O Globo
10/03/2009
Relatório diz que país viola direitos humanos na luta contra terrorismo e o coloca ao lado de Paquistão e Indonésia
Fernando Duarte
LONDRES. Um relatório da ONU, divulgado ontem à noite pelo site do jornal britânico "The Guardian", acusa o governo do Reino Unido de agir de forma conivente com a tortura de suspeitos de terrorismo e de tentar acobertar abusos de direitos humanos em operações da guerra contra o terrorismo. Preparado por uma das principais autoridades da ONU em direitos humanos, o jurista finlandês Martin Scheinin, o documento de 32 páginas acusa Londres de participar de interrogatórios de prisioneiros submetidos a sessões de tortura no Paquistão e de ter enviado agentes de inteligência para a prisão de Guantánamo, além de facilitar a temida rede de transporte de suspeitos para presídios secretos onde mais abusos teriam ocorrido.
Scheinin colocará ainda mais pressão sobre as autoridades britânicas, que há meses enfrentam um intenso lobby formado por grupos de defesa dos direitos humanos e de parlamentares pedindo a abertura de um inquérito para investigar a atuação do serviços de inteligência do Reino Unido nos chamados "voos de entrega", que se tornaram prática comum na CIA durante os oito anos de governo de George W. Bush. No final de fevereiro, um ex-prisioneiro britânico em Guantánamo, Binyam Mohammed, acusara o MI5, uma das agências de espionagem do país, de ter participado das sessões em que foi torturado.
Além do Reino Unido, Canadá, Bósnia, Croácia, Geórgia, Indonésia, Macedônia, Paquistão e Quênia são citados no relatório da ONU como países que endossaram os abusos cometidos pelos EUA por meio do fornecimento de informações sobre suspeitos ou por capturas, o que Scheinin classificou como uma violação flagrante da legislação internacional. No documento, o finlandês ressalta ainda que apenas o apoio de outros países poderia possibilitar aos EUA montar sua rede de prisões invisíveis ao redor do mundo.
Governo britânico evita falar sobre o assunto
Scheinin também chamou a atenção para o que chamou de interferência excessiva dos serviços de inteligência nos direitos humanos e para a necessidade de maiores investigações sobre o papel dessas organizações na luta antiterror. Até o final da noite de ontem, o governo britânico não tinha se manifestado sobre o assunto, mas o porta-voz do Partido Liberal Democrata para assuntos internacionais, Edward Davey, deu o tom das críticas que os trabalhistas e o primeiro-ministro Gordon Brown vão receber nos próximos dias.
- Precisamos de uma investigação completa sobre o que está parecendo uma mistura de serviços de inteligência fora de controle com ministro fazendo acordos secretos de conivência com tortura. É um dia triste para o Reino Unido quando o país se vê junto do Paquistão e da Indonésia numa lista de cumplicidade com abusos de direitos humanos - afirmou Davey.
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