terça-feira, 14 de abril de 2009

À espera de família, dólares e mudanças

O Globo

14/04/2009

Governo cubano precisa reduzir obstáculo a entrada de ajuda, dizem dissidentes

HAVANA. A decisão do governo americano de suavizar as restrições a Cuba despertou diferentes reações. Ela animou famílias de imigrantes nos Estados Unidos, foi elogiada por organizações de direitos humanos, chamada de insuficiente por dissidentes e criticada por alguns que viram no pacote de Obama uma forma de fortalecer o caixa do governo cubano. Este, por sinal, preferiu se manter em silêncio por enquanto.

A medida deve afetar cerca de 1,5 milhão de americanos que têm parentes em Cuba — calcula-se que no país pelo menos o dobro disso receba ajuda periódica de parentes do exterior ou visitas dos EUA. Eles elogiaram a decisão e esperam que a redução das restrições seja o prenúncio de passos mais ousados para desmontar o bloqueio.

Por ano, 130 mil cubano-americanos visitam o país — um número que agora poderá triplicar. No aeroporto de Havana, um homem que se identificou apenas como Dayron comemorou.

Ele acabara de visitar sua família e contou todos os expedientes que já usou para driblar as restrições desde que emigrou, oito anos atrás.

— Já vim por Grande Cayman. Vim da República Dominicana, como religioso.

Fiz de tudo um pouco.

Olguita Sierra chorou ao saber que poderá rever em breve o filho, que vive em Miami e visitou o país há dois anos. Faltava ainda um ano para Sergio poder viajar, de acordo com as restrições impostas pelo governo Bush.

— Sinto alegria porque poderei vê-lo em breve, mas também estou triste porque meu marido morreu há um mês, sem poder encontrá-lo.

Turismo pode não estar preparado para “invasão americana” A organização Human Rights Watch afirmou que a decisão do governo Obama representa uma ruptura com uma política ineficaz e injusta, mas pediu mais passos da Casa Branca para adotar uma nova postura em relação a Cuba. Já a New Democrat Network (NDN) considerou a medida audaz e inteligente, “um primeiro passo de muitos para ajudar ao vizinho a efetuar uma transição democrática”.

Já os dissidentes consideraram que a flexibilização para viagens e envio de remessas não terão resultado se o governo cubano não mudar suas políticas para receber dinheiro e eliminar as restrições para a entrada no país.

Elizardo Sánchez, presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, contou que os habitantes têm que pagar quase 20% em impostos pelas remessas que recebem do exterior. Os trâmites de entrada podem chegar a US$ 500.

— Aplicam-se impostos abusivos, que nos prejudicam muito — contou.

Economistas acreditam que entre remessas e viagens entrariam em Cuba mais de US$ 500 milhões adicionais.

O número de americanos a visitarem o país poderia chegar a 1 milhão no primeiro ano e alcançar até 3 milhões — numa demanda de voos e hospedagem que o país talvez não esteja pronto a atender.

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