quinta-feira, 16 de abril de 2009

'Divisão na região é maior do que divergências com EUA'

O Estado de São Paulo

16/04/2009

Fernando Dantas
Opinião é de Moisés Naím, que debateu ontem sobre as relações do governo Obama com a América Latina
Às vésperas da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, de 17 a 19 de abril, as divisões internas da América Latina são mais profundas do que a polaridade entre a região e os EUA, na visão de Moisés Naím, editor da publicação Foreign Policy Magazine e especialista em relações internacionais.
Durante debate ontem sobre o governo Obama e a América Latina, no Fórum Econômico Mundial na América Latina, no Rio, Naím e Peter Hakim, presidente do centro de estudos Diálogo Interamericano, traçaram um cenário otimista sobre as perspectivas da relação dos EUA com a região. Neste processo, o Brasil pode assumir a liderança dos países latino-americanos que têm um modelo baseado na economia de mercado e na democracia, e mais aberto à globalização.
Para Naím, o presidente Venezuela, Hugo Chávez, lidera o grupo de nações latino-americanas "que tem uma forma completamente diferente de olhar como se trata o setor privado, a democracia e os investidores estrangeiros, e como se lida com a pobreza, com os EUA e com a globalização". Ele coloca nesse grupo, além da Venezuela, Argentina Nicarágua, Cuba, Equador, Bolívia, Paraguai, Honduras e países do Caribe.
O Brasil, por sua vez, está alinhado no grupo de México, Colômbia, Chile e Peru. Para Naím, que é venezuelano, "os brasileiros são ambíguos política e retoricamente, e muito pragmáticos na realidade". Assim, continua, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aplaude e admire Chávez, "mas o que ele faz no Brasil é completamente diferente do que Chávez faz na Venezuela".
Ele nota que esses países, alinhados à economia de mercado, são mais importantes que o grupo liderado por Chávez. O Brasil, disse, "está jogando nas grandes divisões dos assuntos globais, em temas como meio ambiente, comércio internacional e crises financeiras". Ele cita o México como outro com importância global.
Naím acha que o papel do Brasil na América Latina deveria ser o de "representante de um modelo bem sucedido", já que consegue reduzir a pobreza e a desigualdade e, simultaneamente, ser atraente para os investidores estrangeiros e ser um ator no cenário global, nas negociações importantes.
Hakim, por sua vez, considera que quase todos os temas da relação entre a América Latina e os EUA estão bem encaminhados nesse início de governo do presidente Barack Obama. Ele dá como exemplo Cuba e a questão da imigração, em que Obama já está tomando passos concretos para relaxar a visão restritiva que prevaleceu, por parte dos EUA nas últimas décadas. A relação com o México também avançou. No lado positivo, Hakim também citou a boa "linguagem corporal" dos encontros entre Obama e Lula. O ponto de preocupação é o comércio internacional, no qual Obama já irritou os mexicanos na questão do tráfico de caminhoneiros e não deu sinais de ratificar o tratado de livre-comércio com a Colômbia.

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