segunda-feira, 24 de novembro de 2008

China e democracia

O Jornal do Brasil trouxe, no dia 23 de novembro de 2008, entrevista de David Guthrie sobre o futuro da China ruma à democracia.


Silenciosa revolução rumo à democracia

ENTREVISTA
DAVID GUTHRIE
Autor de China e Globalização e professor de economia da Universidade de Nova York, David Guthrie vê a democracia na China como passo inevitável, e defende a tese de que o país já vem desenvolvendo instituições democráticas progressivamente, sem rotulá-las como tal. Por isso, mudanças na China têm sido mais dramáticas do que muita gente percebe. Acontecem sem alarde, no que chama de uma revolução silenciosa.
Qual o segredo do sucesso eco- nômico da China nos últimos 30 anos?
­ Entendo que as reformas eco- nômicas na China têm cinco categorias essenciais. Primeiro, a que chamo de gradualismo. O grande contraste a este fenômeno seriam os países do antigo bloco soviético que fizeram uma rápida transição do comunismo à propriedade privada, porque economistas lhes disseram que tinha de ser assim para que pudessem desenvolver uma economia robusta. A China não seguiu este caminho, mas foi tateando pedras até atravessar o rio. Economistas afirmam que a propriedade privada é o fundamento de um sistema de mercado, mas a China demonstrou que o Estado pode criar incentivos apropriados que a substituam. A segunda categoria é a descentralização. Embora Pequim tenha guiado as reformas, permitiu que as províncias tomassem as rédeas sobre suas próprias reformas. A terceira é a abertura da China para o investimento direto estrangeiro. A quarta é a iniciativa privada que foi surgindo de baixo para cima, em vez de depender somente de uma economia controlada pelo Estado, ou seja, de cima pra baixo. A quinta e última é que essa abordagem gerou também mudanças políticas e jurídicas, em uma revolução tranquila e silenciosa.
E a corrupção do partido, não atrapalha?
­A questão da corrupção é com- pletamente exagerada. Há corrupção, mas em níveis exatamente de se esperar neste estágio do desenvolvimento do país. É importante frisar que o sistema legal chinês existe há apenas 30 anos e mesmo assim, o país está bem melhor que a Rússia, por exemplo. Acho que os EUA enfatizam demais a corrupção por não se sentirem confortáveis com governos autoritários.
As reformas mudaram o par- tido?
­ Sem dúvidas. A ala liberal do partido está no poder e vem impulsionando reformas democráticas agressivamente. Desafiaria qualquer um a fazer uma lista de valores democráticos e comparar a China de 1979 com aquela de hoje. Ninguém diria que ela não é mais democrática hoje do que era há 30 anos. A liberação política integral é apenas uma questão de tempo. Oito anos atrás, não se podia acessar o site do New York Times no país, por exemplo, hoje o Estado já permite isso.

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