O jornal Correio Braziliense publica matéria sobre a perseguição contra cristãos, que vem ocorrendo na Índia e no Iraque.
Casos de perseguição a cristãos assombram a Ásia
Rodrigo Craveiro, Da equipe do Correio
Morte de líder hindu detona onda de assassinatos na Índia e força a fuga de milhares. No nordeste do Iraque, 13 mil sofrem ameaças
“O quanto alguém pode tolerar ser forçado a se converter ao cristianismo? Quando nos opomos a isso, eles nos matam. Deveríamos ficar em silêncio?” O desabafo de Nihar Ranjan Nayak, morador de Bhubaneshwar — capital do estado de Orissa (leste da Índia) —, é uma amostra de quão frágeis são as relações entre os hindus e os cristãos na chamada “cidade dos templos”. O indiano conta ao Correio que tudo começou em 23 de agosto passado, quando o líder hindu Swani Laxamananda Saraswati foi assassinado em um ataque com granadas.
A polícia acusa os maoístas do Partido Comunista pelo atentado, mas os hindus culpam os cristãos. Questionado se a reação dos seguidores não foi exagerada, Nayak é incisivo: “E se alguém matasse o papa? Qual seria sua reação?”. Desde então, 60 dos 24 milhões de indianos seguidores de Cristo foram mortos, incluindo o padre Bernard Digal. Freiras tiveram a castidade violada.
A cerca de 4.336km da Índia, o médico iraquiano Layth Alhajjar, de 47 anos, viu amigos e colegas fugirem de Mossul. Situada a 400km de Bagdá, essa cidade de 1,8 milhão de habitantes é palco de um fenômeno semelhante. Pelo menos 1.800 famílias cristãs, ou 13 mil pessoas, têm sofrido ameaças e ataques no noroeste do Iraque. O governo do primeiro-ministro Nuri Al-Maliki ofereceu 1 milhão de dinares iraquianos (o equivalente a US$ 865) para cada família que retornar a Mossul.
Layth culpa os próprios políticos cristãos pela morte de seis adeptos da mesma religião. “Por favor, não culpem os muçulmanos por esses crimes”, pede o médico. “Em 2005, a maior parte da minha cidade estava sob controle da rede Al-Qaeda e nenhum não-muçulmanos tinha sido morto. Agora, com Mossul nas mãos do Exército e da Guarda Nacional, isso tem ocorrido.” Segundo ele, os assassinos seriam soldados que usam carros oficiais do governo, cruzam livremente os postos de controle, explodem casas e voltam para suas bases.
Em Cabul, fundamentalistas da milícia afegã Talibã mataram a tiros, em 20 de outubro, Gayle Williams, uma britânica que trabalhava para a organização de caridade cristã Servicing Emergency Relief and Vocation Enterprises (Serve). Outros casos de intolerância contra seguidores do cristianismo foram registrados nos últimos dias em países como Paquistão, Irã e Coréia do Norte.
Presidente da Christian Freedom International (CFI) — organização norte-americana de direitos humanos em defesa dos cristãos perseguidos, baseada em Front Royal (Virgínia) —, Jim Jacobson explica que muitos iraquianos usam uma base fortemente religiosa para analisar a presença das forças norte-americanas em sua pátria. “Esse discurso sobre um ‘exército Cruzado’ pode soar como retórica barata, mas apenas pergunte aos cristãos se seus perseguidores estão de brincadeira”, sugere. “Apoiado pelos Estados Unidos, o governo do Iraque se transformou em ferramenta para várias facções islâmicas. Enquanto isso, os cristãos sequer têm uma milícia para ajudá-los a se proteger.”
Nacionalismo
Em relação à Índia, Jacobson liga a intimidação ao hindu Partido Bharatya Janata (BJP), de tendência nacionalista. “Muito da violência parece orquestrada pelo BJP, que controla muitos estados indianos e disputou as eleições nacionais”, diz. De acordo com ele, a Índia é um país de maioria hindu, no qual religião e nacionalismo se fundem, algumas vezes de modo violento. “É irônico que em uma era na qual as pessoas pensavam que a religião estava em declínio, a perseguição tenha se tornado tão grave.”
John Dayal, secretário-geral do All India Christian Council, atribui parte da violência às gangues Hindutva. Desde agosto, seus membros queimaram 4.400 casas, destruíram 150 igrejas, estupraram muitas mulheres e forçaram o êxodo de 50 mil moradores do estado de Orissa — 20 mil deles vivem hoje em campos de refugiados e em florestas. “Esses grupos políticos Hindutva adotam a ideologia nazifascista de ‘uma nação, um povo, uma cultura’. Mas a Índia tem muitas raças, tipos de linguagens e várias religiões. O país não pode ser forjado com uma única identidade religiosa e social”, explica Dayal.
Ele acredita que os cristãos são alvo do fanatismo por formarem apenas 2,3% da população de 1,14 bilhão de pessoas. A perseguição não fica somente por conta dos Hindutva. Dayal ressalta que alguns estados desconsideraram a Constituição e aprovaram leis para restringir a liberdade religiosa. Tudo para calar o cristianismo, que chegou à Índia por meio de São Judas Tomé, um dos 12 apóstolos de Cristo.
Casos de perseguição a cristãos assombram a Ásia
Rodrigo Craveiro, Da equipe do Correio
Morte de líder hindu detona onda de assassinatos na Índia e força a fuga de milhares. No nordeste do Iraque, 13 mil sofrem ameaças
“O quanto alguém pode tolerar ser forçado a se converter ao cristianismo? Quando nos opomos a isso, eles nos matam. Deveríamos ficar em silêncio?” O desabafo de Nihar Ranjan Nayak, morador de Bhubaneshwar — capital do estado de Orissa (leste da Índia) —, é uma amostra de quão frágeis são as relações entre os hindus e os cristãos na chamada “cidade dos templos”. O indiano conta ao Correio que tudo começou em 23 de agosto passado, quando o líder hindu Swani Laxamananda Saraswati foi assassinado em um ataque com granadas.
A polícia acusa os maoístas do Partido Comunista pelo atentado, mas os hindus culpam os cristãos. Questionado se a reação dos seguidores não foi exagerada, Nayak é incisivo: “E se alguém matasse o papa? Qual seria sua reação?”. Desde então, 60 dos 24 milhões de indianos seguidores de Cristo foram mortos, incluindo o padre Bernard Digal. Freiras tiveram a castidade violada.
A cerca de 4.336km da Índia, o médico iraquiano Layth Alhajjar, de 47 anos, viu amigos e colegas fugirem de Mossul. Situada a 400km de Bagdá, essa cidade de 1,8 milhão de habitantes é palco de um fenômeno semelhante. Pelo menos 1.800 famílias cristãs, ou 13 mil pessoas, têm sofrido ameaças e ataques no noroeste do Iraque. O governo do primeiro-ministro Nuri Al-Maliki ofereceu 1 milhão de dinares iraquianos (o equivalente a US$ 865) para cada família que retornar a Mossul.
Layth culpa os próprios políticos cristãos pela morte de seis adeptos da mesma religião. “Por favor, não culpem os muçulmanos por esses crimes”, pede o médico. “Em 2005, a maior parte da minha cidade estava sob controle da rede Al-Qaeda e nenhum não-muçulmanos tinha sido morto. Agora, com Mossul nas mãos do Exército e da Guarda Nacional, isso tem ocorrido.” Segundo ele, os assassinos seriam soldados que usam carros oficiais do governo, cruzam livremente os postos de controle, explodem casas e voltam para suas bases.
Em Cabul, fundamentalistas da milícia afegã Talibã mataram a tiros, em 20 de outubro, Gayle Williams, uma britânica que trabalhava para a organização de caridade cristã Servicing Emergency Relief and Vocation Enterprises (Serve). Outros casos de intolerância contra seguidores do cristianismo foram registrados nos últimos dias em países como Paquistão, Irã e Coréia do Norte.
Presidente da Christian Freedom International (CFI) — organização norte-americana de direitos humanos em defesa dos cristãos perseguidos, baseada em Front Royal (Virgínia) —, Jim Jacobson explica que muitos iraquianos usam uma base fortemente religiosa para analisar a presença das forças norte-americanas em sua pátria. “Esse discurso sobre um ‘exército Cruzado’ pode soar como retórica barata, mas apenas pergunte aos cristãos se seus perseguidores estão de brincadeira”, sugere. “Apoiado pelos Estados Unidos, o governo do Iraque se transformou em ferramenta para várias facções islâmicas. Enquanto isso, os cristãos sequer têm uma milícia para ajudá-los a se proteger.”
Nacionalismo
Em relação à Índia, Jacobson liga a intimidação ao hindu Partido Bharatya Janata (BJP), de tendência nacionalista. “Muito da violência parece orquestrada pelo BJP, que controla muitos estados indianos e disputou as eleições nacionais”, diz. De acordo com ele, a Índia é um país de maioria hindu, no qual religião e nacionalismo se fundem, algumas vezes de modo violento. “É irônico que em uma era na qual as pessoas pensavam que a religião estava em declínio, a perseguição tenha se tornado tão grave.”
John Dayal, secretário-geral do All India Christian Council, atribui parte da violência às gangues Hindutva. Desde agosto, seus membros queimaram 4.400 casas, destruíram 150 igrejas, estupraram muitas mulheres e forçaram o êxodo de 50 mil moradores do estado de Orissa — 20 mil deles vivem hoje em campos de refugiados e em florestas. “Esses grupos políticos Hindutva adotam a ideologia nazifascista de ‘uma nação, um povo, uma cultura’. Mas a Índia tem muitas raças, tipos de linguagens e várias religiões. O país não pode ser forjado com uma única identidade religiosa e social”, explica Dayal.
Ele acredita que os cristãos são alvo do fanatismo por formarem apenas 2,3% da população de 1,14 bilhão de pessoas. A perseguição não fica somente por conta dos Hindutva. Dayal ressalta que alguns estados desconsideraram a Constituição e aprovaram leis para restringir a liberdade religiosa. Tudo para calar o cristianismo, que chegou à Índia por meio de São Judas Tomé, um dos 12 apóstolos de Cristo.
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