O jornal O Estado de São Paulo, do dia 9 de dezembro de 2008, publicou a seguinte matéria sobre os 25 anos da democracia argentina.
Imatura, democracia argentina faz 25 anos
Ariel Palacios
País comemora fim da ditadura, mas instituições ainda patinam
A Argentina completa na quinta-feira 25 anos de redemocratização. O ciclo - iniciado com a posse do presidente civil, Raúl Alfonsín, em 10 de dezembro de 1983 - pôs fim a uma das mais violentas ditaduras militares da América Latina, responsável pela tortura e morte de mais de 30 mil civis, além do seqüestro de 500 bebês.
"Com a democracia, come-se, educa-se e cura-se", disse Alfonsín em sua posse. Tanto tempo depois, entretanto, a promessa, ainda está longe de ser cumprida. O país convive com a má nutrição em diversas províncias, especialmente no norte. A qualidade da educação estancou e começa a ficar defasada em comparação com os países vizinhos. O sistema de saúde pública também entrou em profunda decadência.
Embora os argentinos tenham sido os pioneiros no restabelecimento da democracia - o Uruguai e o Brasil o fizeram em 1985 e o Chile em 1989, juntamente com o Paraguai -, o país não é necessariamente conhecido pelo vigor de suas instituições democráticas, tendo sido abalado por quatro levantes militares.
Além disso, só dois presidentes eleitos completaram seus mandatos (Carlos Menem e Néstor Kirchner) e o país teve, nesse período, quatro presidentes provisórios.
"Ser mais velho, não significa ser adulto", disse a socióloga e analista de opinião pública, Graciela Römer. Apesar da imaturidade democrática, ela considera que, na Argentina, "quando ocorre uma crise, as pessoas já não apelam mais à intervenção dos militares". "A democracia é vista como a melhor forma de vida política, o que revela que a democracia emplacou como algo natural no país."
MILITARES
Uma das heranças mais cruéis da ditadura - as violações de direitos humanos - tem sido também uma das mais difíceis de serem superadas na Argentina atual.
"A Justiça poderia ter feito mais sobre os crimes cometidos pelos militares", disse ao Estado a psicanalista e escritora Laura Bonaparte, de 83 anos, uma das líderes das Mães da Praça de Maio - Linha Fundadora.
Laura - que teve quase toda a sua família assassinada pelos militares - disse que "a democracia é respeitada, não há fraudes ou acontecimentos terríveis como na ditadura". "No entanto, falta brilho para a democracia argentina, que não está em sintonia com os tempos modernos."
Para o analista político Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nova Maioria, as Forças Armadas argentinas atualmente possuem um terço do número de soldados com os quais contava 25 anos atrás. O orçamento destinado aos militares encolheu para um quarto do que era no primeiro ano de redemocratização, em 1983.
"A Argentina foi o país da região onde os militares tiveram maior influência política durante o século 20, mas as Forças Armadas argentinas hoje são as que menos influência possuem", disse Fraga ao Estado. "Foram as Forças Armadas que mais encolheram nas últimas décadas e as únicas que eliminaram o serviço militar obrigatório - com exceção do Uruguai, que nunca teve."
Os militares também foram afetados pela derrota na Guerra das Malvinas (1982), que precipitou o fim da ditadura, além das graves violações aos direitos humanos.
Em 2006, o governo Kirchner revogou as "Leis do Perdão" aos militares, o que permitiu o julgamento de dezenas de pessoas envolvidas nos crimes da ditadura.
Segundo o Centro de Estudos Sociais e Legais (Cels), um total de 1.149 pessoas - entre eles militares, policiais e civis - estão envolvidas nos processos vinculados ao terrorismo de Estado.
No entanto, somente 40% dessas pessoas está sob processo formal. Entre os ex-torturadores processados, 360 estão em prisão preventiva. Nos últimos dois anos, somente 36 foram condenados.
Imatura, democracia argentina faz 25 anos
Ariel Palacios
País comemora fim da ditadura, mas instituições ainda patinam
A Argentina completa na quinta-feira 25 anos de redemocratização. O ciclo - iniciado com a posse do presidente civil, Raúl Alfonsín, em 10 de dezembro de 1983 - pôs fim a uma das mais violentas ditaduras militares da América Latina, responsável pela tortura e morte de mais de 30 mil civis, além do seqüestro de 500 bebês.
"Com a democracia, come-se, educa-se e cura-se", disse Alfonsín em sua posse. Tanto tempo depois, entretanto, a promessa, ainda está longe de ser cumprida. O país convive com a má nutrição em diversas províncias, especialmente no norte. A qualidade da educação estancou e começa a ficar defasada em comparação com os países vizinhos. O sistema de saúde pública também entrou em profunda decadência.
Embora os argentinos tenham sido os pioneiros no restabelecimento da democracia - o Uruguai e o Brasil o fizeram em 1985 e o Chile em 1989, juntamente com o Paraguai -, o país não é necessariamente conhecido pelo vigor de suas instituições democráticas, tendo sido abalado por quatro levantes militares.
Além disso, só dois presidentes eleitos completaram seus mandatos (Carlos Menem e Néstor Kirchner) e o país teve, nesse período, quatro presidentes provisórios.
"Ser mais velho, não significa ser adulto", disse a socióloga e analista de opinião pública, Graciela Römer. Apesar da imaturidade democrática, ela considera que, na Argentina, "quando ocorre uma crise, as pessoas já não apelam mais à intervenção dos militares". "A democracia é vista como a melhor forma de vida política, o que revela que a democracia emplacou como algo natural no país."
MILITARES
Uma das heranças mais cruéis da ditadura - as violações de direitos humanos - tem sido também uma das mais difíceis de serem superadas na Argentina atual.
"A Justiça poderia ter feito mais sobre os crimes cometidos pelos militares", disse ao Estado a psicanalista e escritora Laura Bonaparte, de 83 anos, uma das líderes das Mães da Praça de Maio - Linha Fundadora.
Laura - que teve quase toda a sua família assassinada pelos militares - disse que "a democracia é respeitada, não há fraudes ou acontecimentos terríveis como na ditadura". "No entanto, falta brilho para a democracia argentina, que não está em sintonia com os tempos modernos."
Para o analista político Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nova Maioria, as Forças Armadas argentinas atualmente possuem um terço do número de soldados com os quais contava 25 anos atrás. O orçamento destinado aos militares encolheu para um quarto do que era no primeiro ano de redemocratização, em 1983.
"A Argentina foi o país da região onde os militares tiveram maior influência política durante o século 20, mas as Forças Armadas argentinas hoje são as que menos influência possuem", disse Fraga ao Estado. "Foram as Forças Armadas que mais encolheram nas últimas décadas e as únicas que eliminaram o serviço militar obrigatório - com exceção do Uruguai, que nunca teve."
Os militares também foram afetados pela derrota na Guerra das Malvinas (1982), que precipitou o fim da ditadura, além das graves violações aos direitos humanos.
Em 2006, o governo Kirchner revogou as "Leis do Perdão" aos militares, o que permitiu o julgamento de dezenas de pessoas envolvidas nos crimes da ditadura.
Segundo o Centro de Estudos Sociais e Legais (Cels), um total de 1.149 pessoas - entre eles militares, policiais e civis - estão envolvidas nos processos vinculados ao terrorismo de Estado.
No entanto, somente 40% dessas pessoas está sob processo formal. Entre os ex-torturadores processados, 360 estão em prisão preventiva. Nos últimos dois anos, somente 36 foram condenados.
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