Jornal do Brasil
03/09/2009
Manuel Cambeses Júnior, coronel -aviador
Transcorreram apenas 20 anos desde a queda do Muro de Berlim, depois de 28 anos de existência, e a ingênua e efêmera euforia dessa época converteu-se em um passado remoto. A Nova Ordem Mundial, embasada na unipolaridade e na Pax Americana, que despertou as ilusões de alguns e os temores de outros, encontra-se profundamente desgastada e esquecida, juntamente com os jornais da época da primeira guerra do Golfo. Samuel Huntington, em um interessante artigo publicado na revista Foreign Affairs, intitulado A superpotência solitária, afirma que estamos vivendo um sistema internacional de transição, ou seja, um estranho híbrido a que ele batizou de “unimultipolar”.
Em sua ótica, o momento unipolar já expirou e, dentro de duas décadas, ingressaremos em um verdadeiro sistema multipolar. Segundo Zbigniew Brzezinski, os Estados Unidos serão a primeira, última e única superpotência global. Nesse período transitório, esse portentoso país continuará sendo o único com preeminência em todas as dimensões do poder, em suas diversas expressões: política, econômica, social, ideológica, militar, tecnológica e cultural, com o alcance e a capacidade de promover os seus interesses, em nível global.
Entretanto, a solução dos problemas fundamentais do sistema requer, necessariamente, a ação conjunta da superpotência e de alguma combinação com outras grandes potências. Os Estados Unidos mantêm, no momento, o direito de veto nos assuntos de maior relevância internacional.
Várias potências regionais estão fortalecendo suas posições em suas esferas de atuação geopolítica: a China e, potencialmente, o Japão, na Ásia Oriental; a União Europeia, liderada, em minha opinião, pela Alemanha, ainda quando encontramos quem advogue a liderança de um condomínio franco-alemão; a Rússia, na Eurásia; a Índia, no Sul da Ásia; o Irã, na Ásia Sul-Ocidental; a África do Sul e a Nidios géria, no continente africano; e o Brasil, na América Latina.
Estamos, portanto, vivendo um período de transição e, como sói acontecer, toda mudança sempre implica em contradições e riscos. A globalização econômica e o cosmopolitismo cultural ocorrem, conjuntamente, com um extraordinário ressurgimento do medo e da desconfiança com o diferente, com o estranho e com o desconhecido. Assistimos ao retorno do tribalismo, dos etnicismos, da xenofobia, dos racismos e dos fundamentalismos religiosos. Estas forças desintegraram a União Soviética, pulverizaram a Iugoslávia, dividiram a Checoslováquia e converteram em estados fracassados alguns países como Congo, Afeganistão, Libéria, Somália, Ruanda e Serra Leoa, entre outros. A Indonésia e vários países da Ásia Central correm o risco de cair no mesmo despenhadeiro. As forças da desagregação assolam, também, países avançados como Canadá, Bélgica e Espanha. A América Latina, felizmente, até o presente momento, não tem sofrido, de forma avassaladora, a pressão dessas forças centrífugas, ainda que alguns estados com grande proporção de populações indígenas se descurem em prevenirse contra potenciais explosões raciais e étnicas.
Vivemos em um mundo perigoso, no qual a soberania, já bastante limitada, dos pequenos e mé Nidios estados, vê-se cada vez mais ameaçada, não somente pela presença das grandes potências e pelas forças secessionistas mas, também, pelo crescente poder globalizado das máfias, da criminalidade organizada, dos grupos terroristas de cunho fundamentalista e pelas seitas apocalípticas. Para reduzir nossa vulnerabilidade frente a essas ameasente méças é necessário, em primeiro lugar, que nos fortaleçamos internacionalmente, aumentando a capacidade da sociedade e o potencial do Estado brasileiro. Isto implica, fundamentalmente, num verdadeiro estado de direito. Sem o império da lei, sem segurança jurídica, sem regras econômicas bastante claras e estáveis, não existirá criação de riqueza, somente distribuição desigual da miséria.
Certamente não haverá um projeto histórico mais ou menos autônomo para a América Latina, neste alvorecer do terceiro milênio, sem a imprescindível unidade e coesão dos estados-membros. Ademais, é urgente e necessário que transformemos a integração latinoamericana em um imperativo geopolítico, se desejamos deixar de ser considerados exóticos e marginais espectadores no cenário internacional.
Manuel Cambeses Júnior é coronel-aviador, conferencista especial da Escola Superior de Guerra (ESG), membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica
Instruções
Transcorreram apenas 20 anos desde a queda do Muro de Berlim, depois de 28 anos de existência, e a ingênua e efêmera euforia dessa época converteu-se em um passado remoto. A Nova Ordem Mundial, embasada na unipolaridade e na Pax Americana, que despertou as ilusões de alguns e os temores de outros, encontra-se profundamente desgastada e esquecida, juntamente com os jornais da época da primeira guerra do Golfo. Samuel Huntington, em um interessante artigo publicado na revista Foreign Affairs, intitulado A superpotência solitária, afirma que estamos vivendo um sistema internacional de transição, ou seja, um estranho híbrido a que ele batizou de “unimultipolar”.
Em sua ótica, o momento unipolar já expirou e, dentro de duas décadas, ingressaremos em um verdadeiro sistema multipolar. Segundo Zbigniew Brzezinski, os Estados Unidos serão a primeira, última e única superpotência global. Nesse período transitório, esse portentoso país continuará sendo o único com preeminência em todas as dimensões do poder, em suas diversas expressões: política, econômica, social, ideológica, militar, tecnológica e cultural, com o alcance e a capacidade de promover os seus interesses, em nível global.
Entretanto, a solução dos problemas fundamentais do sistema requer, necessariamente, a ação conjunta da superpotência e de alguma combinação com outras grandes potências. Os Estados Unidos mantêm, no momento, o direito de veto nos assuntos de maior relevância internacional.
Várias potências regionais estão fortalecendo suas posições em suas esferas de atuação geopolítica: a China e, potencialmente, o Japão, na Ásia Oriental; a União Europeia, liderada, em minha opinião, pela Alemanha, ainda quando encontramos quem advogue a liderança de um condomínio franco-alemão; a Rússia, na Eurásia; a Índia, no Sul da Ásia; o Irã, na Ásia Sul-Ocidental; a África do Sul e a Nidios géria, no continente africano; e o Brasil, na América Latina.
Estamos, portanto, vivendo um período de transição e, como sói acontecer, toda mudança sempre implica em contradições e riscos. A globalização econômica e o cosmopolitismo cultural ocorrem, conjuntamente, com um extraordinário ressurgimento do medo e da desconfiança com o diferente, com o estranho e com o desconhecido. Assistimos ao retorno do tribalismo, dos etnicismos, da xenofobia, dos racismos e dos fundamentalismos religiosos. Estas forças desintegraram a União Soviética, pulverizaram a Iugoslávia, dividiram a Checoslováquia e converteram em estados fracassados alguns países como Congo, Afeganistão, Libéria, Somália, Ruanda e Serra Leoa, entre outros. A Indonésia e vários países da Ásia Central correm o risco de cair no mesmo despenhadeiro. As forças da desagregação assolam, também, países avançados como Canadá, Bélgica e Espanha. A América Latina, felizmente, até o presente momento, não tem sofrido, de forma avassaladora, a pressão dessas forças centrífugas, ainda que alguns estados com grande proporção de populações indígenas se descurem em prevenirse contra potenciais explosões raciais e étnicas.
Vivemos em um mundo perigoso, no qual a soberania, já bastante limitada, dos pequenos e mé Nidios estados, vê-se cada vez mais ameaçada, não somente pela presença das grandes potências e pelas forças secessionistas mas, também, pelo crescente poder globalizado das máfias, da criminalidade organizada, dos grupos terroristas de cunho fundamentalista e pelas seitas apocalípticas. Para reduzir nossa vulnerabilidade frente a essas ameasente méças é necessário, em primeiro lugar, que nos fortaleçamos internacionalmente, aumentando a capacidade da sociedade e o potencial do Estado brasileiro. Isto implica, fundamentalmente, num verdadeiro estado de direito. Sem o império da lei, sem segurança jurídica, sem regras econômicas bastante claras e estáveis, não existirá criação de riqueza, somente distribuição desigual da miséria.
Certamente não haverá um projeto histórico mais ou menos autônomo para a América Latina, neste alvorecer do terceiro milênio, sem a imprescindível unidade e coesão dos estados-membros. Ademais, é urgente e necessário que transformemos a integração latinoamericana em um imperativo geopolítico, se desejamos deixar de ser considerados exóticos e marginais espectadores no cenário internacional.
Manuel Cambeses Júnior é coronel-aviador, conferencista especial da Escola Superior de Guerra (ESG), membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica
Instruções
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