Jornal do Brasil
29/04/2009
José Luiz Niemeyer
ECONOMISTA
Parte-se neste artigo de duas considerações – uma conjuntural e a outra mais estrutural –, que podem não ser complementares: 1) o Brasil exerce uma liderança incontestável no Mercosul; 2) o Brasil ampliou o foco de sua agenda internacional.
Nos últimos anos, o país se estabilizou, modernizou-se, se internacionalizou e ganhou relevância.
O início dos anos 90 foi um marco deste processo. Inclusive com a criação do próprio Mercosul.
A questão que se coloca é que o Brasil, hoje, busca um novo horizonte nas suas relações internacionais.
Busca participar de outros processos; com outros agentes, estatais e não estatais; e, definitivamente, possui outros objetivos e defende outro tipo de interesse.
O interesse brasileiro na seara da política externa é, hoje, decididamente, de perfil sistêmico.
Por exemplo: a nossa relação com a Argentina continua estratégica. Seja dentro de um Mercosul concebido como uma União Aduaneira "imperfeita", seja nas questões sul-americanas em geral; todavia esta relação estratégica deve ser relativizada a partir das mudanças que se procederam nos últimos anos e que alteraram a percepção e a base de projeção dos interesses do país no campo internacional.
O Mercosul continua fundamentalmente concebido como um processo de integração inter-estatal em muito liderado pela posição destacada do Brasil na América do Sul; todavia a agenda internacional do país não deve ser ajustada a partir da agenda do Mercosul.
A diplomacia e a organização da política externa dependem de tempo e de recursos a serem alocados. Estes não são infinitos. Os governos que se sucedem têm que administrar as questões do Estado brasileiro; mas não haverá muita autonomia para decisões lentas demais e para ações ambíguas e/ou fracas.
A imagem do país no mundo é outra. As responsabilidades serão outras também, e cada vez mais de caráter sistêmico.
A energia despedida nas questões que envolvem o Mercosul deve ser pautada pela gama de outros projetos e processos mais sistêmicos e já em curso.
A harmonia entre objetivos, meios e valores é fundamental para a consecução de uma política de Estado.
Quando os objetivos se sofisticam mantém-se os valores – soberania, cooperação, paz e etc.; mas os meios devem ser redimensionados e alocados para a nova realidade que se apresenta.
Desta feita, o "acordo Mercosul" não deixa de ser um "meio" que terá quer ser tratado em conjunto e em paralelo com outros processos externos.
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