Folha de S. Paulo
18/07/2009
Roberto Rodrigues
Os governos devem dar condições para que cresçam as instituições preocupadas com o bem-estar coletivo
QUANTO MAIS organizada for uma sociedade, tanto mais transparente ela será, tanto mais democrático será o regime. E a transparência é uma premissa fundamental para o funcionamento da democracia. Com essa condição, fica muito mais difícil que organismos do Estado produzam, por exemplo, atos secretos, escondidos da sociedade.
Portanto, governos democráticos sérios devem criar cada vez melhores condições para o crescimento de instituições capazes de contribuir efetivamente para a melhor organização social. Essa função vem ganhando importância nos tempos atuais por causa da lamentável perda de protagonismo das grandes instituições multilaterais.
A própria ONU, cuja missão essencial é garantir a paz, não vem conseguindo cumprir seu papel. Agora mesmo está às voltas com os experimentos bélicos da Coreia do Norte, mas talvez seu maior fracasso tenha sido não conseguir impedir a invasão do Iraque na era Bush. Sua similar continental, a OEA, também se atrapalhou toda com o recente episódio em Honduras.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) vem tentando, há mais de uma década, a implementação de programas que reduzam a fome no mundo, tendo estabelecido metas realistas para isso. No entanto, acaba de anunciar que o número global de famintos cresceu, e deve superar neste ano a cifra de 1 bilhão.
A OMC, desde 2001 empenhada numa rodada de negociações objetivando ampliar o comércio agrícola no mundo, o que ajudaria a melhorar a renda dos países mais pobres, reduzindo a fome de suas populações, não avança quase nada. E pior, nem sequer consegue que os países- -membros cumpram suas decisões em painéis específicos, como aquele em que o Brasil venceu contra os Estados Unidos nos subsídios ao algodão: condenados, os EUA continuam subsidiando e nada acontece.
Essa incapacidade -que se deve em parte à "soberania" de cada país, ao seu livre arbítrio- vai desmoralizando as organizações multilaterais, colocando em risco a paz universal, a democracia e o bem-estar dos povos. Tudo isso reforça a necessidade de as sociedades se articularem mais e melhor, para se autogestionarem com transparência e contribuírem para o aperfeiçoamento das instituições.
É nesse cenário que o cooperativismo vem ganhando espaços crescentes no mundo desenvolvido. O cooperativismo é o braço econômico da organização da sociedade, assim como o sindicalismo é seu braço político, secundado pelo associativismo e pelas ONGs. Cooperativismo é uma doutrina regida por princípios e valores universalmente aceitos, e associa 800 milhões de pessoas em todos os países. Se a cada cooperado correspondessem três agregados, o número de cidadãos ligados ao movimento chegaria à metade da população da Terra. É um contingente monumental em defesa da paz e da democracia.
Aliás, seus princípios são os mesmos dos governos sérios: justiça social com distribuição de riqueza, pleno emprego, segurança alimentar, sustentabilidade produtiva, segurança jurídica, enfim, os alicerces da democracia.
O Brasil ainda engatinha no setor, com 7 milhões de cooperados, ou 15% da população, contados os agregados. Muito menos que o mundo todo. Mas vamos crescendo e bem, sob a batuta da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), contribuindo de forma efetiva para o desenvolvimento sustentável do país.
ROBERTO RODRIGUES, 66, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
18/07/2009
Roberto Rodrigues
Os governos devem dar condições para que cresçam as instituições preocupadas com o bem-estar coletivo
QUANTO MAIS organizada for uma sociedade, tanto mais transparente ela será, tanto mais democrático será o regime. E a transparência é uma premissa fundamental para o funcionamento da democracia. Com essa condição, fica muito mais difícil que organismos do Estado produzam, por exemplo, atos secretos, escondidos da sociedade.
Portanto, governos democráticos sérios devem criar cada vez melhores condições para o crescimento de instituições capazes de contribuir efetivamente para a melhor organização social. Essa função vem ganhando importância nos tempos atuais por causa da lamentável perda de protagonismo das grandes instituições multilaterais.
A própria ONU, cuja missão essencial é garantir a paz, não vem conseguindo cumprir seu papel. Agora mesmo está às voltas com os experimentos bélicos da Coreia do Norte, mas talvez seu maior fracasso tenha sido não conseguir impedir a invasão do Iraque na era Bush. Sua similar continental, a OEA, também se atrapalhou toda com o recente episódio em Honduras.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) vem tentando, há mais de uma década, a implementação de programas que reduzam a fome no mundo, tendo estabelecido metas realistas para isso. No entanto, acaba de anunciar que o número global de famintos cresceu, e deve superar neste ano a cifra de 1 bilhão.
A OMC, desde 2001 empenhada numa rodada de negociações objetivando ampliar o comércio agrícola no mundo, o que ajudaria a melhorar a renda dos países mais pobres, reduzindo a fome de suas populações, não avança quase nada. E pior, nem sequer consegue que os países- -membros cumpram suas decisões em painéis específicos, como aquele em que o Brasil venceu contra os Estados Unidos nos subsídios ao algodão: condenados, os EUA continuam subsidiando e nada acontece.
Essa incapacidade -que se deve em parte à "soberania" de cada país, ao seu livre arbítrio- vai desmoralizando as organizações multilaterais, colocando em risco a paz universal, a democracia e o bem-estar dos povos. Tudo isso reforça a necessidade de as sociedades se articularem mais e melhor, para se autogestionarem com transparência e contribuírem para o aperfeiçoamento das instituições.
É nesse cenário que o cooperativismo vem ganhando espaços crescentes no mundo desenvolvido. O cooperativismo é o braço econômico da organização da sociedade, assim como o sindicalismo é seu braço político, secundado pelo associativismo e pelas ONGs. Cooperativismo é uma doutrina regida por princípios e valores universalmente aceitos, e associa 800 milhões de pessoas em todos os países. Se a cada cooperado correspondessem três agregados, o número de cidadãos ligados ao movimento chegaria à metade da população da Terra. É um contingente monumental em defesa da paz e da democracia.
Aliás, seus princípios são os mesmos dos governos sérios: justiça social com distribuição de riqueza, pleno emprego, segurança alimentar, sustentabilidade produtiva, segurança jurídica, enfim, os alicerces da democracia.
O Brasil ainda engatinha no setor, com 7 milhões de cooperados, ou 15% da população, contados os agregados. Muito menos que o mundo todo. Mas vamos crescendo e bem, sob a batuta da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), contribuindo de forma efetiva para o desenvolvimento sustentável do país.
ROBERTO RODRIGUES, 66, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
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