O jornal O Globo do dia 19 de dezembro de 2008 publica a seguinte notícia sobre Tribunal Penal Internacional para Ruanda.
Genocida de Ruanda recebe prisão perpétua
Tribunal internacional condena Théoneste Bagosora, mentor do massacre que deixou 800 mil mortos em 1994
ARUSHA, Tanzânia. Numa decisão considerada por promotores como a mais importante desde o julgamento de líderes da Alemanha nazista em Nuremberg, em 1945 e 1946, o Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPI-R) condenou ontem à prisão perpétua Théoneste Bagosora, mentor do genocídio que deixou 800 mil mortos no país em 1994, durante cerca de cem dias de massacre.
O tribunal, baseado em Arusha, na Tanzânia, condenou o ex-coronel, hoje com 67 anos, por coordenar uma complexa conspiração que levou ao genocídio. Na sentença, ele é acusado de passar anos organizando e armando a milícia Interahamwe, da etnia hutu, para o assassinato de integrantes da minoria tutsi e de hutus moderados.
Bagosora, que sofreu 11 acusações, também foi condenado por ter ordenado a morte de políticos, como o ex-primeiro-ministro moderado Agathe Uwilingiyimina, e de dez belgas integrantes da força de paz da ONU, num movimento que acabou levando à saída da organização do país.
Cécile Aptel, membro sênior da Promotoria do TPI-R, ressaltou que o resultado serve de exemplo para outros criminosos de guerra. Para Barbara Mulvaney, outra promotora, a decisão foi histórica.
- Foi um dos veredictos mais importantes de todos os tempos, pois o conjunto do trabalho, em documentos transcrições, em vídeos, fornece detalhes do planejamento e da organização do genocídio - disse. - Também finalmente encerra as alegações de gente que ainda nega que houve genocídio ou nega que tenha sido planejado. Ninguém mais pode afirmar isso.
Ex-coronel coordenou distribuição de armas e facões
É a primeira vez que o tribunal de Ruanda condena alguém por organizar os assassinatos. Junto com Bagosora, os ex-comandantes militares Anatole Nsegiyumva e Alloys Ntabakuze também foram condenados à prisão perpétua por crimes contra a Humanidade e crimes de guerra. O cunhado do ex-presidente Juvenal Habyarimana recebeu 20 anos de prisão por seu envolvimento no genocídio.
Segundo a acusação, Bagosora assumiu a chefia política e militar de Ruanda depois que o avião do presidente Juvenal Habyarimana, um hutu, foi derrubado sobre o aeroporto de Kigali em abril de 1994, deflagrando o conflito numa onda de violência que se espalhou da capital para o resto do país e só terminou três meses depois.
Bagosora foi acusado de ter organizado a distribuição de armas e facões usados durante o genocídio. Soldados e policiais encorajavam a população civil a participar. Em alguns casos, civis hutus eram obrigados por militares a matar vizinhos tutsi, em troca de dinheiro ou vantagens.
Segundo a ata da acusação, o ex-coronel disse, em 1993, ao se retirar das negociações com líderes tutsi, organizadas na Tanzânia, que voltaria a seu país para "preparar o apocalipse", numa referência ao genocídio. Bagosora, que alegou inocência, nega ter pronunciado as palavras e vai apelar da decisão, segundo seu advogado.
O ex-coronel está preso desde 1996, quando foi detido em Camarões, para onde fugiu depois do massacre.
Rivalidade de tutsis e hutus remonta à época colonial
A luta entre tutsis e hutus na África Central vinha ocorrendo desde que a Bélgica, ex-metrópole, perdeu o controle da região, décadas antes do genocídio.
Os dois grupos étnicos são parecidos - falam a mesma língua, vivem nas mesmas áreas e seguem as mesmas tradições. No entanto, tutsis são geralmente mais magros e mais altos do que os hutus.
Os belgas consideravam os hutus inferiores aos tutsis, grupo que por 20 anos desfrutou de melhores empregos e educação. O ressentimento cresceu ao longo do tempo. Quando a Bélgica se retirou do país e Ruanda foi declarada independente, em 1962, os hutus voltaram a ter poder e, nos anos subseqüentes, os tutsis foram retratados como bode-expiatório de praticamente todas as crises por que passou o país.
Os holofotes trazidos por Hollywood
O genocídio que marcou um dos capítulos mais sangrentos da história africana tornou-se mais trágico por causa do descaso com que foi acompanhado pela comunidade internacional. A ONU se retirou depois da morte de capacetes azuis e o conflito só ganhou mais notoriedade graças a filmes como "Sometimes in April" e "Hotel Ruanda", com Don Cheadle, indicado a 3 Oscars. O longa é inspirado na história real de Paul Rusesabagina, gerente de hotel que abrigou mais de mil refugiados tutsis durante o massacre.
Na época do lançamento, o diretor, Terry George, alertou que apesar de jogar luz sobre o massacre, tragédias do gênero continuavam acontecendo e sendo tratadas com descaso em países como Congo e Sudão.
Genocida de Ruanda recebe prisão perpétua
Tribunal internacional condena Théoneste Bagosora, mentor do massacre que deixou 800 mil mortos em 1994
ARUSHA, Tanzânia. Numa decisão considerada por promotores como a mais importante desde o julgamento de líderes da Alemanha nazista em Nuremberg, em 1945 e 1946, o Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPI-R) condenou ontem à prisão perpétua Théoneste Bagosora, mentor do genocídio que deixou 800 mil mortos no país em 1994, durante cerca de cem dias de massacre.
O tribunal, baseado em Arusha, na Tanzânia, condenou o ex-coronel, hoje com 67 anos, por coordenar uma complexa conspiração que levou ao genocídio. Na sentença, ele é acusado de passar anos organizando e armando a milícia Interahamwe, da etnia hutu, para o assassinato de integrantes da minoria tutsi e de hutus moderados.
Bagosora, que sofreu 11 acusações, também foi condenado por ter ordenado a morte de políticos, como o ex-primeiro-ministro moderado Agathe Uwilingiyimina, e de dez belgas integrantes da força de paz da ONU, num movimento que acabou levando à saída da organização do país.
Cécile Aptel, membro sênior da Promotoria do TPI-R, ressaltou que o resultado serve de exemplo para outros criminosos de guerra. Para Barbara Mulvaney, outra promotora, a decisão foi histórica.
- Foi um dos veredictos mais importantes de todos os tempos, pois o conjunto do trabalho, em documentos transcrições, em vídeos, fornece detalhes do planejamento e da organização do genocídio - disse. - Também finalmente encerra as alegações de gente que ainda nega que houve genocídio ou nega que tenha sido planejado. Ninguém mais pode afirmar isso.
Ex-coronel coordenou distribuição de armas e facões
É a primeira vez que o tribunal de Ruanda condena alguém por organizar os assassinatos. Junto com Bagosora, os ex-comandantes militares Anatole Nsegiyumva e Alloys Ntabakuze também foram condenados à prisão perpétua por crimes contra a Humanidade e crimes de guerra. O cunhado do ex-presidente Juvenal Habyarimana recebeu 20 anos de prisão por seu envolvimento no genocídio.
Segundo a acusação, Bagosora assumiu a chefia política e militar de Ruanda depois que o avião do presidente Juvenal Habyarimana, um hutu, foi derrubado sobre o aeroporto de Kigali em abril de 1994, deflagrando o conflito numa onda de violência que se espalhou da capital para o resto do país e só terminou três meses depois.
Bagosora foi acusado de ter organizado a distribuição de armas e facões usados durante o genocídio. Soldados e policiais encorajavam a população civil a participar. Em alguns casos, civis hutus eram obrigados por militares a matar vizinhos tutsi, em troca de dinheiro ou vantagens.
Segundo a ata da acusação, o ex-coronel disse, em 1993, ao se retirar das negociações com líderes tutsi, organizadas na Tanzânia, que voltaria a seu país para "preparar o apocalipse", numa referência ao genocídio. Bagosora, que alegou inocência, nega ter pronunciado as palavras e vai apelar da decisão, segundo seu advogado.
O ex-coronel está preso desde 1996, quando foi detido em Camarões, para onde fugiu depois do massacre.
Rivalidade de tutsis e hutus remonta à época colonial
A luta entre tutsis e hutus na África Central vinha ocorrendo desde que a Bélgica, ex-metrópole, perdeu o controle da região, décadas antes do genocídio.
Os dois grupos étnicos são parecidos - falam a mesma língua, vivem nas mesmas áreas e seguem as mesmas tradições. No entanto, tutsis são geralmente mais magros e mais altos do que os hutus.
Os belgas consideravam os hutus inferiores aos tutsis, grupo que por 20 anos desfrutou de melhores empregos e educação. O ressentimento cresceu ao longo do tempo. Quando a Bélgica se retirou do país e Ruanda foi declarada independente, em 1962, os hutus voltaram a ter poder e, nos anos subseqüentes, os tutsis foram retratados como bode-expiatório de praticamente todas as crises por que passou o país.
Os holofotes trazidos por Hollywood
O genocídio que marcou um dos capítulos mais sangrentos da história africana tornou-se mais trágico por causa do descaso com que foi acompanhado pela comunidade internacional. A ONU se retirou depois da morte de capacetes azuis e o conflito só ganhou mais notoriedade graças a filmes como "Sometimes in April" e "Hotel Ruanda", com Don Cheadle, indicado a 3 Oscars. O longa é inspirado na história real de Paul Rusesabagina, gerente de hotel que abrigou mais de mil refugiados tutsis durante o massacre.
Na época do lançamento, o diretor, Terry George, alertou que apesar de jogar luz sobre o massacre, tragédias do gênero continuavam acontecendo e sendo tratadas com descaso em países como Congo e Sudão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário