domingo, 16 de novembro de 2008

Reunião do G-20 está longe de se assemelhar a Bretton Woods

Matéria do jornal O Globo do dia 16 de novembro de 2008 traz a opinião da revista britânica The Economist sobre a reunião do G-20.


'Economist': reunião está longe de Bretton Woods

Revista britânica vê presunção de líderes que querem criar uma nova ordem econômica para o capitalismo

Revista britânica vê presunção de líderes que querem criar uma nova ordem
LONDRES. Os chefes de Estado e de governo reunidos este fim de semana em Washington estão sendo presunçosos, na avaliação da revista britânica "Economist". "Se eles querem que o que chamam de Bretton Woods 2 seja fiel ao original (que criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial), terão de estabelecer uma nova ordem econômica para o mundo capitalista", afirmou a revista em artigo publicado esta semana. "Imaginem Hank Paulson, secretário do Tesouro americano, como John Maynard Keynes; ou Gordon Brown, o primeiro-ministro britânico, como Winston Churchill (o que Brown deve secretamente fazer), e tem-se uma idéia do tamanho da tarefa à frente".

Para a "Economist", eles estão assumindo o crédito por uma façanha que ainda não cumpriram, como "os mutuários de subprime" (hipotecas de alto risco). A revista lembra que, enquanto os líderes mundiais discutiram durante dois anos, em plena Segunda Guerra Mundial, os de hoje fecharam uma "agenda vaga" em umas poucas semanas de muita correria.

Ainda assim, a "Economist" admite que o fato de a reunião ser do G-20, em lugar do fechado G-7 (os sete países mais ricos do mundo), mostra que a "velha ordem" reconhece que o resto do mundo adquiriu importância. Mas ressalta que a grande pergunta é "qual a nova ordem que deve tomar seu lugar?".

As propostas para lidar com a atual crise, afirma a "Economist", abrangem três áreas. Em primeiro lugar, a necessidade de limitar a crise, que saiu dos países ricos para os emergentes. Depois, a regulamentação financeira, cujas falhas foram expostas. Em terceiro, a macroeconomia global.

Para conter a crise, diz, é preciso acertar ações conjuntas dos governos. Com relação à regulamentação do setor financeiro, a "Economist" ressalta que o problema será vencer a resistência de vários países contra o que é visto como ingerência externa em seus bancos e sistemas financeiros.

Reforma macroeconômica esbarra na soberania

Por último, lembra a revista, o G-20 precisa olhar questões macroeconômicas que preocuparam o Bretton Woods original. E recorre a Martin Wolf, colunista do jornal britânico "Financial Times", que afirma em seu novo livro ("Fixing global finance" - "Consertando as finanças globais", sem previsão de lançamento no Brasil) que o boom que provocou a crise atual foi alimentado por desequilíbrios nascidos da crise asiática, de 1997.

Ele explica que, depois de terem sofrido com a maciça fuga de capital durante a crise, os países asiáticos começaram a construir grandes reservas em moeda estrangeira. Americanos e britânicos perdulários ajudaram, incorrendo em déficits comerciais e fiscais. "Muito do dinheiro barato dos países poupadores fez caminho até imóveis e outros ativos no Ocidente. Era muito esperar que esses recursos deixassem esses ativos de maneira ordenada", afirma a "Economist".

Aqui, o conflito entre soberania e segurança é mais difícil de contornar do que no caso da regulamentação financeira. Isso leva de volta à questão de um FMI mais forte. Mas, para isso, os países ricos terão de admitir mais economias emergentes no Conselho do Fundo".

A "Economist" conclui afirmando que há duas maneiras de se olhar o encontro do G-20. Uma, mais caridosa, é que a crise será a oportunidade para que os líderes globais dêem atenção a questões técnicas importantes mas negligenciadas. A outra é cínica. "Talvez os participantes desfrutem das manchetes e, fora dos holofotes, dediquem-se a algo tristemente modesto".

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