano, participaram do comício. Enviados ocidentais não acompanharam o presidente na viagem. Durante a cerimônia, representantes de uma empresa chinesa assinaram um contrato para a construção de uma estrada na região.
O Tribunal Penal Internacional acusa al-Bashir de liderar uma repressão aos rebeldes em Darfur que envolveu estupros, assassinatos e outras atrocidades cometidas contra civis. Cerca de 300 mil pessoas morreram e 2,7 milhões tiveram que abandonar suas casas desde o início do conflito, em 2003, de acordo com as Nações Unidas.
O comício de ontem em El-Fasher ocorreu numa área bem distante da região onde proliferam os campos de refugiados, onde milhares de pessoas buscaram abrigo depois dos ataques das milícias árabes apoiadas pelo governo. Al-Bashir nega as acusações e se recusa a negociar com o TPI.
- Digam a todos eles, ao promotor do TPI, aos membros da corte e a todos que apoiam esse tribunal que eles estão sob o meu sapato - afirmou ele, referindo-se ao fato de que, no mundo muçulmano, atingir alguém com um sapato é considerado um insulto grave.

Surtos de doenças infecciosas podem ocorrer

Al-Bashir acusou ainda os grupos de ajuda humanitária de roubarem parte do dinheiro destinado aos campos de Darfur e prometeu que o governo arcará com as despesas. Só não explicou como.
De acordo com as Nações Unidas, com a expulsão das ONGs, 1,1 milhão de pessoas ficarão sem comida, 1,5 milhão sem assistência médica e mais de um milhão sem água potável. Surtos de doenças infecciosas são uma grave ameaça e podem irromper a qualquer momento, alertou a ONU.

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