O Globo
12/07/2009
Catarina Alencastro e Eliane Oliveria
Embaixador da França defende soberania do Brasil e reitera apoio ao país no Conselho de Segurança da ONU
Catarina Alencastro e Eliane Oliveira
ENTREVISTA - Antoine Pouillieute
BRASÍLIA. Em meio a pressões pela internacionalização da Amazônia, o Brasil tem um aliado de peso: a França. Em entrevista ao GLOBO, o embaixador francês Antoine Pouillieute afirma que a avaliação francesa é que “a Amazônia não é um assunto mundial”. Pouillieute reafirmou o apoio de seu país à candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Além do apoio da França na questão da Amazônia —ponto da política externa em que o Brasil é mais vulnerável —, os presidentes dos dois países se uniram semana passada, com uma declaração conjunta defendendo maior participação das nações emergentes nas grandes decisões mundiais.
O GLOBO - Os presidentes Lula e Sarkozy apresentaram declaração conjunta em favor de mais participação dos emergentes...
ANTOINE POUILLIEUTE: Eles disseram que a globalização precisa de um diálogo multilateral.A globalização não é apenas de cifras, de conhecimento, de exportação, é também que o meu progresso não se faça em detrimento do seu progresso social, e que o seu progresso social não se faça em detrimento do meu progresso econômico.
- Sobre mudança climática, os dois também concordam?
POUILLIEUTE: Para os dois, esse tema está no alto da agenda de responsabilidade. As respostas (dos dois países), hoje, não são as mesmas, no entanto. O presidente Lula tem 64 anos.Sarkozy, 54. São da mesma geração.É esta geração a responsável.Não quer ver uma mudança climática dramática para suas crianças, ou vamos continuar a fazer como a China e os Estados Unidos, etc, e faremos besteira. Nós, na Europa, pensamos que é preciso buscar objetivos quantitativos. O Brasil pensa que essas metas são para os grandes poluidores — os países industrializados —, e os países pobres e emergentes não podem frear seu desenvolvimento.
- E a Amazônia?
POUILLIEUTE: A França estima, ao contrário de muitos países, que a Amazônia não é um assunto mundial, mas que a Amazônia brasileira é brasileira e que a Amazônia da Guiana é francesa. E talvez seja porque somos de países vizinhos na Amazônia que estamos mais próximos que outros países com relação a esse tema.
- Como a França vê a decisão do Brasil de regularizar terras públicas na Amazônia?
POUILLIEUTE: Como estrangeiro e tendo acabado de dizer que a Amazônia brasileira é do Brasil, não posso dizer se a decisão foi boa ou má. Digo que é uma decisão soberana, que faz sentido. É uma política que permite que 25 milhões de pessoas na Amazônia vivam como os outros.É a população do Canadá.
Diga ao Canadá: “Vocês são um museu natural”. Não vai dar certo.É preciso um modelo de desenvolvimento na Amazônia. Mas, para que esse modelo funcione, é preciso que as pessoas tenham confiança no fato de que a floresta em pé vale mais que a floresta derrubada.
- A França continua apoiando a candidatura do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU?
POUILLIEUTE: A França já defendia o Brasil no Conselho em 2003. Disseram na época: “Vocês são malucos, não tem cabimento”. Há pelo menos seis anos ouvimos críticas por esse apoio.
- E a parceria de defesa fechada pelos dois países?
POUILLIEUTE: Em se tratando de parceria estratégica, há duas soluções: ou você faz uma grande declaração geral, ou um plano de ação preciso. Optamos pelo plano de ação preciso. A França disse: o Brasil é um grande país e deve ter, então, os equipamentos de um grande país. Propusemos o que a França faz para si mesma. Temos uma política de defesa independente, e propusemos ao Brasil os equipamentos que são os nossos, o que se aplica a nós. Não estamos propondo que vocês comprem algo que fabricamos, mas compartilhem algo que utilizamos. No Brasil há 30.000 km de vias férreas. A França é 17 vezes menor que o Brasil e tem 30.000 km de vias férreas. O que a gente propõe? O TGV. Funciona para nós.
- São investimentos altos...
POUILLIEUTE: Vocês são a oitava economia mundial. Vocês são o Brasil. Se vocês quiserem fazer esse esforço de infraestrutura pública, vocês podem. O que é o PAC, se não justamente um esforço de infraestrutura pública? Nossa parceria estratégica é propor ao Brasil a experiência que teve sucesso na França. O presidente do Parlamento francês veio recentemente ao Brasil para dizer que o governo francês está disposto a fazer a transferência de tecnologia. O Congresso francês também: base majoritária e oposição. Quando a França diz sim, é sim uma única vez, e de uma vez por todas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário