O Estado de S. Paulo
13/07/2009
Jamil Chade
Europeus queriam apurar crimes de guerra no Sri Lanka
Outra decisão polêmica foi o voto brasileiro em relação ao Sri Lanka. Depois de 30 anos de conflitos, o Sri Lanka anunciou o fim da guerra e a aniquilação do grupo Tigres de Libertação do Eelam Tamil (LTTE), mas a ONU alertou que os crimes cometidos pelo governo e pela guerrilha precisavam ser investigados.
O tema foi levado à ONU pelos europeus e apoiado de forma velada pela cúpula da entidade, mas o Brasil votou a favor de uma resolução que poupou críticas ao governo do Sri Lanka e evitou a investigação sobre crimes de guerra no país asiático. "Foi uma fracasso", diz a ex-diretora de comunicações da ONU, Marie Hueze.
O Brasil alegou que a comunidade internacional precisava dar "uma chance" ao Sri Lanka. O embaixador do país asiático, Dayan Jayatilleka, disse que o Brasil estava se mostrando um "país com uma atitude responsável." A resolução pedindo a investigação internacional não foi aprovada e, segundo a ONU, a população civil continua sofrendo. "Nada mudou no Sri Lanka", diz o encarregado máximo dos trabalhos humanitários da ONU, John Holmes.
A posição brasileira foi duramente atacada pelas entidades que representam as vítimas no Sri Lanka. "O Brasil é um país democrático e esperávamos que tomasse uma posição de defender as vítimas", afirma Arjunan Ethirveerasingam, do Centro Tamil por Direitos Humanos. "Ficamos muito decepcionados com a escolha brasileira", diz a advogada e ativista da etnia tamil Harini Sivalingan. Entidades como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch também apresentaram suas queixas.
Para um alto funcionário de um dos principais países europeus, a posição brasileira "surpreende", considerando que no governo há pessoas que lutaram contra uma ditadura. Uma diplomata italiana questiona a aproximação de posições entre os países emergentes. Para ela, não se pode falar em alianças entre governos no campo dos direitos humanos, "a aliança precisa ser com as vítimas". Os comentários nos bastidores da diplomacia de um país escandinavo são de que o Brasil está misturando ambições políticas com direitos humanos.
Sobre a situação na República Democrática do Congo, o Brasil segue posição mais próxima ao continente. A Europa queria aprovar emendas que endureceriam a resolução e enviariam investigadores independentes, mas o Brasil não apoiou.
Há duas semanas, o Itamaraty voltou a chamar a atenção ao apoiar uma resolução para renovar o mandato de um especialista independente da ONU para monitorar a situação em Darfur. A decisão foi comemorada pelos governos europeus.
CRÍTICAS
Há dois anos, o Brasil havia optado pela abstenção em uma votação pedindo a condenação do governo do Sudão e foi alvo de críticas. O País chegou a intervir na elaboração da resolução, se colocando como uma "ponte" entre os interesses africanos e ocidentais. Dois anos depois, o presidente do Sudão, Omar Al Bashir, foi indiciado no Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra.
A diplomacia belga admite que a Europa tentou impor questões de direitos humanos na ONU sem consultar países emergentes e muitos se aproveitariam disso para "atacar o Ocidente" e fugir do tema principal, os direitos humanos.
Diplomatas brasileiros dizem que, quando uma votação não ocorre de forma imposta e é negociada apropriadamente, há espaço para um avanço dos direitos humanos.
13/07/2009
Jamil Chade
Europeus queriam apurar crimes de guerra no Sri Lanka
Outra decisão polêmica foi o voto brasileiro em relação ao Sri Lanka. Depois de 30 anos de conflitos, o Sri Lanka anunciou o fim da guerra e a aniquilação do grupo Tigres de Libertação do Eelam Tamil (LTTE), mas a ONU alertou que os crimes cometidos pelo governo e pela guerrilha precisavam ser investigados.
O tema foi levado à ONU pelos europeus e apoiado de forma velada pela cúpula da entidade, mas o Brasil votou a favor de uma resolução que poupou críticas ao governo do Sri Lanka e evitou a investigação sobre crimes de guerra no país asiático. "Foi uma fracasso", diz a ex-diretora de comunicações da ONU, Marie Hueze.
O Brasil alegou que a comunidade internacional precisava dar "uma chance" ao Sri Lanka. O embaixador do país asiático, Dayan Jayatilleka, disse que o Brasil estava se mostrando um "país com uma atitude responsável." A resolução pedindo a investigação internacional não foi aprovada e, segundo a ONU, a população civil continua sofrendo. "Nada mudou no Sri Lanka", diz o encarregado máximo dos trabalhos humanitários da ONU, John Holmes.
A posição brasileira foi duramente atacada pelas entidades que representam as vítimas no Sri Lanka. "O Brasil é um país democrático e esperávamos que tomasse uma posição de defender as vítimas", afirma Arjunan Ethirveerasingam, do Centro Tamil por Direitos Humanos. "Ficamos muito decepcionados com a escolha brasileira", diz a advogada e ativista da etnia tamil Harini Sivalingan. Entidades como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch também apresentaram suas queixas.
Para um alto funcionário de um dos principais países europeus, a posição brasileira "surpreende", considerando que no governo há pessoas que lutaram contra uma ditadura. Uma diplomata italiana questiona a aproximação de posições entre os países emergentes. Para ela, não se pode falar em alianças entre governos no campo dos direitos humanos, "a aliança precisa ser com as vítimas". Os comentários nos bastidores da diplomacia de um país escandinavo são de que o Brasil está misturando ambições políticas com direitos humanos.
Sobre a situação na República Democrática do Congo, o Brasil segue posição mais próxima ao continente. A Europa queria aprovar emendas que endureceriam a resolução e enviariam investigadores independentes, mas o Brasil não apoiou.
Há duas semanas, o Itamaraty voltou a chamar a atenção ao apoiar uma resolução para renovar o mandato de um especialista independente da ONU para monitorar a situação em Darfur. A decisão foi comemorada pelos governos europeus.
CRÍTICAS
Há dois anos, o Brasil havia optado pela abstenção em uma votação pedindo a condenação do governo do Sudão e foi alvo de críticas. O País chegou a intervir na elaboração da resolução, se colocando como uma "ponte" entre os interesses africanos e ocidentais. Dois anos depois, o presidente do Sudão, Omar Al Bashir, foi indiciado no Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra.
A diplomacia belga admite que a Europa tentou impor questões de direitos humanos na ONU sem consultar países emergentes e muitos se aproveitariam disso para "atacar o Ocidente" e fugir do tema principal, os direitos humanos.
Diplomatas brasileiros dizem que, quando uma votação não ocorre de forma imposta e é negociada apropriadamente, há espaço para um avanço dos direitos humanos.
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