quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Etanol e trabalho escravo

A Agência Brasil publica, no dia 19 de novembro de 2008, matéria sobre a existência de trabalho escravo nas usinas de produção de etanol.


Cientista político diz que há trabalho escravo nas usinas de produção de etanol

Flávia Albuquerque,Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O cientista político e coordenador da organização não-governamental (ONG) Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, disse ontem (18) que, ao contrário do que o governo diz, há trabalho escravo nas usinas de produção de etanol. Segundo Sakamoto, de janeiro até agora, foram libertados mais de 1.800 trabalhadores de fazendas de cana-de-açúcar.

“No ano passado, esse número chegou a mais de 3 mil. Em 2006, foram 300 e, no ano anterior, 1.500. O trabalho escravo não é resquício do passado. Ele existe para reduzir ou zerar o custo da produção, tornar o empreendimento competitivo. Ou seja, o dono da usina explora os trabalhadores durante anos e guarda capital para um dia comprar máquinas depois de usar a mão-de-obra à exaustão”, afirmou.

O geógrafo Plácido Júnior, pesquisador da Comissão Pastoral da Terra de Pernambuco, considera nocivo o etanol produzido no Brasil a partir da cana-de-açúcar, porque tem como base a produção em grande escala, concentrando a terra, além de ser oriundo de monocultura. “A produção de etanol é tão prejudicial quanto qualquer outro monocultivo, seja de soja ou de eucalipto, porque impacta diretamente a vida do planeta, as águas, o meio ambiente e a vida do trabalhador”, disse.

De acordo com o geógrafo, é no setor sucroalcooleiro que se concentra a maior parte de trabalho escravo no país. “É uma convivência harmoniosa entre o moderno e o capital internacional, que concentra terra e renda e tem na sua essência o trabalho escravo. E é um modelo que visa apenas exportar, e não atender à necessidade do povo brasileiro.”

Plácido enfatizou que um dos impactos da expansão da cana-de-açúcar no Brasil é a destruição dos diversos biomas existentes no país. Outro problema é que essa cultura empurra as comunidades de quilombolas, indígenas e camponeses para regiões ribeirinhas, já que os cultivos se apropriam das áreas antes habitadas por essas pessoas.

“Além disso, as terras disputadas pela reforma agrária estão sendo disputadas pelo agronegócio da cana. Ou seja, o Brasil tem milhões de hectares improdutivos, que poderiam ser destinados à reforma agrária e estão sendo apropriadas pelo grande capital para a produção sucroalcooleira”, acrescentou o geógrafo.

Para ele, a solução para o problema não está só na mudança do modelo de agricultura, mas também na criação de um modelo de agricultura camponesa, que pode construir a soberania alimentar e energética de forma sustentável no país. Entretanto, acrescentou, é preciso discutir mais do que isso: “Temos que discutir que modelo de sociedade queremos construir. Há um conjunto de fatores que deve ser discutido coletivamente, da produção até o consumo dessa matriz energética.”

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