segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Reunião do G-20 e seus limites

Notícia publicada na Folha de São Paulo no dia 17 de novembro de 2008 (retirada da Financial Times) analisa a reunião do G-20, realizada no último fim de semana.


Avanços da cúpula têm os seus limites

do ''Financial Times''
análise

Um dos temores expressos sobre a cúpula do G20 realizada em Washington no final de semana foi o de que pudesse gerar expectativas grandes demais. Toda essa conversa sobre um novo Bretton Woods era preocupante, acharam muitos observadores. O mais provável é que não daria em nada e que, quando isso acontecesse, acabaria sendo mais um golpe para a confiança.
Os temores foram um pouco exagerados -não porque a cúpula tenha realizado grande coisa, mas porque, pelo menos nos EUA, esse momento de clímax chegou e passou sem que a maioria das pessoas notasse.
Para a maioria dos americanos e para muitos participantes da cúpula, a reunião teve pouca importância por uma razão simples: a ausência do presidente eleito, Barack Obama. Se ela tivesse sido realizada no final de janeiro, com o novo presidente, teria sido vista como momento histórico para o mundo. "Timing" é tudo.
As expectativas terão uma segunda oportunidade para sair de controle em abril, para quando foi marcada nova reunião. Obama estará no comando, e até lá muito do trabalho preparatório de regulamentação financeira já terá sido completado. Algo de concreto pode acontecer -mas entre agora e abril os limites a esse tipo de cooperação internacional não terão deixado de existir.
A ausência do presidente eleito ocultou o mais importante desses limites. Mesmo um presidente ainda com quatro ou oito anos pela frente tem limites quanto aos compromissos que tem condições de assumir. É só lembrar o enorme esforço que o governo precisou fazer para promulgar o primeiro programa de resgate.
É o Congresso quem aprova verbas. O presidente pode pedir e implorar, mas, em última análise, não são decisões suas. Que o homem certo compareça na próxima cúpula fará menos diferença do que se supõe.
Ademais, nem o novo presidente nem o Congresso vão cogitar seriamente qualquer coisa que possa ser vista como cessão de sua soberania a organismos internacionais.
Por mais desejável que possa ser, em princípio, a criação de alguma espécie de instância reguladora financeira supranacional, isso não vai acontecer. Na esfera reguladora, assim como na da política fiscal e monetária, o processo de determinação de políticas nos EUA vai continuar a ser nacional no futuro previsível.
Podemos esperar um novo consenso sobre princípios básicos, incluindo a ampliação da regulação e o aumento da ênfase sobre a transparência. Uma coordenação caso a caso da política macroeconômica seria uma coisa boa. Uma monitoração internacional melhor dos padrões regulatórios para se adequar ao nível mínimo acordado seria desejável. Os governos prometeram estudar tudo isso.
Foi mais ou menos isso o realizado pela cúpula; o resto é acertar políticas nacionais. O mais importante da cúpula foi algo mais amplamente geopolítico: o fato de ter sido uma cúpula do G20, em oposição a uma do G7 ou G8, como destacou o presidente George W. Bush.
A declaração dos governos no encerramento também enfatizou a importância de terem sido trazidos para a mesa a China, a Índia, o Brasil e outras grandes economias emergentes. Será bom se a declaração do sábado tornar-se o atestado de óbito do velho G7, e melhor ainda se for possível fazer do G20 um substituto mais compacto e eficiente, dando à União Européia apenas uma vaga em vez das quatro de hoje.
Gordon Brown está ansioso por demonstrar liderança; isso é algo que ele pode fazer melhor se abrir mão do lugar do Reino Unido. A expectativa era que a cúpula afirmasse a importância do comércio liberal, e ela o fez, de certa forma.
"Ressaltamos a importância crítica de rejeitar o protecionismo e não nos voltarmos para dentro em tempos de incerteza financeira. Nos próximos 12 meses, vamos nos abster de erguer novas barreiras aos investimentos ou ao comércio e impor novas restrições às exportações ou implementar medidas [ilegais] de estímulo às exportações."
Um ano inteiro sem novas barreiras comerciais! É claro que a próximo administração e o próximo Congresso não serão obrigados a cumprir essa promessa, e uma medida que viola seu espírito, se não seu texto -o proposto pacote de socorro às três maiores montadoras automotivas americanas- é uma das prioridades.
O crash financeiro e a crise econômica que ele provocou atestam a importância dos vínculos globais: a resposta precisa ser internacionalmente coordenada. Porém, ao longo dos anos, as cúpulas econômicas têm se mostrado uma perda de tempo por uma razão, e algumas coisas nem mesmo Barack Obama poderá mudar.
Tradução de CLARA ALLAIN

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