Folha de São Paulo
25/04/2009
Alta comissária diz que reunião contra racismo virou alvo de desinformação
Para Navi Pillay, documento final avança na proteção aos imigrantes e trabalhadores; EUA, Israel e mais oito países boicotaram encontro
MARCELO NINIO, de GENEBRA
Após uma semana conturbada, marcada pela indignação causada pela intervenção do Irã, a Conferência contra o Racismo da ONU terminou com duras críticas aos países que boicotaram o encontro. Apesar da polêmica, a maioria acha que o consenso obtido em torno do documento final evitou que a política sequestrasse a agenda.
Ao fazer um balanço da conferência, a alta comissária de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, disse que enfrentou uma "campanha de desinformação altamente organizada", para esvaziar o encontro.
Mas destacou que o documento aprovado tem avanços importantes, como a preocupação com os imigrantes e a discriminação no trabalho.
Ativistas brasileiros e estrangeiros concordaram que o texto poderia ter ido mais longe, como na questão das reparações pela escravidão e os direitos a orientação sexual, mas que é uma conquista.
O encontro de cinco dias em Genebra foi uma revisão da Conferência de Durban (África do Sul), de 2001, quando o conflito no Oriente Médio e os ataques a Israel dominaram as discussões. Em protesto, Israel e os EUA se retiraram.
Boicote
Desta vez os dois países optaram pelo boicote, sendo acompanhados de outros oito: Canadá, Alemanha, Itália, Holanda, República Tcheca, Polônia, Nova Zelândia e Austrália. O argumento foi que o documento de 2009 "reafirma" o de 2001, o qual não apoiaram por singularizar Israel.
Pillay disse que foram eliminadas as referências ao Oriente Médio no texto para evitar uma reedição de Durban, mas isso não deteve a resistência de alguns países. "Muitos chamaram o processo inteiro de Durban de festa do ódio", disse a comissária. "Tivemos alguns momentos difíceis no processo, mas festa do ódio? Desculpe, mas é uma hipérbole."
A comissária considerou "bizarro" o comportamento de alguns dos países que boicotaram a conferência, pois dois dias antes haviam aceitado o texto.
A referência é aos europeus, que participaram da negociação do texto. "Eles terão que se explicar com os outros países", disse Pillay.
Irã
Ela foi mais comedida nas críticas ao Irã, dizendo apenas que mantém a posição expressa após o agressivo discurso anti-Israel do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, na abertura da conferência. Num comunicado, Pillay considerou a intervenção "completamente inadequada".
Julie de Rivero, da Human Rights Watch, acha que o saldo é positivo. "A declaração põe a liberdade de expressão no centro da luta contra o racismo, condena o antissemitismo e toca em assuntos tabus em 2001, como os imigrants ilegais", diz.
Outros lamentaram que a polêmica em torno de Ahmadinejad tenha roubado o show. "É como no Brasil: o debate sobre o racismo é sempre desviado para outros assuntos", disse Ronaldo dos Santos, do movimento quilombola.
Para Navi Pillay, documento final avança na proteção aos imigrantes e trabalhadores; EUA, Israel e mais oito países boicotaram encontro
MARCELO NINIO, de GENEBRA
Após uma semana conturbada, marcada pela indignação causada pela intervenção do Irã, a Conferência contra o Racismo da ONU terminou com duras críticas aos países que boicotaram o encontro. Apesar da polêmica, a maioria acha que o consenso obtido em torno do documento final evitou que a política sequestrasse a agenda.
Ao fazer um balanço da conferência, a alta comissária de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, disse que enfrentou uma "campanha de desinformação altamente organizada", para esvaziar o encontro.
Mas destacou que o documento aprovado tem avanços importantes, como a preocupação com os imigrantes e a discriminação no trabalho.
Ativistas brasileiros e estrangeiros concordaram que o texto poderia ter ido mais longe, como na questão das reparações pela escravidão e os direitos a orientação sexual, mas que é uma conquista.
O encontro de cinco dias em Genebra foi uma revisão da Conferência de Durban (África do Sul), de 2001, quando o conflito no Oriente Médio e os ataques a Israel dominaram as discussões. Em protesto, Israel e os EUA se retiraram.
Boicote
Desta vez os dois países optaram pelo boicote, sendo acompanhados de outros oito: Canadá, Alemanha, Itália, Holanda, República Tcheca, Polônia, Nova Zelândia e Austrália. O argumento foi que o documento de 2009 "reafirma" o de 2001, o qual não apoiaram por singularizar Israel.
Pillay disse que foram eliminadas as referências ao Oriente Médio no texto para evitar uma reedição de Durban, mas isso não deteve a resistência de alguns países. "Muitos chamaram o processo inteiro de Durban de festa do ódio", disse a comissária. "Tivemos alguns momentos difíceis no processo, mas festa do ódio? Desculpe, mas é uma hipérbole."
A comissária considerou "bizarro" o comportamento de alguns dos países que boicotaram a conferência, pois dois dias antes haviam aceitado o texto.
A referência é aos europeus, que participaram da negociação do texto. "Eles terão que se explicar com os outros países", disse Pillay.
Irã
Ela foi mais comedida nas críticas ao Irã, dizendo apenas que mantém a posição expressa após o agressivo discurso anti-Israel do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, na abertura da conferência. Num comunicado, Pillay considerou a intervenção "completamente inadequada".
Julie de Rivero, da Human Rights Watch, acha que o saldo é positivo. "A declaração põe a liberdade de expressão no centro da luta contra o racismo, condena o antissemitismo e toca em assuntos tabus em 2001, como os imigrants ilegais", diz.
Outros lamentaram que a polêmica em torno de Ahmadinejad tenha roubado o show. "É como no Brasil: o debate sobre o racismo é sempre desviado para outros assuntos", disse Ronaldo dos Santos, do movimento quilombola.
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