quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sobre a criação de uma autoridade econômica da zona do euro

Posta-se abaixo notícia do jornal Folha de São Paulo, publicada no dia 5 de novembro, sobre a criação pela União Européia de um órgão de fiscalização da economia.


UE rejeita nova "autoridade econômica"

Proposta francesa previa criação de um organismo econômico supranacional da União Européia para lidar com crise
Ministro alemão diz que "não pode haver suspeita" de que propostas francesas possam levar à criação de uma autoridade econômica

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A proposta francesa de estabelecer uma espécie de "governo econômico" europeu para coordenar a reação à crise foi recebida com frieza no encontro de ministros das Finanças da União Européia. A idéia faz parte do pacote de medidas elaborado pela França, que atualmente exerce a Presidência da UE, para ser apresentado na Cúpula do G20, em Washington, no dia 15. Na sexta-feira, os chefes de Estado do bloco se reunirão em Bruxelas para fechar a proposta européia.
Embora a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, tenha afirmado que o plano de reformas proposto por Paris recebeu "apoio maciço", há resistência à idéia de um organismo econômico europeu supranacional. Por trás do impasse, como ocorre com freqüência na UE, está a relutância dos países em abrir mão da soberania em assuntos estratégicos.
Diante do ceticismo de alguns ministros, especialmente em relação ao trecho que defende "uma resposta internacional coordenada aos desafios macroeconômicos", a França concordou em fazer emendas.
"Não pode haver a suspeita de que estamos criando um governo econômico europeu", disse o ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrueck.
Em discurso recente no Parlamento Europeu, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, relançou a idéia de uma autoridade econômica da zona do euro, que na prática dividiria poderes com o BCE (Banco Central Europeu). Sarkozy tem sido um dos mais freqüentes críticos da autonomia do BCE.
Mas a UE parece disposta a adotar um plano mais modesto, concentrado na supervisão vigorosa dos mercados financeiros e no aumento da cooperação internacional. Ontem, a própria ministra francesa teve que dar um passo atrás.
"Não é nossa intenção ter um fórum econômico global, quanto mais um política econômica global. Isso seria difícil demais. Mas os demais pontos [do plano] foram em geral aprovados."
Entre os 11 pontos do plano francês estão o aumento da transparência nos mercados, o monitoramento das agências de classificação de risco e novas normas para impedir que gerentes de investimentos corram riscos excessivos.
Lagarde sugeriu que o Fundo Monetário Internacional tenha um papel central na prevenção de crises, elaborando análises para "fazer soar o alarme". O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse anteontem que a reforma dos organismos financeiros internacionais, para aumentar a influência dos emergentes, será uma das propostas que o Brasil defenderá em Washington.
Alguns países, entre eles a Suécia e o Reino Unido, manifestaram preocupação com o detalhismo exagerado da proposta francesa, que poderia indicar um viés protecionista ou de regulamentação excessiva.
"O mais importante agora é criar um bom corpo de bombeiros", disse o ministro das Finanças sueco, Andres Berg. "Depois talvez possamos discutir normas de segurança."

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