O jornal O Estado de São Paulo do dia 30 de novembro de 2008 traz editorial do The New York Times sobre a relação entre o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, e a América Latina.
THE NEW YORK TIMES - EDITORIAL
É uma chance única para Obama melhorar laços com região que tem interesses em comum com EUA
O governo George W. Bush deixa atrás de si tanto tumulto e ressentimento no mundo inteiro que o presidente eleito Barack Obama poderá se sentir tentado a deixar para mais tarde a questão das relações estremecidas entre os Estados Unidos e a América Latina.
Seria falta de visão de sua parte. Esta é uma oportunidade única para melhorar os laços com uma região que tem interesses e valores fundamentais em comum com os Estados Unidos. E considerando a crise por que passam estas relações no atual momento, bastaria apenas bom senso e sensibilidade para obter progressos.
Em primeiro lugar, o governo Obama poderia arrebanhar muita boa vontade defendendo uma ajuda maior, na maior parte proporcionada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), aos países latino-americanos arrastados pela onda do derretimento financeiro.
Acima de tudo, os líderes latino-americanos querem se certificar de que o governo de Washington está disposto a falar seriamente - e não apenas pontificar - sobre temas importantes, como tráfico de drogas, política energética, integração econômica e imigração.
Com Fidel Castro praticamente fora do cenário político, Washington deveria testar as intenções dos novos líderes cubanos. Acreditamos que a melhor maneira de fazer isto seria levantando o embargo econômico, que deu a Fidel e a seus colegas uma desculpa interminável para seus erros e iniqüidades.
Durante a campanha, Obama infelizmente concordou com a proposição incorreta (mas politicamente conveniente) de que o embargo fortalece os Estados Unidos. Felizmente, ele disse também que iniciaria um processo de recuperar Havana para os EUA - e de abertura de Cuba aos ventos da mudança -, levantando as restrições às viagens e às remessas de dinheiro para a ilha.
Deveria fazer isto sem perda de tempo.
A queda dos preços do petróleo e o declínio da projeção do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, facilitarão o trabalho de Obama.
Não temos mais paciência com os métodos corruptos e autocráticos de Chávez. Entretanto, o governo Bush causou enormes prejuízos à credibilidade americana em grande parte da região, quando deu sinal verde para o golpe fracassado contra Chávez.
O líder venezuelano apostou nos sentimentos antiamericanos por tudo que representam. E gastou uma boa parte das abundantes riquezas petrolíferas da Venezuela para fortalecer os irmãos Castro e financiar um amplo bloco antiamericano. Agora, já não tem tanto dinheiro para distribuir. E seus compatriotas perderam a paciência com sua revolução fracassada.
O declínio de Chávez suscita também novos desafios. As finanças de Cuba, assim como as de Argentina, Nicarágua ou Honduras poderão se deteriorar rapidamente se a Venezuela decidir reduzir as entregas de petróleo barato e os bilhões em ajuda. O governo de Washington deve estar preparado para ajudar, quer com recursos próprios quer com o apoio de agências de crédito internacionais.
Será preciso engolir remédios amargos. Para o bem das empresas americanas e da credibilidade dos Estados Unidos, o Congresso terá de aprovar o acordo de comércio com a Colômbia.
Outras medidas talvez venham mais facilmente. Washington deveria inaugurar um diálogo regional sobre o narcotráfico e provar que pode contribuir para combater o comércio de armamento com o Sul e reduzir internamente a demanda de drogas.
Quanto à energia, a eliminação das tarifas sobre as importações de etanol contribuiria para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e melhoraria consideravelmente as relações com o Brasil.
Os Estados Unidos precisam dar continuidade à reforma da imigração. Também devem dar início a discussões regulares sobre as questões da migração com os países que enviam estes imigrantes. Isto seria crucial para melhorar as relações e encontrar soluções para problemas cruciais como as violações dos direitos humanos contra os imigrantes.
Se ainda há dúvidas quanto à necessidade de uma nova política para a região, consideremos os seguintes fatos: a América Latina fornece um terço do petróleo que os Estados Unidos importam, bem como a maior parte dos imigrantes e praticamente toda a cocaína que entra no nosso país. E é nossa vizinha.
THE NEW YORK TIMES - EDITORIAL
É uma chance única para Obama melhorar laços com região que tem interesses em comum com EUA
O governo George W. Bush deixa atrás de si tanto tumulto e ressentimento no mundo inteiro que o presidente eleito Barack Obama poderá se sentir tentado a deixar para mais tarde a questão das relações estremecidas entre os Estados Unidos e a América Latina.
Seria falta de visão de sua parte. Esta é uma oportunidade única para melhorar os laços com uma região que tem interesses e valores fundamentais em comum com os Estados Unidos. E considerando a crise por que passam estas relações no atual momento, bastaria apenas bom senso e sensibilidade para obter progressos.
Em primeiro lugar, o governo Obama poderia arrebanhar muita boa vontade defendendo uma ajuda maior, na maior parte proporcionada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), aos países latino-americanos arrastados pela onda do derretimento financeiro.
Acima de tudo, os líderes latino-americanos querem se certificar de que o governo de Washington está disposto a falar seriamente - e não apenas pontificar - sobre temas importantes, como tráfico de drogas, política energética, integração econômica e imigração.
Com Fidel Castro praticamente fora do cenário político, Washington deveria testar as intenções dos novos líderes cubanos. Acreditamos que a melhor maneira de fazer isto seria levantando o embargo econômico, que deu a Fidel e a seus colegas uma desculpa interminável para seus erros e iniqüidades.
Durante a campanha, Obama infelizmente concordou com a proposição incorreta (mas politicamente conveniente) de que o embargo fortalece os Estados Unidos. Felizmente, ele disse também que iniciaria um processo de recuperar Havana para os EUA - e de abertura de Cuba aos ventos da mudança -, levantando as restrições às viagens e às remessas de dinheiro para a ilha.
Deveria fazer isto sem perda de tempo.
A queda dos preços do petróleo e o declínio da projeção do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, facilitarão o trabalho de Obama.
Não temos mais paciência com os métodos corruptos e autocráticos de Chávez. Entretanto, o governo Bush causou enormes prejuízos à credibilidade americana em grande parte da região, quando deu sinal verde para o golpe fracassado contra Chávez.
O líder venezuelano apostou nos sentimentos antiamericanos por tudo que representam. E gastou uma boa parte das abundantes riquezas petrolíferas da Venezuela para fortalecer os irmãos Castro e financiar um amplo bloco antiamericano. Agora, já não tem tanto dinheiro para distribuir. E seus compatriotas perderam a paciência com sua revolução fracassada.
O declínio de Chávez suscita também novos desafios. As finanças de Cuba, assim como as de Argentina, Nicarágua ou Honduras poderão se deteriorar rapidamente se a Venezuela decidir reduzir as entregas de petróleo barato e os bilhões em ajuda. O governo de Washington deve estar preparado para ajudar, quer com recursos próprios quer com o apoio de agências de crédito internacionais.
Será preciso engolir remédios amargos. Para o bem das empresas americanas e da credibilidade dos Estados Unidos, o Congresso terá de aprovar o acordo de comércio com a Colômbia.
Outras medidas talvez venham mais facilmente. Washington deveria inaugurar um diálogo regional sobre o narcotráfico e provar que pode contribuir para combater o comércio de armamento com o Sul e reduzir internamente a demanda de drogas.
Quanto à energia, a eliminação das tarifas sobre as importações de etanol contribuiria para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e melhoraria consideravelmente as relações com o Brasil.
Os Estados Unidos precisam dar continuidade à reforma da imigração. Também devem dar início a discussões regulares sobre as questões da migração com os países que enviam estes imigrantes. Isto seria crucial para melhorar as relações e encontrar soluções para problemas cruciais como as violações dos direitos humanos contra os imigrantes.
Se ainda há dúvidas quanto à necessidade de uma nova política para a região, consideremos os seguintes fatos: a América Latina fornece um terço do petróleo que os Estados Unidos importam, bem como a maior parte dos imigrantes e praticamente toda a cocaína que entra no nosso país. E é nossa vizinha.