quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Gaza: ONU acusa Israel e Hamas

O Estado de S. Paulo

16/09/2009

Gustavo Chacra
Relatório aponta que os dois lados cometeram crimes durante conflito

A ONU acusou Israel e o grupo palestino Hamas de cometerem graves crimes de guerra e desrespeitarem leis internacionais durante o conflito na Faixa de Gaza entre dezembro e janeiro. De acordo com relatório publicado ontem, as ações podem se configurar em crimes contra a humanidade. Se os israelenses e as autoridades palestinas não atuarem para investigar os acusações, os casos poderão ser levados para o Tribunal Penal Internacional em Haia.

Israel respondeu duramente às acusações da ONU e decidiu lançar uma campanha contra o relatório. O objetivo, segundo o diário israelense Haaretz, é impedir a discussão do conteúdo no Conselho de Segurança da entidade. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor, disse que Israel estava "desapontado" e argumentou que seu país tem o direito de defender seus cidadãos de ataques terroristas. "Eles (os autores do relatório) estão tão desconectados da realidade que dá para questionar em qual planeta fica a Gaza que eles visitaram", acrescentou. O Hamas saudou o relatório. Um membro do grupo elogiou a ONU pela investigação "dos crimes de guerra de Israel".

O conflito em Gaza deixou cerca de 1.400 palestinos e pouco mais de uma dezena de israelenses mortos. Israel lançou os ataques com a justificativa de que seria uma resposta aos lançamentos diários de centenas de foguetes do Hamas contra o território israelense.

O relatório pede ainda que o Conselho de Segurança indique uma comissão de especialistas para monitorar as investigações do governo israelense e das autoridades palestinas. "Caso isso não ocorra ou não haja independência em conformidade com os padrões internacionais, o Conselho deve encaminhar a situação em Gaza para o procurador do Tribunal Penal Internacional", diz o texto, que teve como principal responsável o respeitado juiz Richard Goldstone, da África do Sul.

Há um precedente de investigação interna de crimes de guerra na história de Israel. Depois dos massacres de Sabra e Shatila, foi criada a comissão Kahan, alusão ao então chefe da Suprema Corte israelense, Yitzhac Kahan, para investigar o envolvimento de Israel nas mortes de palestinos nos campos de Beirute. Várias autoridades israelenses foram punidas, incluindo o então ministro da Defesa, Ariel Sharon. Ontem, nove grupos de direitos humanos de Israel pedirão ao governo que aja da mesma forma desta vez.

NEGOCIAÇÕES

O enviado do presidente Barack Obama ao Oriente Médio, George Mitchell, encontrou-se ontem com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, por mais de duas hora. O encontro, entretanto, não rendeu nenhum acordo sobre a expansão dos assentamentos na Cisjordânia. Os dois devem se reunir novamente hoje. "Esperamos uma conclusão positiva desses esforços nas próximas semanas", disse Mitchell em Ramallah, após se reunir com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

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