O Estado de São Paulo
17/04/2009
AFP, Reuters e NYT
Fim das ações antiterror pode levar à retirada de soldados da região
O governo da Rússia encerrou ontem oficialmente a operação antiterrorismo na Chechênia, fato que marca o fim de uma década de presença russa na república do Cáucaso. A decisão tem como objetivo normalizar a situação na região e fortalecer o presidente checheno, Ramzan Kadyrov, aliado do premiê russo, Vladimir Putin.
"O chefe da Comissão Nacional Antiterrorista da Rússia, Alexandre Bortnikov, anulou em 16 de abril a ordem que declarava o território da república (da Chechênia) uma zona de operação antiterrorista", afirmou o órgão em comunicado. "Essa decisão tem como objetivo criar condições para a normalização da situação na região e desenvolver sua infraestrutura econômica e social."
A comissão não mencionou nada sobre a retirada das forças de segurança da região, mas a imprensa russa citou fontes oficiais que afirmaram que cerca de 20 mil policiais devem deixar a Chechênia. Apesar de os índices de violência terem caído nos últimos anos, os insurgentes ainda não foram derrotados completamente.
Após o anúncio, chechenos tomaram as ruas da capital Grozny levando bandeiras da república e da Rússia. "Estou muito feliz que a guerra finalmente tenha acabado", afirmou o estudante Magomed Nagayev. Desde o colapso da União Soviética, a Chechênia tem sido uma dor de cabeça para o Kremlin. Ao todo, foram duas guerras e milhares de mortos. Estima-se que, desde 1994, cerca de 100 mil pessoas - ou 10% da população chechena - morreram durante os dois conflitos entre rebeldes separatistas e soldados russos.
Restrições como toque de recolher, bloqueios de estrada, buscas e detenções arbitrárias foram impostos na região de maioria muçulmana em 1999, durante o governo de Boris Yeltsin. O então líder russo ordenou que as operações antiterrorismo começassem em resposta aos atentados contra diversos edifícios em Moscou. O Kremlin culpou terroristas chechenos pelas explosões e enviou para a república forças militares coordenadas por Putin, na época primeiro-ministro russo.
Depois de a Chechênia ser sacudida por bombas, Putin apontou Kadyrov para tentar recuperar a república e pôr um fim à resistência rebelde. Organizações de direitos humanos e jornalistas acusam o governo de Kadyrov de sequestro, tortura e execuções extrajudiciais para conseguir atingir suas metas.
SEGURANÇA
"Se a operação antiterrorista terminou, então significa que vencemos os bandidos. Podemos anunciar tranquilamente nossa vitória", disse Kadyrov, um ex-rebelde conhecido por seu gosto excêntrico - ele é dono de um zoológico particular. "Eu perdi mais de 400 colegas, amigos e parentes, mas hoje confirmamos que nossa república é a região mais segura da Rússia."
REVOLTA CHECHENA
1/10/1999 - Russos entram na Chechênia para combater rebeldes separatistas
6/2/2000 - Putin diz que tropas russas assumiram o controle total da capital chechena Grozni
17/2/2000 - Rebeldes chechenos condenam Putin à morte e anunciaram um prêmio de US$ 2,5 milhões pela cabeça dele
25/2/2000 - Após TV alemã exibir imagens de soldados russos enterrando corpos mutilados e com sinais de tortura em valas comuns, aumenta a pressão internacional para que Moscou investigue denúncias de violação dos direitos humanos na Chechênia
24/2/2001 - Representante da Chechênia no Parlamento russo reconhece que foi "impossível" deter a "limpeza étnica" na região
23/10/2002 - Comando checheno toma 700 reféns em teatro de Moscou. Assalto das forças especiais russas deixa 129 mortos
3/9/2004 - Terroristas chechenos tomam escola em Beslan, na república da Ossétia do Norte. Cerco acaba com 200 mortos e 700 feridos
2/3/2007 - Ramzan Kadyrov torna-se presidente checheno
Ontem - Rússia anuncia o fim das operações na Chechênia.
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