quarta-feira, 16 de setembro de 2009

'Vivíamos uma era de trevas' / entrevista

O Globo

16/09/2009

BERLIM. Para Ajmal Samadi, diretor da ONG Afghanistan Rights Monitoring, de Cabul, que luta pelos direitos humanos e defende as vítimas civis da guerra, foi depois do 11 de Setembro que aumentou a pressão internacional para derrubar o Talibã. Em entrevista ao GLOBO, por telefone, Samadi, de 37 anos, disse que, embora parte do país continue nas mãos do Talibã, “a vida é hoje incomparavelmente melhor do que era há oito anos”.

Graça Magalhães-Ruether Correspondente

O GLOBO: Que significado tem a data 11 de setembro para os afegãos? AJMAL SAMADI: O significado é bastante complexo. Lembramos dos terríveis atentados nos EUA, mas, por outro lado, foi a partir do 11 de Setembro que surgiu a decisão de derrubar o Talibã. Nós, no Afeganistão, não tínhamos ideia de que as pessoas que organizaram os atentados estavam no país. Vivíamos uma era de trevas, isolados do resto do mundo. Só após a guerra a situação começou a mudar.

O senhor foi favorável à guerra?
SAMADI: A guerra foi importante porque era a única maneira de banir o regime ditatorial do Talibã. Há pessoas que criticam a presença estrangeira oito anos depois mas, enquanto houver forças do Talibã e da al-Qaeda querendo voltar ao poder, as tropas internacionais são necessárias. Por outro lado, foram cometidos erros, que ajudam o Talibã a obter adeptos. A ocorrência de vítimas civis é o que mais nos choca. Só no ano passado, morreram nas ações militares três mil civis.

Qual o grupo terrorista hoje mais destrutivo, o Talibã ou a al-Qaeda?
SAMADI: Em termos de potencial destrutivo e do ódio contra a democracia, os dois são iguais. Na minha opinião, a única diferença é que o Talibã existe só no Afeganistão e nas regiões próximas, no Paquistão, enquanto a al-Qaeda é internacional.

A situação é melhor hoje do que há oito anos?
SAMADI: Para muitas pessoas, a situação melhorou. Quem vive numa região menos afetada pelo terrorismo tem poder aquisitivo e chances de se desenvolver; a vida é incomparavelmente melhor. Nós temos teatros, orquestras, seleção de futebol, emissoras de rádio, de TV e jornais. Temos acesso à informação e à internet. Mas há ainda problemas. Mais de 50% da população não têm um meio de vida. Em certas regiões, como no sul do país, o Talibã continua dominando.

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