O Estado de S. Paulo
01/09/2009
A reunião de cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), na sexta-feira passada em Bariloche, apenas serviu para mostrar que o nome do organismo é uma contradição em termos. A desagregação política da região aumenta na razão direta da campanha de provocações a que recorre o caudilho venezuelano Hugo Chávez para fabricar os inimigos externos de que necessita a fim de justificar a sua escalada totalitária em seu país e para manter a sua ascendência sobre os governos bolivarianos de La Paz e de Quito.
A última invenção de Chávez com esse objetivo é a ameaça à segurança regional representada pela soberana decisão do presidente colombiano Álvaro Uribe de renovar um acordo com os Estados Unidos que já dura uma década, com a presença de algumas centenas de militares americanos em bases no seu território, para o combate às ações do narcotráfico e dos seus parceiros da narcoguerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Com a retórica incendiária de que se vale para os seus objetivos, Chávez chegou a acusar Uribe de estar fornecendo aos Estados Unidos as bases para um assalto ao petróleo venezuelano.
Como sempre, a diplomacia brasileira, com o seu ranço antiamericano, deu corda a mais essa ofensiva chavista - a ponto de o presidente Lula não perceber o ridículo de cobrar, não apenas de Uribe, mas também do presidente dos Estados Unidos, a apresentação de garantias jurídicas formais de que os efetivos americanos no país seriam utilizados exclusivamente para a segurança interna. Àquela altura, ele já havia recebido do governo Uribe um documento que assinala que as bases "colombianas, com autoridade colombiana, jurisdição colombiana, mas com cooperação técnica dos Estados Unidos", jamais servirão a "um objetivo unilateral" de Washington.
Se outra fosse a posição brasileira, Lula não teria passado em Bariloche pelo dissabor de ser protagonista de uma das mais patéticas reuniões do gênero de que se tem notícia na América do Sul, mesmo para os padrões desta parte do mundo. Para começar, não teve como se opor à decisão - proposta por Uribe - de permitir que o encontro fosse televisionado. "Não podemos discutir questões de fundo", protestou, exasperado. "Não acredito em reuniões transmitidas pela TV. A gente vir para uma reunião como chefe de Estado e cada um ficar falando para o seu público não dá certo." Num rasgo de lucidez se disse preocupado com o que sairia na imprensa sobre a reunião.
De fato, o noticiário retratou um evento circense que deu em nada e cuja futilidade ficou perfeitamente demonstrada no palavroso documento final que o presidente peruano Alan García fulminou com rara franqueza. O texto, apontou, "não tem pé nem cabeça e não será entendido em nenhum lugar do mundo". Por exemplo, ao defender a adoção de "mecanismos concretos de implementação e garantias para todos os países aplicáveis aos acordos existentes com países da região e extrarregionais". O que nele não é ininteligível é acaciano. É o caso da passagem que afirma que "a presença de forças militares estrangeiras não pode ameaçar a soberania e a integridade de qualquer nação sul-americana e, em consequência, a paz e a segurança na região".
Uribe foi quem se saiu melhor. Na troca de estocadas com Chávez e seus pupilos, reafirmou que o acordo com os Estados Unidos não permite a circulação de armas e tropas estrangeiras nem em território colombiano, muito menos em países vizinhos. Criticou a "falta de apoio de países da América do Sul" à sua luta contra o narcotráfico, enquanto os EUA ofereciam "ajuda prática". Na declaração final, fez incluir um item sobre a necessidade de cooperação contra o terrorismo, o crime organizado e a presença ou ações de grupos armados.
Coube ao peruano Alan García a única intervenção bem-humorada da sombria reunião: aquela em que acalmou os temores de Chávez sobre o assalto americano ao seu petróleo. Não haverá essa ameaça, observou, enquanto ele continuar vendendo todo o seu petróleo aos Estados Unidos. Todo mundo riu, com a exceção de Hugo Chávez, naturalmente.
Uma nova reunião sobre segurança regional, agora entre os chanceleres e ministros da Defesa da Unasul, com o Conselho de Combate ao Narcotráfico da entidade, foi marcada para este mês, em Quito. A falsa questão das bases colombianas acabará esvaziada.
A última invenção de Chávez com esse objetivo é a ameaça à segurança regional representada pela soberana decisão do presidente colombiano Álvaro Uribe de renovar um acordo com os Estados Unidos que já dura uma década, com a presença de algumas centenas de militares americanos em bases no seu território, para o combate às ações do narcotráfico e dos seus parceiros da narcoguerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Com a retórica incendiária de que se vale para os seus objetivos, Chávez chegou a acusar Uribe de estar fornecendo aos Estados Unidos as bases para um assalto ao petróleo venezuelano.
Como sempre, a diplomacia brasileira, com o seu ranço antiamericano, deu corda a mais essa ofensiva chavista - a ponto de o presidente Lula não perceber o ridículo de cobrar, não apenas de Uribe, mas também do presidente dos Estados Unidos, a apresentação de garantias jurídicas formais de que os efetivos americanos no país seriam utilizados exclusivamente para a segurança interna. Àquela altura, ele já havia recebido do governo Uribe um documento que assinala que as bases "colombianas, com autoridade colombiana, jurisdição colombiana, mas com cooperação técnica dos Estados Unidos", jamais servirão a "um objetivo unilateral" de Washington.
Se outra fosse a posição brasileira, Lula não teria passado em Bariloche pelo dissabor de ser protagonista de uma das mais patéticas reuniões do gênero de que se tem notícia na América do Sul, mesmo para os padrões desta parte do mundo. Para começar, não teve como se opor à decisão - proposta por Uribe - de permitir que o encontro fosse televisionado. "Não podemos discutir questões de fundo", protestou, exasperado. "Não acredito em reuniões transmitidas pela TV. A gente vir para uma reunião como chefe de Estado e cada um ficar falando para o seu público não dá certo." Num rasgo de lucidez se disse preocupado com o que sairia na imprensa sobre a reunião.
De fato, o noticiário retratou um evento circense que deu em nada e cuja futilidade ficou perfeitamente demonstrada no palavroso documento final que o presidente peruano Alan García fulminou com rara franqueza. O texto, apontou, "não tem pé nem cabeça e não será entendido em nenhum lugar do mundo". Por exemplo, ao defender a adoção de "mecanismos concretos de implementação e garantias para todos os países aplicáveis aos acordos existentes com países da região e extrarregionais". O que nele não é ininteligível é acaciano. É o caso da passagem que afirma que "a presença de forças militares estrangeiras não pode ameaçar a soberania e a integridade de qualquer nação sul-americana e, em consequência, a paz e a segurança na região".
Uribe foi quem se saiu melhor. Na troca de estocadas com Chávez e seus pupilos, reafirmou que o acordo com os Estados Unidos não permite a circulação de armas e tropas estrangeiras nem em território colombiano, muito menos em países vizinhos. Criticou a "falta de apoio de países da América do Sul" à sua luta contra o narcotráfico, enquanto os EUA ofereciam "ajuda prática". Na declaração final, fez incluir um item sobre a necessidade de cooperação contra o terrorismo, o crime organizado e a presença ou ações de grupos armados.
Coube ao peruano Alan García a única intervenção bem-humorada da sombria reunião: aquela em que acalmou os temores de Chávez sobre o assalto americano ao seu petróleo. Não haverá essa ameaça, observou, enquanto ele continuar vendendo todo o seu petróleo aos Estados Unidos. Todo mundo riu, com a exceção de Hugo Chávez, naturalmente.
Uma nova reunião sobre segurança regional, agora entre os chanceleres e ministros da Defesa da Unasul, com o Conselho de Combate ao Narcotráfico da entidade, foi marcada para este mês, em Quito. A falsa questão das bases colombianas acabará esvaziada.
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