quarta-feira, 15 de julho de 2009

Democratas à caça de Bush

O Globo

15/07/2009

Congresso aumenta pressão para Obama ordenar investigação de abusos na guerra ao terror

Gilberto Scofield Jr.
Novas denúncias de planos secretos da CIA contra a alQaeda na guerra ao terror, além dos recentes indícios de que o ex-vice-presidente Dick Cheney escondeu do Congresso programas antiterroristas, aumentaram as pressões sobre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o procuradorgeral Eric Holder para que iniciem investigações sobre o governo de George W. Bush. Ontem mesmo, a Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes — dominada pelos democratas — pediu à CIA que entregue documentos sobre os planos para assassinar líderes da alQaeda, conforme revelou o jornal “The New York Times”.

Um dia antes, a presidente da Comissão de Inteligência do Senado, a senadora democrata Dianne Feinstein, havia dito que a decisão de Cheney de não comunicar ao Congresso os programas contraterroristas da CIA era “um grande probletortuma” e que o caso precisava ser investigado.

— Isto deveria ter sido comunicado ao Congresso. Nós deveríamos ter sido informados antes de um programa tão delicado — ressaltou Feinstein.

Recentemente, Obama concordou em investigar novamente o assassinato de prisioneiros talibãs no Afeganistão, em 2001, por forças locais aliadas dos EUA, mas muitos democratas — apoiados por organizações de defesa dos direitos humanos — acham que a iniciativa é tímida diante da quantidade de irregularidades na guerra contra o terror empreendida por Bush e sua equipe.

Destruição de fitas da CIA sob suspeita

O mais importante passo nesta direção pode estar prestes a ser dado pelo procurador-geral Eric Holder.

Segundo assessores do Departamento de Justiça, ele estaria pronto a nomear um investigador encarregado de destrinchar o uso de tortura em interrogatórios de prisioneiros durante o governo Bush. O portavoz do Departamento, Matthew Miller, negou que a decisão tenha sido tomada.

Ainda assim, velhos amigos de Holder, como os senadores democratas Sheldon Whitehouse e Richard Durbin, vêm pedindo publicamente ao procurador ao menos um pronunciamento sobre os assessores jurídicos de Bush, que afirmaram que métodos de tortura, como as polêmicas simulações de afogamento (waterboarding), eram legais.

Tanta pressão fez com que Holder pedisse ao Escritório de Ética do Departamento de Justiça que analise os pareceres destes funcionários que deram aval a brutais métodos de tortura.

Mas não é só isso. Já existe uma investigação na Justiça — num processo a cargo do procurador John Durham — sobre a destruição, por parte da CIA, de fitas que teriam registrado a aplicação de tortura em interrogatórios de prisioneiros de guerra. Ex-funcionários da agência de inteligência já foram chamados para depor, e há grandes chances de o caso terminar num processo nos tribunais

Presidente teme por clima político

Até agora, o presidente Obama não estimulou qualquer frente de investigação sobre o governo Bush porque sempre temeu um clima de enfrentamento entre democratas e republicanos, capaz de prejudicar a aprovação de seus próprios programas de governo, como a reforma do sistema de saúde, ou os projetos para o setor de energia e aquecimento global.

Mas esta relutância tem sido afrontada pelos fatos. Afinal, foi o próprio Obama que, em entrevista à rede de TV CNN, admitiu que o assassinato sem razão de presos talibãs no Afeganistão, em 2001, era um fato grave demais para ser ignorado: — Se parece que nossa conduta, de alguma forma, violou os códigos de conduta em guerras, então acho que devemos saber mais sobre o que de fato ocorreu — admitiu Obama.

Em entrevista à rede de TV conservadora Fox News, o senador republicano John Cornyn afirmou que investigar estratégias de inteligência do governo Bush era algo “de alto risco”: — Se reduzir a capacidade de nosso pessoal de inteligência conseguir informações que protejam os EUA, poderá haver consequências desastrosas — alertou ele, defendendo os métodos do governo que apoiou, para lembrar, em tom de ameaça velada, que uma reação republicana pode ser esperada.

— A iniciativa cria uma tendência sombria, e haverá uma grande disposição de um futuro governo republicano investigar o antigo governo Obama.

Nenhum comentário: