sexta-feira, 4 de setembro de 2009

'A Itália reagiu com arrogância' / entrevista

O Globo

04/09/2009

BRASÍLIA. No próximo dia 9, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá o futuro do exativista italiano Cesare Battisti.

Ele poderá ser extraditado para a Itália, onde ficará preso pela morte de quatro pessoas, ou ter o processo de extradição arquivado — e, como consequência, viver livremente no Brasil. Em janeiro, ele obteve do governo brasileiro a condição de refugiado político, mas continuou atrás das grades, aguardando a manifestação do Supremo.

Por e-mail, ele reafirmou sua inocência e disse não acreditar que o STF vá ceder às pressões externas.

Carolina Brígido

O GLOBO: O senhor ficou mais ansioso com a proximidade do julgamento?
BATTISTI: Eu senti grande ansiedade logo após a concessão do refúgio político, ao ver a avassaladora campanha midiática que a Itália fez contra mim. De um dia para o outro, criaram uma personagem odiosa, que, na realidade, não existe, não era eu. Agora estou experimentando uma calma aliviadora.

Pensou que permaneceria preso mesmo após ter sido considerado refugiado? BATTISTI: Sinceramente, após ter recebido o refúgio político, acreditei que seguiria o mesmo destino de padre (Oliverio) Medina: prisão domiciliar e rápido arquivamento da extradição. Minha família é a que mais sofre com essa demora. Por outro lado, acredito que todo esse tempo tenha sido útil para os ministros do STF compreenderem minha situação mais profundamente e apurarem que fui injustamente, escandalosamente, condenado por esses quatro assassinatos.

Teme que a dimensão política do caso influencie na decisão do STF?
BATTISTI: Tenho a impressão que parte da mídia quis criar a ilusão de que o caso não está decidido. Como se a (posição) do ministro da Justiça não fosse uma decisão, mas apenas um parecer. A Itália reagiu ao refúgio com arrogância inadmissível, ofendeu as autoridades brasileiras. A Itália joga pesado e, absurdamente, tem quem ainda insista em negar a perseguição. Não acredito que o STF se deixe influenciar ou, pior, intimidar nas suas decisões pelo show apresentado de maneira prejudicial.

Se o senhor for libertado, quais serão seus planos para o futuro?
BATTISTI: Para um escritor e roteirista como eu, o Brasil é um país maravilhoso, uma fonte de inspiração, de observação social sem par. Naturalmente, continuarei aqui fazendo o que sempre foi minha atividade principal: escrever. Atualmente, não tenho condições para decidir onde vou viver. Irei para onde tiver melhores condições de desenvolver meu trabalho.

E se a decisão for pela extradição?
BATTISTI: O governo brasileiro tomou já uma decisão. Eu me recuso a pensar que possa existir a possibilidade da extradição. O STF não poderá negar o que é evidente, e sabe também que, para mim, na Itália não existe mais qualquer possibilidade de defesa.

Um comentário:

Unknown disse...

Mas por que esse senhor está aqui? quer dizer o Brasil está a proteger os de fora como sempre e deixa os seus sofrendo, lógico que precisa ser protegido mas cada um em sua pátria,caso fosse ocontrario como será que as autoridades resolveria o problema?