Matéria do jornal Correio Braziliense de 13 de novembro de 2008 trata do relatório do Fórum Econômico Mundial sobre igualdade entre gêneros.
Brasil tem avanço discreto na igualdade entre gêneros
Fórum Econômico Mundial revela que país ocupa a 73ª posição entre 130 nações. ONU defende unir cultura a políticas de desenvolvimento
Rodrigo Craveiro
Da equipe do Correio
Licença-maternidade válida por um ano — e o benefício pode ser dividido com o pai da criança —, igualdade salarial, fidelidade no casamento. A gaúcha Fabiana Michaelsen, de 39 anos, ainda se impressiona com a qualidade de vida que a Noruega proporciona às mulheres. “Temos os mesmos direitos que os homens”, disse ao Correio. “Por aqui, a mulher jamais vai ganhar menos que o homem, como é muito comum aí no Brasil.” Casada com um norueguês e sem filhos, Fabiana concluiu em agosto o mestrado em filosofia de cultura, ambiente e sustentabilidade na Universidade de Oslo. Durante um ano, ensinou português em uma escola de línguas latinas e tinha um salário inimaginável para os padrões brasileiros: o equivalente a 200 reais por hora, o que lhe rendia R$ 24 mil por mês. “Ser mulher na Noruega é ótimo: temos homens lindos e independência”, confirmou Linda Absjornsen, 42 anos, solteira, mãe de uma garota de 10 anos e moradora de Arendal, a 300km de Oslo.
“Por aqui, a mulher sofre muito, como em todos os países em desenvolvimento”, resigna-se a africana Djivede Sekanwoué, de 23 anos, natural de Cotonou (Benin). Linda reconhece os direitos de homens e mulheres como algo quase peculiar ao país onde nasceu — a Noruega é a primeira no ranking da disparidade entre gêneros do Fórum Econômico Mundial. O país nórdico tem apresentado uma evolução impressionante: em 2006, o índice de igualdade chegava a 79,9%, subiu para 80,5% no ano passado e atingiu os 82,39%. Abaixo da Noruega, aparecem Finlândia (81,95%), Suécia (81,39%), Islândia (79,99%) e Nova Zelândia (78,59%).
Se ainda estivesse vivendo em Porto Alegre, Fabiana não teria muito a comemorar. O Brasil ganhou apenas uma posição em relação ao ano passado e apareceu apenas na 73ª posição entre os 130 países analisados, com 67,37% de igualdade. A fraca participação das mulheres na vida pública deixou os brasileiros na 110ª posição no quesito “força política”, atrás inclusive de Vietnã, República Dominicana, Bolívia e Gâmbia. O venezuelano Ricardo Hausmann, diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard e co-autor do relatório Informe global de disparidade entre gêneros 2008, afirmou ao Correio que a meta do estudo é fornecer um feedback para que os governos avaliem as deficiências. “O Brasil é um dos 24 países que fecharam a lacuna entre gêneros na educação e tem feito melhorias em termos de uma maior participação da mulher no mercado de trabalho e na redução das diferenças salariais”, disse.
De acordo com Hausmann, a igualdade na educação se deve ao fato de as garotas serem a maioria no sistema educacional brasileiro, em todos os níveis de escolaridade. “Esse índice avalia a paridade e não confere ao Brasil pontos extras no ranking”, explicou o analista. “Enquanto houve pequenos ganhos na participação da força de trabalho feminina e nas lacunas de renda e salário, a posição do país no subíndice ‘participação econômica e oportunidades’ ficou virtualmente estagnada”, afirma o relatório.
Nações Unidas
Também publicado ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), o relatório Construindo consenso: cultura, gênero e direitos humanos traz alguns dados alarmantes. Segundo o documento, as mulheres e as meninas constituem três quintos de 1 bilhão de pessoas pobres no mundo. Elas somam dois terços dos 960 milhões de adultos que não sabem ler. Além disso, 91 milhões das 130 milhões de crianças que não vão para a escola são do sexo feminino. O texto clama pela utilização de abordagens ao desenvolvimento sensíveis às diferenças culturais, pois elas são essenciais aos direitos humanos em geral e aos direitos das mulheres.
Brasil tem avanço discreto na igualdade entre gêneros
Fórum Econômico Mundial revela que país ocupa a 73ª posição entre 130 nações. ONU defende unir cultura a políticas de desenvolvimento
Rodrigo Craveiro
Da equipe do Correio
Licença-maternidade válida por um ano — e o benefício pode ser dividido com o pai da criança —, igualdade salarial, fidelidade no casamento. A gaúcha Fabiana Michaelsen, de 39 anos, ainda se impressiona com a qualidade de vida que a Noruega proporciona às mulheres. “Temos os mesmos direitos que os homens”, disse ao Correio. “Por aqui, a mulher jamais vai ganhar menos que o homem, como é muito comum aí no Brasil.” Casada com um norueguês e sem filhos, Fabiana concluiu em agosto o mestrado em filosofia de cultura, ambiente e sustentabilidade na Universidade de Oslo. Durante um ano, ensinou português em uma escola de línguas latinas e tinha um salário inimaginável para os padrões brasileiros: o equivalente a 200 reais por hora, o que lhe rendia R$ 24 mil por mês. “Ser mulher na Noruega é ótimo: temos homens lindos e independência”, confirmou Linda Absjornsen, 42 anos, solteira, mãe de uma garota de 10 anos e moradora de Arendal, a 300km de Oslo.
“Por aqui, a mulher sofre muito, como em todos os países em desenvolvimento”, resigna-se a africana Djivede Sekanwoué, de 23 anos, natural de Cotonou (Benin). Linda reconhece os direitos de homens e mulheres como algo quase peculiar ao país onde nasceu — a Noruega é a primeira no ranking da disparidade entre gêneros do Fórum Econômico Mundial. O país nórdico tem apresentado uma evolução impressionante: em 2006, o índice de igualdade chegava a 79,9%, subiu para 80,5% no ano passado e atingiu os 82,39%. Abaixo da Noruega, aparecem Finlândia (81,95%), Suécia (81,39%), Islândia (79,99%) e Nova Zelândia (78,59%).
Se ainda estivesse vivendo em Porto Alegre, Fabiana não teria muito a comemorar. O Brasil ganhou apenas uma posição em relação ao ano passado e apareceu apenas na 73ª posição entre os 130 países analisados, com 67,37% de igualdade. A fraca participação das mulheres na vida pública deixou os brasileiros na 110ª posição no quesito “força política”, atrás inclusive de Vietnã, República Dominicana, Bolívia e Gâmbia. O venezuelano Ricardo Hausmann, diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard e co-autor do relatório Informe global de disparidade entre gêneros 2008, afirmou ao Correio que a meta do estudo é fornecer um feedback para que os governos avaliem as deficiências. “O Brasil é um dos 24 países que fecharam a lacuna entre gêneros na educação e tem feito melhorias em termos de uma maior participação da mulher no mercado de trabalho e na redução das diferenças salariais”, disse.
De acordo com Hausmann, a igualdade na educação se deve ao fato de as garotas serem a maioria no sistema educacional brasileiro, em todos os níveis de escolaridade. “Esse índice avalia a paridade e não confere ao Brasil pontos extras no ranking”, explicou o analista. “Enquanto houve pequenos ganhos na participação da força de trabalho feminina e nas lacunas de renda e salário, a posição do país no subíndice ‘participação econômica e oportunidades’ ficou virtualmente estagnada”, afirma o relatório.
Nações Unidas
Também publicado ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), o relatório Construindo consenso: cultura, gênero e direitos humanos traz alguns dados alarmantes. Segundo o documento, as mulheres e as meninas constituem três quintos de 1 bilhão de pessoas pobres no mundo. Elas somam dois terços dos 960 milhões de adultos que não sabem ler. Além disso, 91 milhões das 130 milhões de crianças que não vão para a escola são do sexo feminino. O texto clama pela utilização de abordagens ao desenvolvimento sensíveis às diferenças culturais, pois elas são essenciais aos direitos humanos em geral e aos direitos das mulheres.
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