Matéria do jornal O Globo trata das dificuldades encontradas pelas minorias da França em relação à sua inclusão no espaço político.
A igualdade que vale só para os 100% franceses
09/11/2008
Associações de negros e árabes reivindicam mais espaço político para minorias na França
Deborah Berlinck
PARIS. Amanhã, o Palácio do Eliseu receberá uma delegação do Conselho Representativo das Associações de Negros da França (Cran). É o "efeito Obama", que caiu como uma bomba no país. No dia seguinte à eleição do primeiro presidente negro da História dos Estados Unidos, Barack Obama, as minorias da França acordaram com a mesma pergunta: por que um francês negro ou árabe não consegue chegar ao poder?
E a constatação de todos é a mesma: no país que se descreve como "a nação dos direitos humanos" e tem como lema "liberdade, igualdade, fraternidade", um Obama jamais chegaria à Presidência na França hoje. Simplesmente porque a França está anos atrás em matéria de inclusão das minorias no poder.
- Se a sociedade se mobilizar agora, talvez dentro de 15 anos - diz o presidente do Cran, Patrick Lozez, que vai comandar a delegação negra no Palácio do Eliseu.
O importante, insiste, não é que a França tenha a qualquer preço um negro ou um árabe no comando do país. Mas sim que um bom candidato à Presidência não seja impedido de chegar ao poder por sua cor ou raça.
Já o francês Mohamed Asbai, 31 anos, filho de imigrantes marroquinos, acha que a chegada das minorias ao poder é uma questão de tempo:
- Um amigo me disse: "Depois da eleição do Obama, Mohamed vai ser presidente da França." Eu adorei! Para mim, isso é inevitável. Vai acontecer dentro de 10 a 15 anos.
Os negros da França são estimados em cinco milhões (80% franceses) de um total de 65 milhões de habitantes. E a população de origem árabe, em outros 5 milhões. Estimados porque a França insiste no princípio republicano de que "todos são iguais" e proíbe a coleta de dados étnicos. E esta será uma das reivindicações que os negros vão levar a Sarkozy amanhã: eles querem estatísticas. A falta delas, na prática, significa que as discriminações acabam invisíveis, diz Lozez.
Levantamentos de associações minoritárias são inequívocos. Apesar de representarem quase 8% da população, não há sequer um negro entre os 300 senadores da França. O Senado tem três representantes de origem árabe. Uma delas, Samia Ghali, do Partido Socialista, diz que a sua legenda não está pronta para incorporar as minorias.
Sarkozy abriu espaço para descendentes de árabes
Na Assembléia Nacional (equivalente à Câmara dos Deputados), dos 555 deputados, apenas um é negro. E nas prefeituras do país, a discrepância é ainda maior: três prefeitos negros em um total de 36 mil eleitos em postos no país.
Os franceses de origem árabe têm avançado no governo Sarkozy: uma das principais ministras do governo francês, Rachida Dati, da Justiça, é de origem marroquina, e Fadela Amara, também de origem árabe, é secretária de Estado para Cidades. Sarkozy fez de Rama Yada, uma negra de 32 anos nascida no Senegal, sua secretária de Estado para Questões de Relações Internacionais e Direitos Humanos.
A igualdade que vale só para os 100% franceses
09/11/2008
Associações de negros e árabes reivindicam mais espaço político para minorias na França
Deborah Berlinck
PARIS. Amanhã, o Palácio do Eliseu receberá uma delegação do Conselho Representativo das Associações de Negros da França (Cran). É o "efeito Obama", que caiu como uma bomba no país. No dia seguinte à eleição do primeiro presidente negro da História dos Estados Unidos, Barack Obama, as minorias da França acordaram com a mesma pergunta: por que um francês negro ou árabe não consegue chegar ao poder?
E a constatação de todos é a mesma: no país que se descreve como "a nação dos direitos humanos" e tem como lema "liberdade, igualdade, fraternidade", um Obama jamais chegaria à Presidência na França hoje. Simplesmente porque a França está anos atrás em matéria de inclusão das minorias no poder.
- Se a sociedade se mobilizar agora, talvez dentro de 15 anos - diz o presidente do Cran, Patrick Lozez, que vai comandar a delegação negra no Palácio do Eliseu.
O importante, insiste, não é que a França tenha a qualquer preço um negro ou um árabe no comando do país. Mas sim que um bom candidato à Presidência não seja impedido de chegar ao poder por sua cor ou raça.
Já o francês Mohamed Asbai, 31 anos, filho de imigrantes marroquinos, acha que a chegada das minorias ao poder é uma questão de tempo:
- Um amigo me disse: "Depois da eleição do Obama, Mohamed vai ser presidente da França." Eu adorei! Para mim, isso é inevitável. Vai acontecer dentro de 10 a 15 anos.
Os negros da França são estimados em cinco milhões (80% franceses) de um total de 65 milhões de habitantes. E a população de origem árabe, em outros 5 milhões. Estimados porque a França insiste no princípio republicano de que "todos são iguais" e proíbe a coleta de dados étnicos. E esta será uma das reivindicações que os negros vão levar a Sarkozy amanhã: eles querem estatísticas. A falta delas, na prática, significa que as discriminações acabam invisíveis, diz Lozez.
Levantamentos de associações minoritárias são inequívocos. Apesar de representarem quase 8% da população, não há sequer um negro entre os 300 senadores da França. O Senado tem três representantes de origem árabe. Uma delas, Samia Ghali, do Partido Socialista, diz que a sua legenda não está pronta para incorporar as minorias.
Sarkozy abriu espaço para descendentes de árabes
Na Assembléia Nacional (equivalente à Câmara dos Deputados), dos 555 deputados, apenas um é negro. E nas prefeituras do país, a discrepância é ainda maior: três prefeitos negros em um total de 36 mil eleitos em postos no país.
Os franceses de origem árabe têm avançado no governo Sarkozy: uma das principais ministras do governo francês, Rachida Dati, da Justiça, é de origem marroquina, e Fadela Amara, também de origem árabe, é secretária de Estado para Cidades. Sarkozy fez de Rama Yada, uma negra de 32 anos nascida no Senegal, sua secretária de Estado para Questões de Relações Internacionais e Direitos Humanos.
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