sexta-feira, 4 de setembro de 2009

EUA aumentam pressão a golpistas

O Estado de S. Paulo

04/09/2009

Washington corta ajuda a Honduras e adverte que não reconhecerá eleição organizada por governo de facto

Patrícia Campos Mello, WASHINGTON

Os EUA indicaram ontem que não reconhecerão as eleições presidenciais de Honduras, marcadas para novembro, e formalizaram um corte de US$ 35 milhões em assistência ao país, que já havia sido suspensa. O anúncio foi feito após o encontro do presidente deposto Manuel Zelaya com a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, em Washington.

O governo americano, porém, manteve sua posição ambígua em relação a Zelaya, e não declarou de forma taxativa que sua volta ao poder seja essencial para que a eleição hondurenha seja legítima. Tampouco classificou a destituição de Zelaya como um "golpe militar", outra das reivindicações que o presidente deposto havia feito a Hillary.

Zelaya foi derrubado em 28 de junho, quando foi posto por militares em um avião e mandado, ainda de pijama, para a Costa Rica. O governo de facto, liderado por Roberto Micheletti, tem rejeitado as propostas de mediação do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, endossadas pelos EUA. As propostas pedem o retorno de Zelaya, entre outras exigências.

No comunicado do Departamento de Estado, o porta-voz Ian Kelly afirma que "neste momento, não poderíamos apoiar o resultado das eleições marcadas". Depois, questionado pelo Estado se a volta de Zelaya era condição inegociável para que a eleição fosse considerada legítima, um alto funcionário do governo tergiversou.

"A frase da declaração foi muito estudada, nós dizemos que, no momento, não poderíamos apoiar a eleição. Não se trata da defesa do presidente Zelaya, mas da democracia na região."

Ao formalizar o corte de ajuda financeira ao país e indicar que podem não reconhecer as eleições, os EUA tentam responder à pressão internacional por medidas mais enérgicas contra o governo de facto de Micheletti. Por outro lado, Obama, com sua ambiguidade, tenta não causar reações entre os senadores republicanos, críticos a Zelaya, acusado de ser aliado de Chávez.

As medidas dos EUA ficaram muito aquém das adotadas por outros países e das que reivindicava Zelaya. Países, como Brasil, México e Chile, já declararam que não reconhecerão as eleições de novembro, caso Zelaya não seja restituído ao poder. Os EUA deixaram aberta a possibilidade para outros tipos de solução. A Casa Branca também não fez nenhuma condenação pública sobre supostos abusos dos direitos humanos em Honduras.

Os EUA também mantiveram os US$ 70 milhões em ajuda humanitária ao país. Em Tegucigalpa, Micheletti classificou como "pouco amistosa" a decisão dos EUA. "Lamentamos que um governo amigo tome a decisão de ir para o lado de Chávez", disse Rafael Ponce, assessor da presidência.


NOVAS SANÇÕES

Corte de ajuda - EUA suspenderam ajuda não-humanitária; país não divulgou valor cortado, mas fontes afirmam que pode ultrapassar os US$ 35 milhões

Reconhecimento - Casa Branca anunciou que não reconhecerá eleição presidencial organizada sob governo de facto

Denominação - Washington não classificou retirada de Zelaya do poder como ?golpe militar?; pela lei americana, se fizesse isso, governo teria de cortar todo o tipo de ajuda ao país

Vistos - Governo americano anunciou suspensão de visto de funcionários hondurenhos que apoiam Micheletti

Retaliação do Brasil - Itamaraty passará a exigir visto para entrada de hondurenhos no País.

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