domingo, 6 de setembro de 2009

Tentativa de perpetuação é malvista nos EUA

Folha de S. Paulo

05/09/2009

Claudia Antunes

DA SUCURSAL DO RIO

Se passar pelo crivo da Corte Constitucional colombiana, o referendo sobre o terceiro mandato de Álvaro Uribe criará um sério problema de imagem -e político-para seus defensores nos Estados Unidos, de acordo com observadores americanos da América Latina ouvidos pela Folha.
No entanto, um eventual terceiro mandato em nada mudará o acordo militar entre os dois países, recém-ampliado para possibilitar o uso de sete bases colombianas pelos EUA.
O que deve ser afetado é o já lento exame, pelo Congresso americano, do Tratado de Livre Comércio assinado entre Uribe e o ex-presidente George W. Bush em 2006.
Oficialmente, os congressistas americanos vêm adiando a ratificação do tratado com base em preocupações com o respeito aos direitos humanos e trabalhistas na Colômbia. Mas o atraso é fruto também do aumento das tendências protecionistas desde o início da crise econômico-financeira.
Até o momento, a imagem de Uribe entre uma maioria dos chamados formadores de opinião nos EUA vem se beneficiando de sua disputa com o colega venezuelano Hugo Chávez, que replica em nível regional as posições divergentes dos dois em relação ao papel americano na região.
Mas Michael Shifter, do centro de estudos Inter-American Dialogue, com sede em Washington, diz que isso pode mudar. Ele lembra que o jornal "Washington Post", crítico de Chávez e apoiador de Uribe, pediu em editorial que o colombiano desistisse de continuar no cargo.
"Nos EUA é difícil encontrar qualquer pessoa que considere o terceiro mandato uma boa ideia. Há críticas em todo o espectro político. Não apenas em Washington, mas também em Wall Street", afirma Shifter, que está em visita a Bogotá.
Para ele, a nova reeleição feriria interesses colombianos nos EUA. "Os críticos de Uribe ganharão força, e seus apoiadores no Congresso ficarão enfraquecidos. Ficará difícil argumentar que Uribe é um democrata e Chávez não é."
Na mesma linha vai Larry Birns, do Conselho de Assuntos Hemisféricos, de orientação à esquerda do Inter-American Dialogue: "O que o governo [Barack] Obama terá a dizer se o assassinato de líderes sindicais colombianos continuar e Uribe partir para o terceiro mandato, algo que Washington denuncia com veemência quando se trata de Chávez?"
Na verdade, o governo Obama reagiu com discrição ao referendo que, em fevereiro, acabou com os limites de mandato para cargos executivos na Venezuela. Mas a relação com o presidente venezuelano voltou a se complicar com o anúncio da ampliação do acordo militar com a Colômbia.
Sobre as bases, Shifter não tem dúvidas de que nada mudará: "A Colômbia continuará sendo importante para os EUA, mesmo que Uribe fique no cargo. Afinal, os EUA estão muito envolvidos na Colômbia primeiramente por interesse próprio, e não por altruísmo". (CLAUDIA ANTUNES)

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