quinta-feira, 20 de novembro de 2008

EUA e América Latina

O Valor Econômico do dia 20 de novembro de 2008 traz matéria sobre entrevista concedida pelo secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, na qual o diplomata fala sobre as relações entre os EUA e a América Latina.


EUA dificultam relações amistosas, diz diplomata

Sergio Leo
A atuação dos Estados Unidos na América do Sul é prejudicada pelo financiamento americano a organizações não governamentais com forte atuação na política interna e as repetidas acusações de que não são democráticos os governos da Venezuela, Bolívia e Equador, disse o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães. A eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA é, porém, a negação da política externa anterior do país, de desconsideração com os princípios multilaterais das Nações Unidas, comentou.
Em entrevista para o programa "Jogo do Poder", na emissora a cabo CNT, Pinheiro Guimarães, normalmente avesso a declarações públicas, defendeu o presidente venezuelano Hugo Chávez, acusado pela oposição de usar gravações clandestinas de líderes oposicionistas como arma de propaganda nas atuais eleições para governos estaduais no país. O diplomata disse acreditar que, para se avaliar as acusações a Chávez, é preciso acompanhar os resultados das eleições venezuelanas e que acusações como essas são comuns em períodos eleitorais.
Pinheiro Guimarães comentou que as relações da Venezuela com os Estados Unidos devem ser entendidas lembrando-se que o governo americano deu reconhecimento, como governo legítimo, ao grupo formado por importantes membros da oposição na Venezuela que, por pouco tempo, deu um golpe de Estado no país, em 2002, derrubando e prendendo Chávez por algumas horas. Outro fator de atrito é o financiamento, com verbas oficiais americanas de fundos como o National Endowment for Democracy, de ONGs que interferem na política interna da Venezuela, disse ele.
"Isso cria tensões permanentes, e a própria retórica usada de um lado e do outro torna cada vez mais difícil o relacionamento", comentou. Ele reprovou as acusações aos governos da Bolívia, Equador e Venezuela de antidemocráticos, lembrando que todos passaram por eleições com aprovação de observadores internacionais.
Se a televisão brasileira tratasse os governos como a venezuelana trata Chávez, já estaria sob processos judiciais, o que não acontece lá, comparou. Na Venezuela, Chávez recusou-se a renovar a concessão da principal emissora de TV, fortemente ligada à oposição no país - uma decisão a que muitos analistas atribuem a derrota que o venezuelano sofreu no plebiscito realizado para confirmar a Constituição que daria mais poderes ao Executivo. Chávez, mesmo sob ameaças, acatou o plebiscito.
"A eleição de Barack Obama é fato de extraordinária importância", avaliou Pinheiro Guimarães. Ela encerra um período difícil para a política externa americana, com certas doutrinas, como a intervenção preventiva, que levou à invasão do Iraque", comentou, acusando o governo Bush de desrespeitar os direitos humanos.
Pinheiro Guimarães disse não crer no recrudescimento do protecionismo nos EUA, com a vitória democrata, devido à grande integração mundial das indústrias instaladas no país e ao baixo patamar em que está a maioria d as tarifas e importação. Ele defendeu o acordo entre Brasil e Argentina para aumentar a tarifa externa comum do Mercosul sobre produtos como têxteis, vinhos, lácteos e artefatos de couro, insistindo que não pode ser considerada uma media protecionista. Os aumentos estão dentro dos limites autorizados pela Organização Mundial do Comércio, argumentou o diplomata.

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