segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Como deverá ser a reunião do G-20

Posta-se abaixo matéria do Valor Econômico, sobre como deverá ser a reunião do G-20 em Washington.


Reunião nos EUA deverá ser torre de babel nacionalista

Bob Davis, The Wall Street Journal, de Washington

Líderes de 20 países se reunirão em Washington, na sexta-feira, e a proposta é que falem com uma só voz sobre a maneira de lidar com a crise econômica que já arrasta o mundo todo.

Mas quando se trata de atitudes concretas, que ninguém espere uma unidade. É mais provável assistirmos a uma verdadeira torre de babel nacionalista.

Os franceses querem controlar um capitalismo global desenfreado e elaborar uma nova ordem regulatória. Mas os Estados Unidos desconfiam desses planos.

Os britânicos começaram dizendo que desejavam "uma nova Bretton Woods", o que parece um apelo para modificar, ou mesmo substituir, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras instituições internacionais concebidas naquela reunião de 1944, realizada no Estado americano de New Hampshire. Agora, porém, eles querem um Fundo mais poderoso.

Os russos, porém, tentariam vetar essa última idéia. Eles desejam um FMI que não imponha "condições políticas" aos tomadores de empréstimo, como faz atualmente, conforme as palavras de Arkady Dvorkovich, um graduado consultor econômico do Kremlin.

Ao mesmo tempo, os chineses desejam ter mais influência sobre as decisões do FMI, ao passo que todos os outros países desejam que a China financie os programas de empréstimo do Fundo Monetário, quer haja ou não uma rápida modificação na estrutura de poder.

Na reunião de ministros econômicos do Grupo dos 20, ontem em São Paulo, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, reconheceu que os líderes têm visões diferentes sobre o que é melhor fazer agora. Mas disse que há motivo para otimismo em relação ao encontro do G-20, porque todo mundo concorda que a ação coordenada é crucial. "Se já houvesse uma única voz, não teríamos necessidade de uma reunião", disse Strauss-Kahn.

Joseph Guinan, analista sênior em Bruxelas do German Marshall Fund, centro de altos estudos formado por americanos e europeus, afirmou: "Ainda estamos em uma fase em que ninguém confia em nenhuma proposta para seguir em frente que seja apresentada por qualquer outro membro".

Os problemas que a reunião terá que enfrentar são em parte conceituais, em parte políticos. Não está nada claro de que modo se pode impedir um agravamento da crise econômica devido às complexas interações entre os problemas imobiliários, o aperto no crédito, a solvência bancária e a queda global no consumo.

O FMI pretende usar essa conferência para pressionar os países a adotar uma grande dose de estímulo financeiro keynesiano - isto é, assumir grandes déficits orçamentários a fim de cortar impostos e incentivar o consumo. Os EUA já deram os primeiros passos nessa direção, mas muitos países europeus continuam céticos em relação a esse modelo.

De que modo impedir uma potencial crise futura? Este também é um fator imponderável. É fácil falar em mais regulamentação; mas que tipo de regulamentação? E até que ponto ela deveria ser transnacional?

O principal problema político que paira sobre essa reunião está nos Estados Unidos Embora se trate de uma reunião do G-20, que consiste de EUA, Alemanha, França, Japão e grandes países em desenvolvimento como o Brasil, China e Índia, os EUA são o país indispensável. A economia americana é tão vasta e sua influência sobre as instituições internacionais é tão grande que nenhuma mudança significativa no sistema econômico global pode acontecer sem o consentimento dos EUA.

Mas o anfitrião da reunião, o presidente americano George W. Bush, tem menos de três meses pela frente no cargo e não pode comprometer os Estados Unidos além desse prazo, ao passo que o presidente eleito, Barack Obama, não tem poderes para assumir grandes reformas econômicas em nível mundial. "Os Estados Unidos têm apenas um governo e um presidente de cada vez", disse Obama na sexta-feira, apesar de que já há representantes de outros países conversando com assessores do presidente eleito.

Líderes europeus estão propondo uma segunda conferência cem dias depois da reunião de Washington, fixando-a assim para o fim de fevereiro, cerca de um mês depois da posse de Obama.

O melhor resultado que provavelmente virá da reunião desta semana é um compromisso de tornar a reforma financeira uma prioridade contínua. Depois da crise financeira asiática de 1998, o FMI pressionou para que se fizessem mudanças na "arquitetura financeira global", incluindo um tribunal internacional de falências para lidar com países inadimplentes. Mas assim que a economia global se recuperou o interesse pelas mudanças despencou, fazendo morrer a idéia desse tribunal de falências.

Nesta reunião, o Fundo Monetário Internacional planeja demonstrar algumas novas idéias para regulamentação, incluindo seus trabalhos atuais para identificar bolhas em ativos antes que estas aumentem. Os economistas do FMI estão estudando crises passadas em âmbito global para ver como os preços dos ativos se tornam grandes problemas ao longo dos anos e para avaliar se houve indicadores de perigo que pudessem ajudar a prever futuros problemas.

O FMI também está debatendo internamente se deve se definir como um órgão regulador financeiro global, ou propor uma "rede" de instituições internacionais, incluindo o Banco de Compensações Internacionais (BIS), da Basiléia, organização dedicada a pesquisas sobre os bancos centrais.

Os países europeus estão propondo uma idéia um pouco diferente - um "colégio de supervisores" para as maiores instituições financeiras. Nesse esquema, as autoridades que fiscalizam, digamos, o Citigroup ,em diferentes países se encontrariam informalmente para trocar informações.

O ponto fraco de todas essas propostas é sua implementação. Durante anos os europeus e os Estados Unidos ignoraram os conselhos do FMI sobre como lidar com os problemas. Ao mesmo tempo, esperavam que os países em desenvolvimento seguissem as exigências do FMI a fim de se qualificar para empréstimos de emergência.

No primeiro semestre deste ano, o Fundo Monetário Internacional elaborou um plano para os Estados Unidos recapitalizarem seus bancos e o apresentou ao Departamento do Tesouro americano, onde foi ignorado. Uma autoridade do Tesouro diz que o relatório não foi nem sequer passado para o gabinete do secretário. Os britânicos e franceses não são nada diferentes, diz Simon Johnson, ex-economista-chefe do FMI.

Barack Obama não tomou posição a respeito da reforma do sistema financeiro mundial durante a campanha para a eleição presidencial. Mas esse problema lhe será apresentado bem depressa. Durante a crise da Ásia, alguns de seus principais consultores econômicos - que na época trabalhavam na Casa Branca de Bill Clinton - se valeram do FMI para impor as políticas econômicas dos EUA.

Desta vez, o governo Obama será julgado no nível internacional, em parte, pela sua disposição a ouvir conselhos e também por exigir que outros países os sigam. (Colaborou John Lyons, de São Paulo)

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